Os preços baixos do Jumbo são "um trabalho de formiguinha"

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Vinda há cinco anos da indústria (Gillette), para a nova Auchan

Produção, com a missão de criar marcas próprias Solange Farinha, a atual

diretora de marketing do Jumbo, explica que o título de cadeia mais

barata, pela Deco, foi o resultado de "uma corrida de fundo". Para tal

foi preciso apostar em produtos para todas as necessidades,

retirando-lhes depois todos custos de produção e agregados à operação de

distribuição.

O

que pesou para o Jumbo ser considerado a cadeia mais barata do país

mais um ano? Em 2011 foi a loja de Setúbal, agora o Dolce Vita.

Somos

sempre a loja mais barata num raio de 25 quilómetros - distância

máxima que as pessoas se deslocam para ir a uma loja em particular. O

Jumbo de Setúbal, em termos absolutos, foi considerada a loja com a

cesta mais barata durante dois anos. Nos últimos quatro, o título

tocou-nos três vezes. Não é por acaso.

Mas os outros operadores também prometem preços baixos?

É

um trabalho de formiguinha, que se faz todos os dias e de três formas:

através da oferta, em que é preciso ter produtos que respondam a todas

as necessidades do cliente, ou seja, do mais básico ao mais sofisticado.

Depois, o produto tem de ser mais barato do que o produto comparável

nas lojas concorrentes. Isso faz-se monitorizando entre 40 a 50 mil

preços todas as semanas em múltiplas cadeias. Em terceiro, a lógica

low-cost, em que despimos ao máximo o produto dos custos próprios numa

operação de distribuição, e que podem ir dos gastos de papel,

eletricidade ou de viagens - mesmo em intercontinentais, viajo em

económica e fico num hotel de três estrelas. Até porque esta é uma

empresa onde sou acionista.

Acionista?

Sim,

no grupo Auchan, os colaboradores efetivos podem adquirir ações da

empresa, beneficiando com a sua valorização - 99,05% destes

colaboradores são donos da empresa.

Isto ganha mais força quando as famílias perdem poder de compra?

O

país e os portugueses vivem uma situação fracamente difícil e a nossa

estratégia faz mais sentido do que nunca. Curiosamente, quando mudámos

de agência de publicidade pedi-lhe uma proposta de comunicação que

pudesse viver durante três anos. Eles assustaram-se, mas eu digo que não

fazemos uma corrida de curta distância, mas de fundo, e relevante, como

há 50 anos, quando o Sr.Gérard Mulliez abriu o primeiro supermercado em

França.

Daí a campanha de descontos 25 dias Jumbo. Porquê 25 dias e não o resto do mês?

Esta

é uma campanha emblemática em todo o mundo Auchan. É feita em Portugal,

Espanha, França, Rússia, China, Roménia, Hungria, Ucrânia... A proposta

aos clientes é de lhes proporcionar produtos a preços completamente

surpreendentes.

Em que ordem de valor?

Temos

slots (mini-campanhas) de curta-duração de tudo: desde as galochas, que

custam 40 euros e as vedemos a 11,99 euros - que promovemos junto de

bloggers-, à panela de pressão XPTO, que custa 60 euros, e é vendida por

30. Em Portugal, somos o único hipermercado que faz uma proposta

one-stop-shop - para-se aqui dentro e aqui dentro há tudo. Desde a

alimentação, à dietética, desporto, roupa... eu visto-me aqui! Os outros

criaram marcas tão fortes que começaram a viver por si.

Mas o Jumbo também tem lojas de marca, caso da Box, 29.

É

o espaço de produtos de tecnologia e equipamentos elétricos de lar do

Jumbo e não uma marca isolada, tal como os 24 spaços de Lazer e

Bem-estar, 7 Óticas e uma loja Natureza são do Jumbo. Além de que temos

um programa interno (Creative Attitude) que procura, junto dos

colaboradores, ideais que vão da pequena inovação a algo mais

disruptivo, e que pode dar negócio novo.

Mas fecharam o negócio de Santarém...

