Perfume português quer conquistar o mundo

A perfumaria e a cosmética made in Portugal já exporta mais de 167 milhões de euros; nos últimos cinco anos, cresceu 25%.
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São 117 empresas, dão emprego a 810 pessoas e vendem os seus artigos para mais de 130 mercados. A indústria de fabrico de perfumes, cosméticos e produtos de higiene exporta já 167,3 milhões de euros, com os mercados externos a crescerem 25%. Para Angola foram 25,8 milhões, para o Reino Unido 18,6 milhões e para Itália e EUA 2,6 milhões de euros. Mas o principal cliente dos artigos de beleza made in Portugal é a vizinha Espanha: 57 milhões de euros.

Não admira que a Expocosmética, que decorre este fim de semana na Exponor, em Matosinhos, tenha em especial atenção o mercado espanhol. O certame, onde é possível conhecer as últimas tendências do setor, assume-se como “o maior evento de beleza” da Península Ibérica. Entre as novidades, o espaço dedicado a marcas inspiradas no espírito vintage, como a Couto ou a Antiga Barbearia do Bairro.

A comemorar o seu centésimo aniversário, a Couto ficou famosa pelos icónicos Pasta Medicinal Couto e Restaurador Olex. Artigos que hoje fabrica num moderno laboratório, mas fiel à tradição e às receitas antigas. Passou por tempos difíceis, mas a aposta em novos produtos, lançados em 2016 e 2017, como o creme de mãos, o sabonete ou o creme hidratante, ajudou à revitalização da marca, propriedade de Alberto Gomes da Silva, sobrinho do fundador.

A sua mulher, Alexandra Gomes da Silva, foi a arquiteta da transformação. “A Couto precisava de um abanão e, sobretudo, de chegar aos jovens. Criámos mais produtos, que associámos à pasta, mantendo a identidade do design da embalagem original, só refrescada com a associação dos azulejos, símbolo da nossa portugalidade”, explica. Cláudia França, licenciada em Ciências Farmacêuticas e com mais de 20 anos de experiência na cosmética, desenvolve as fórmulas.

E novidades não faltam: na Expocoméstica serão apresentados os novos artigos para homem - creme de barbear, aftershave, champô e óleo acondicionador para a barba - e está já a ser preparado o lançamento de uma nova linha premium para festejar os 100 anos da Couto. Em maio, vai abrir a primeira loja própria, na Rua de Cedofeita, no Porto. Alexandra não esconde a vontade de replicar o projeto em Lisboa.

Nos últimos três anos, a empresa investiu cerca de meio milhão de euros, designadamente em novos equipamentos, mas a sua produção mantém-se semi-artesanal. Mais importante ainda, não usa qualquer ingrediente de origem animal, o que muito agrada à comunidade vegan, em crescimento. Dos 800 mil euros que faturou em 2017 - em 2018 espera crescer 50%, pelo menos -, 10% foram exportados, com destaque para França, Alemanha, Espanha, Canadá ou EUA.

Real Natura

Criada em 2010, a Real Natura, da Vialonga, também só usa matérias-primas 100% naturais, quer na sua linha capilar quer de bronzeadores. O projeto é de Cláudio e Ana Mónica Amaral, e surgiu da convicção do casal de que faltava em Portugal uma marca de cosmética de qualidade profissional para o consumidor final. Com preços adequados e a chancela de “produto natural, sustentável e cruelty free”.

As fórmulas são exclusivas e desenvolvidas em parceria com um engenheiro químico com mais de 20 anos de experiência na indústria cosmética alemã. A produção é subcontratada em laboratórios portugueses, a inovação é uma constante. “Fomos os primeiros a ter um bronzeador de urucum (uma planta tropical usada como corante natural) em Portugal. Hoje, vendemos quatro toneladas de urucum por ano”, diz Cláudio Amaral.

Com uma faturação de mais de dois milhões, em 2017, a Real Natura assegura já um quarto das suas vendas na exportação para 17 países. Espanha, França e Angola são os principais mercados externos, uma vez que, em Portugal, a marca está presente em 1250 pontos de venda. “Estamos em 95% do mercado nacional, não temos mais para onde crescer”, reconhece o empresário. A Real Natura é vendida em lojas da especialidade e salões de cabeleireiro e recusa estar na grande distribuição. “Podíamos faturar mais mas íamos prejudicar os nossos clientes que são, maioritariamente, empresas familiares”, diz. A aposta é na internacionalização crescente da marca.

