Com uma licenciatura em Engenharia Aeroespacial, pelo Instituto Superior Técnico, Nuno Pereira poderia ambicionar qualquer voo na sua carreira profissional. Acontece que, como muitos outros jovens-talento portugueses, em 2013 acabou por emigrar. Para conseguir melhores condições andou pelo Brasil, Alemanha, Singapura e Dubai. Foi neste último destino que o convenceram a juntar-se à McKinsey. Aqui descobriu o mundo financeiro, pelo qual se apaixonou profissionalmente, e conheceu também Alexis Suberville, associado da consultora, que antes já tinha passado pela Mastercard. Nuno Pereira trocaria entretanto a McKinsey pela Amazon, e Alex seguiu para uma startup, a Wagr, que acabou por ser vendida. Pouco tempo depois, corria o último trimestre de 2022, reencontram-se para formar a Paynest, que surge também como pretexto para Nuno regressar a Portugal. “Decidimos juntar-nos para ajudar a resolver um problema muito grande: não apenas o da eficiência financeira dos colaboradores das empresas, mas a dor de nós, portugueses, e não só, não sabermos gerir melhor as finanças pessoais. Este tema é o elefante na sala, como eu digo”, explica ao Dinheiro Vivo o CEO da startup que já elevou, em dois anos, para três milhões e meio de euros a sua ronda de financiamento “seed”, para startups na fase inicial.A Paynest é hoje uma plataforma que pretende integrar todas as soluções necessárias para gerir os temas financeiros dos trabalhadores. Oferece a possibilidade de resgatar o salário já trabalhado, subsídios, bónus e comissões. Permite toda a gestão digital de despesas e com reembolso instantâneo. Oferece coaching financeiro on-demand para qualquer tema que o trabalhador considere ter impacto na sua vida. Nuno conta que a Paynest pretende contribuir para o bem-estar financeiro dos trabalhadores, ajudando-os a evitar créditos de emergência para pagar despesas correntes, oferecendo flexibilidade para lidar com despesas inesperadas. E para isso, a literacia financeira é um pilar fundamental.A aplicação permite também submeter despesas corporativas com reembolso em tempo real - e com integração com a Autoridade Tributária, que permite não só poupar tempo como também evitar erros na reconciliação financeira. A Paynest elimina também processos manuais como o mapa de quilómetros - “Matámos o mapa de quilómetros em papel”, enfatiza o CEO - evitando as pouco práticas anotações em Excel e faturas em papel de todas as viagens dos colaboradores.E com este percurso, é inevitável perguntar-se o que leva alguém a arriscar sair da Amazon, ou de qualquer multinacional com a dimensão da McKinsey, para ser empreendedor? Nuno Pereira explica que a perceção que tem é de que “em Portugal, a conotação do termo risco é muito negativa”. E não é assim que ele vê as coisas. “Até acho que é assim por ignorância. O risco está lá, mas tem de ser gerido”, explica. “Acho que sempre procurei muito arriscar. Sair da zona de conforto ajudou-me a crescer muito mais.”Quando Nuno decidiu largar a Amazon e começar a Paynest do zero, a primeira coisa que fez foi falar com business angels que já conhecia. “Tive muito investimento vindo de fora, de pessoas que estavam comigo e que decidiram apostar naquilo que não era sequer uma ideia, era e’u quero fazer uma coisa’. Apostaram em mim. No início aposta-se muito na equipa, até mais do que na ideia, ou na faturação”, conta. Nuno decidiu apostar na Paynest inspirado pela visão de resolver problemas financeiros dos portugueses, reconhecendo que ele próprio sentiu dificuldades na gestão das suas finanças pessoais, e pela experiência que adquiriu no mercado internacional.Um dos pontos fortes deste negócio é o facto de não estar ancorado num só país. Como lida com a parte salarial, subsídios, despesas, não há aqui nada específico de Portugal. É como Nuno diz: “Um cliente trabalha sem fronteiras, nós trabalhamos com ele, sem fronteiras.” Em setembro, na sua última ronda de financiamento, a Paynest angariou um milhão de euros, junto das sociedades de capital de risco Lince Capital e BlueCrow Capital, para a incursão no mercado espanhol, com escritório em Barcelona. Um movimento que se junta, assim, à internacionalização em França, para onde se mudou Alex. “São mercados muito diferentes, mas acho que nestes países o tabu financeiro é um bocadinho menos preponderante do que em Portugal”, advoga o CEO. “Em Portugal, há muitas dores de eficiência das empresas e nós conseguimos ajudar.”Nas previsões de Nuno Pereira, a Paynest terá alcançado em 2024 uma receita anual recorrente entre 250 mil e 500 mil euros, ano em que cresceram cinco vezes em faturação. Para 2025, perspetiva-se uma evolução igual. São estes números que reforçam a confiança dos investidores e a trajetória de crescimento acelerado da startup. Segundo Nuno, o verdadeiro crescimento acontece fora da zona de conforto. E é aí que a Paynest quer estar, na liderança da transformação do bem-estar financeiro, sem fronteiras.