Quando

a falta de resultados económicos nessa loja começou a comprometer as

outras 32 unidades [22 Jumbo e 10 Pão de açúcar], fechámos, ficando com a

sensação que perdemos. Mas com muito orgulho, porque todos os

colaboradores se predispuseram a ir para outras lojas do grupo.

Reintegrar mais de 100 pessoas foi um esforço, mas também um ato de

respeito.

De que forma podem os produtos de marca própria ajudar a cumprir a promessa de preço baixo?

Temos

um conjunto de soluções, que começam no espaço self-discount, para

satisfação das necessidades mais importantes da cesta básica de qualquer

família, em que se paga conteúdo e não a embalagem. Até aos produtos de

primeiro preço - Polegar e Pássaro. Estes, para irem para o mercado,

têm de ser testados organoletica ou quimicamente e, no mínimo, ter a

preferência igual ou superior à da marca líder na categoria. É preciso

garimpar muito.

Com que fornecedores?

Preferimos

sempre fornecedores de produtos a quem possamos passar as nossas

receitas e que sejam todas elaboradas com matérias-primas e mão de obra

portuguesa. Identificamos os potenciais parceiros para o fabrico e, se

passarem no screening da direção de qualidade, lança-se um concurso para

um conjunto de fornecedores mais aptos, com a tecnologia e o custo mais

baixo possíveis. Há quatro anos fomos das primeiras marcas da

distribuição a colocar nos nossos produtos o selo "Compro o que é

Nosso". E hoje, entre 70% a 80% do volume de negócio de produtos de

marca própria alimentar são feitos com produtos fabricados em Portugal.

O que mudou para chegar a tanto?

Antes

as pessoas iam menos vezes à loja e faziam cestas maiores, depois

começaram a ir mais vezes e mantinham as marcas habituais. A seguir

começaram a ver que, indo mais vezes, acabavam por gastar mais. Neste

momento, aumentou a frequência de compra e fazem escolhas muito mais

racionais em relação à marca, ainda que tenha alguns mimos. Ma houve uma

adoção tremenda dos produtos das nossas marcas: 23%, em valor, e 30% em

número de artigos, havendo categorias acima dos 50%. Havia categorias

com imensa resistência, caso dos produtos de higiene e beleza, agora com

grande procura, desde a maquilhagem, cremes corpo e cara, fraldas e

comida de bebé... áreas em que tem de haver confiança na marca.

E a gasolina, de que forma tem ajudará à estratégia do preço baixo?

Tem

um peso relevante no negócio (riso). Não é o nosso core business, mas

tendo os combustíveis um peso tão importante nos orçamentos familiares,

era óbvio que é uma área onde tínhamos de entrar [23 postos]. E o

combustível não é aditivado, nem com publicidade, o que nos permite ter a

melhor proposta de valor. E as pessoas reconhecem-no, sendo esta a

melhor publicidade.

Após 20 anos, o Jumbo mudou da BBDO para a McCann, porquê?

momentos que é preciso arejar. Para nós fez todo o sentido, queríamos

comunicar o posicionamento da marca de forma diferente. Convidamos a

BBDO a participar no concurso, eles próprios acharam que era importante

que houvesse renovação, e ganhou a McCann.

A quem pediram um plano a três anos. Em que consiste?

Daqui a um mês e meio saberemos.

E o investimento em marketing e media vai manter, cortar, ajustar?

ajustámos os nossos investimentos de marketing há cinco anos. Não nos

interessa competir em termos de sound bite, há quem grite muito. Nós

preferimos que o cliente partilhe a experiência satisfatória de compra

com os amigos e estes venham às nossas lojas. Com a campanha 25 dias

procuramos tocar uma audiência de 4 milhões de pessoas, com coberturas

na ordem dos 90%. É um enorme investimento. Se sairmos daquilo que é o

mercado da distribuição, o Jumbo continua a ser um grande anunciante.

Mas, se nos cingirmos ao mercado da distribuição, nos primeiros lugares

do ranking está um grande [player] e depois outros, muito mais abaixo,

porque desinvestiram. Parece que estão a tornar-se parecidos connosco.

Porque será? (riso)

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