Nortempresa

Pela primeira vez na Expocosmética estará também a Nortempresa Perfume Lab, a primeira fábrica em Portugal totalmente especializada na produção de perfumes com a mais alta tecnologia do mercado. Foi com o marketing olfativo que Daniel Vilaça se lançou no mundo dos aromas, trazendo para Portugal, em 2006, um conceito pioneiro, o do uso de fragrâncias para promover produtos. Em 2012, e já com alguns clientes a pedirem-lhe ambientadores e perfumes, o empresário investe num laboratório para desenvolver internamente as fórmulas, cuja produção industrial, depois, subcontrata. Um trabalho precedido de uma “intensa formação, nos EUA, com perfumistas conceituados” e que trabalhavam com marcas como a Clinique, a Aramis ou a Tommy Hilfiger.

No ano passado investiu mais de dois milhões numa fábrica totalmente digital, em Braga, onde dá emprego a 20 pessoas e tem uma capacidade produtiva de 20 mil perfumes ao dia. Em turnos, pode ser triplicada. “Temos uma capacidade de faturação a rondar os 15 a 20 milhões de euros”, diz o CEO da Nortempresa.

A empresa bracarense tem uma marca própria, que está a reformular. A Ydentik vai passar a Yntenzo, mas o princípio mantém-se: em cada uma das 50 lojas já existentes, em Portugal, Espanha, França, Irlanda, Suíça, Tunísia e México, cada cliente pode criar, in loco, a sua própria fragrância. A preços de fábrica, ou próximo disso, já que é eliminada toda a cadeia de distribuição.

Trabalha, também, em regime de subcontratação, o chamado private label, que assegura os 1,5 milhões de euros de faturação da Nortempresa. Eugénio Campos, Decénio, Papillon ou Seaside são algumas das marcas que a Nortempresa fornece neste segmento de oferta de soluções chave na mão. Que podem ser desenvolvidas com o recurso aos perfumistas da casa ou com a assinatura de perfumistas de renome, designadamente americanos. A grande aposta está nos mercados internacionais. “Queremos captar marcas de topo, como uma Hugo Boss ou uma Armani. Todas elas subcontratam a produção, porque não em Portugal, já que até estamos na moda?”, argumenta Daniel Vilaça. A presença recente numa feira em Itália deu já resultados, com encomendas efetivas de clientes finlandeses e sul-coreanos e pedidos de amostras e de desenvolvimento de fragrâncias para os EUA, Rússia e França. O objetivo da Nortempresa é fechar 2018 com vendas de cinco milhões, valor que espera duplicar até 2020.

Antiga Barbearia do Bairro

Com cem pontos de venda em Portugal e 50 na Europa, de França a Itália, passando por Inglaterra e Suécia, a Antiga Barbearia do Bairro é uma marca de nicho, que se inspirou na tradição das barbearias portuguesas para criar produtos de cuidado da barba, desde o creme, o aftershave, o sabonete até ao pincel, à taça de barbear e à navalha. “Mais do que cosmética, somos moda e arte no masculino” é o lema da marca, a primeira lançada pela 100 ml de Luís Pereira.

“Não somos fabricantes, mas todos os produtos são pensados e desenvolvido por nós, de raiz, com os nossos parceiros”, diz o empresário. Os sabonetes são feitos na Castelbel, por exemplo, os perfumes na I-Sensis e os pincéis na Semogue. São exemplos das 15 fábricas com que trabalha.

O Chiado, o Príncipe Real e a Ribeira são os bairros de Lisboa e Porto que servem de inspiração às três linhas distintas da Antiga Barbearia do Bairro. Para comemorar o 100º aniversário, será lançada mais uma, inspirada em aromas marítimos. “Somos uma marca de nicho para homem, tanto em Portugal como no mercado internacional. Não queremos ter sócios nem investidores, vamos dando passos seguros”, diz Luís Pereira.

A empresa faturou 200 mil euros, em 2017, e o objetivo é que cresça para os 350 mil até 2020. Com uma grande aposta no mercado internacional, a par de uma consolidação em Portugal. Muito à boleia, também, do turismo. Embora a Antiga Barbearia seja a principal marca do grupo, a 100 ml tem, também, a Aldeia da Roupa Branca, de fragrâncias para o tratamento da roupa, e a Por Ti Perco a Cabeça, de gifts para o canal turístico. Em maio promete lançar uma coleção de sabonetes, produzidos pela Castelbel, e inspirados nos Descobrimentos.

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