"Em Espanha e Portugal, dentro de 15 anos não haverá jornais impressos". A sentença foi dada por Pedro J. Ramírez, fundador e ex-diretor do jornal espanhol El Mundo.
O jornalista de 62 anos falava esta terça-feira na conferência "O Poder dos Media", organizada pela GCI, no âmbito do seu 20.º aniversário, na Universidade Nova de Lisboa.
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Bem disposto e cheio de humor, perante uma plateia composta maioritariamente de estudantes de comunicação social e jornalistas, o director durante 25 anos do diário espanhol aponta as razões da tão anunciada "morte do papel."
Desde logo, a revolução tecnológica, que está a impor uma mudança profunda ao nível dos hábitos de consumo de informação, que passa pela Internet, via PC, tablets e, no futuro, smartphones.
Com a fuga de leitores para estes meios e das receitas publicitárias para o Google ou Facebook, aos grupos de comunicação não resta senão cortar: no número de jornalistas e no budget para trabalhos de qualidade. "E quando isto acontece nos países do sul, em dificuldades, dá-se a tempestade perfeita", diz Pedro J. Ramírez.
Como prova desta tendência de degradação, J. Ramírez aponta: Nos EUA, em 2010, os jornais tiveram uma receita publicitária igual à de 1950, ou seja "um retrocesso de 60 anos."
E o pior é que a situação não vai melhorar, pelo menos, para a imprensa tradicional, pelo que Pedro J. Ramírez avisa que é preciso ter cuidado com as dependências dos poderes políticos e económicos instalados. Sob pena de sair a perder o leitor.
Para J.Ramírez ainda vale o que dizia George Orwell: "o jornalismo é publicar aquilo que
alguém não quer que se publique e o resto é publicidade."
Mas "o watch dog está narcotizado", diz o antigo diretor do El Mundo, referindo-se ao facto de muitos meios cederem a estas pressões.
Ramirez sabe do que fala. Em janeiro deste ano, o histórico diretor assumiu que o seu afastamento foi exigido pelos proprietários do jornal, em virtude de pressões dos "poderes", entendidos por todos como do governo de
Rajoy e da Casa Real.
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por pressões do "poder"
"Uma imprensa em dificuldades estimula a decepção, o cinismo, a desilusão dos leitores", insiste o jornalista, que, neste sentido, antevê o vencedor das próximas eleições Europeias: o partido da abstenção. Tudo, porque o cidadão "não se sente representado e implicado no papel democrático", frisa.
Pedro J. Ramírez tem 62 anos, nasceu em Logroño, é casado com a designer Agatha Ruiz de la Prada e foi diretor durante 25 aos do diário El Mundo até ao início deste ano.