Partir o nariz ao chefe não é maneira de despedir-se

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Depois de anos a aturar colegas burros e chefes insensíveis aos

seus argumentos para melhorar a vida de todos e tornar o trabalho

mais organizado, acabou de ser convidado para o seu emprego de sonho.

A perspectiva de poder entrar no escritório no dia seguinte e

despejar o café no colo do colega que está convencido que você é

seu criado, dizer à colega do lado que não quer saber da

consistência dos dejectos dos seus gémeos de um ano e pegar em

todos os dossiers, pastas e processos e atirar com eles para a mesa

do chefe com a promessa de não mexer nem mais uma palha, mesmo que

isso signifique perder todos aqueles clientes pode parecer muito

tentadora. Mas acredite que, por muito que tenha sofrido, esse não é

o melhor caminho.

Resista à tentação, mesmo que lhe pareça que atirar tudo de

pantanas até é parca paga por aquilo que teve de passar ou que lhe

pareça perfeitamente aceitável simplesmente dizer "até amanhã"

e nunca mais aparecer (aposto que gostava de ser mosca só para ver

como o seu chefe ficaria perdido, sem ideia do que fazer a todos os

trabalhos que estavam nas suas mão... E o pânico ao receber, dois

ou três dias depois, a notícia da sua demissão por carta).

Controle-se. Afinal, nunca se sabe aonde o seu caminho

profissional vai dar e com quem ainda se vai cruzar. E se de repente

tem de voltar a trabalhar com um desses colegas ou um possível

empregador decide pedir referências sobre si no seu antigo emprego?

Se está a pensar deixar o emprego, Lembre-se que a forma como sai

pode ter tanta importância como o trabalho que vai assumir depois de

deixar a empresa onde está.

Mesmo que lhe custe, faça os possíveis por sair a bem e sem

rancores. Mas não exagere no discurso: agora que está de saída,

desfiar uma lista de todas as coisas que acredita que podiam melhorar

na empresa ou opinar profusamente sobre como a atitude da equipa

rapidamente vai acabar com os níveis de sucesso da companhia logo

depois de entregar a carta de demissão pode ser mal interpretado.

Afinal, se já não estará lá para viver aquelas mudanças para

melhor, o que é que pode interessar-lhe? Se tiver críticas

construtivas, faça-as, mas seja breve e objectivo. Não aja como se

tivesse acabado de comprar a empresa e se preparasse para implodir o

sistema.

Por outro lado, é boa ideia não deixar o chefe na mão. Quando

comunicar a sua saída, aproveite para indicar um ou dois colegas que

acredita que seriam bons a fazer o seu trabalho ou que estão por

dentro dos processos que terá de abandonar. E ofereça-se para,

durante os dias seguintes, ficar o tempo que for necessário para

ajudar quem vem substituí-lo a entrar no esquema.

Por último, não desligue completa e repentinamente de todas as

pessoas com quem trabalhou durante os últimos anos. Mantenha o

contacto, mesmo que a experiência não tenha sido boa. Lembre-se que

os seus colegas ainda podem vir a revelar-se ainda muito úteis no

futuro.

Chefe de redacção adjunta

Escreve à segunda-feira

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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