Pessoas que pensam rápido são mais carismáticas

A velocidade a que pensamos pode prever o quanto outros nos acharão atrativos? Não será o carisma mais do que um cérebro rápido?
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A PESQUISA: A equipa de William von Hippel, da Universidade de Queensland, recrutou dezenas de pequenos grupos de amigos para um estudo. Os investigadores submeteram os participantes a testes de inteligência e de personalidade para, em seguida, colocarem a cada um dos sujeitos 30 perguntas de cultura geral — como, “Diga o nome de uma pedra preciosa” — que deviam ser respondidas o mais rapidamente possível.

Os participantes também classificaram o carisma e as competências sociais dos amigos. Os investigadores concluíram que os indivíduos que responderam mais depressa às perguntas eram vistos como mais carismáticos — independentemente do seu QI, cultura ou personalidade.

A HIPÓTESE: A velocidade a que pensamos pode prever o quanto outros nos acharão atrativos? Não será o carisma mais do que um cérebro rápido? Professor von Hippel, defenda a sua pesquisa.

Esperávamos verificar que os pensadores rápidos eram carismáticos, e assim foi. Julgo que todos concordamos que as pessoas carismáticas costumam ser rápidas. Dizem coisas que achamos convincentes, mas que não esperávamos. Saem-se com uma resposta divertida ou uma associação de ideias surpreendente, e nunca sabemos bem o que vai acontecer a seguir. São interessantes. É uma espécie de sentido de humor semelhante. Você diz qualquer coisa e eu faço uma piada que liga a sua ideia a outra em que não tinha pensado. Se eu conseguir fazê-lo rapidamente, isso faz toda a diferença. O que, no entanto, nos surpreendeu, foi essa rapidez mental não parecer correlacionada com as competências sociais em geral, mas apenas com o carisma.

Com que velocidade temos de responder, para sermos considerados rápidos?

Os pensadores rápidos do nosso estudo podiam nomear uma pedra preciosa em 400 milissegundos; os lentos demoravam mais de 900.

Parece uma diferença ínfima.

Quase toda a gente consegue reagir a uma pergunta ou tarefa fácil em menos de um segundo. Embora a diferença seja pequena, a sua velocidade mental numa tarefa simples pode prever a rapidez com que responderá a uma tarefa muito mais complicada. Por exemplo, se lhe disser, “Talvez seja melhor dizer-lhe que sou gay”, poderei surpreendê-lo porque pensava que eu era heterossexual. Tem de ser capaz de responder depressa, porque se levar demasiado tempo — mesmo que não se importe ou ache bem — a sua pausa pode ser mal interpretada. A pressão social exige respostas rápidas. Quando o meu irmão informou os nossos pais de que ia casar-se, eles achavam-no demasiado novo e houve uma longa pausa ao telefone antes de lhe darem os parabéns. Não se pode emendar isso. Toda a gente sabe o significado de não nos sair nada da boca durante um segundo e meio.

Mas essas situações não têm mais a ver com interações sociais do que com recordar factos?

Sim, mas julgamos que a velocidade mental terá evoluído, em parte, como forma de nos impressionarmos uns aos outros. Não parece que o nosso cérebro tenha crescido tanto só para podermos lidar com factos. Muita gente tem defendido que o cérebro humano evoluiu para poder lidar com um ambiente social complexo. Assim, é provável que muitas das capacidades mentais que usamos para resolver problemas abstratos não tenham evoluído, na verdade, com esse objetivo. Pelo contrário, evoluíram para podermos lidar uns com os outros de maneira mais eficaz.

Não se trata de as pessoas espertas serem, em geral, mais carismáticas? O QI não prevê também o carisma?

A rapidez mental é um dos indicadores mais fiáveis do QI, pelo que esperávamos que este fosse um indicador importante de carisma — que o quanto sabemos afetasse a rapidez com que fazemos associações. Mas é importante notar que a rapidez mental não é o mesmo que QI; algumas pessoas inteligentes são bastante lentas e algumas pessoas rápidas não são muito espertas. Verificou-se, afinal, que o QI, em si mesmo, não era indicativo do carisma quando controlámos a variável velocidade. A capacidade de responder rapidamente era muito mais importante para o carisma que o QI.

E se alguém desse respostas erradas?

Não fazia diferença. E as pessoas quase nunca deram respostas erradas. “Diga o nome de uma pedra preciosa” é bastante fácil. Não queríamos testar a sua inteligência, mas sim a rapidez.

Pensei na última pergunta em cerca de 200 milissegundos. Nada mau, certo?

Sim, mas ficaria mais impressionado se pensasse na resposta com essa rapidez!

Ao que parece, um cérebro rápido também devia ter utilidade para outras competências sociais. Mas não foi isso que se verificou.

Realizámos o estudo duas vezes porque também esperávamos que o pensamento rápido fosse indicador de competências sociais em geral, como as pessoas sentirem-se mais ou menos confortáveis em diferentes cenários sociais ou a sua capacidade para fazerem os outros sentir-se melhor. No primeiro estudo, não indicava nada disso. E mesmo quando usámos uma versão ligeiramente mais ampla da escala das competências sociais, no segundo estudo, continuou a não funcionar como indicador. Não sei porquê. No primeiro estudo, a escala do carisma tinha três vertentes a avaliar: o carisma, a rapidez mental e a graça dos indivíduos. A escala das competências sociais, perguntava: Como avalia a capacidade deste indivíduo de lidar com o conflito? Como avalia o grau de conforto deste numa série de cenários sociais? Como avalia a sua capacidade de interpretar os sentimentos das outras pessoas? O segundo estudo acrescentava outras três perguntas relacionadas com as competências sociais: Como avalia a sua capacidade de pôr as pessoas à vontade? Tem boas competências sociais? Dá-se bem com toda a gente?

Qual é, exatamente, a sua definição de carisma?

O carisma é um pouco como a pornografia — não é muito fácil de descrever, mas reconhecemo-lo quando o vemos. Do meu ponto de vista, você pode ser carismático, mas também ser um cretino. Por exemplo, o Donald Trump é quase totalmente destituído de graça social, mas é carismático. As pessoas acham-no fascinante; nunca sabem o que ele vai dizer a seguir. O Jeb Bush, pelo contrário, é soporífero. Não só sabemos o que vai dizer a seguir, como sabemos que não será muito interessante. Mas aposto que é muito mais agradável durante um jantar ou à mesa das negociações. Acho que muitos dos nossos líderes políticos são bastante carismáticos, mas não são necessariamente competentes a nível social.

Quer dizer que os gestores com pensamento rápido e conversa fluente são realmente bons para uma empresa, mesmo que lhes faltem outras competências sociais?

Os líderes carismáticos são envolventes. Podem fazer as empresas mudar de direção, levar as pessoas a acreditarem neles e a ver as coisas de maneiras novas. Embora não haja muito que cada um possa fazer para aumentar a sua rapidez mental, isso pode ajudar-nos a perceber quais são as pessoas que terão ou não capacidade de inspirar as nossas organizações. Se quiser fazer grandes mudanças, será boa ideia arranjar um líder carismático.

Se eu quisesse parecer carismático para convencer o meu chefe de alguma coisa, como poderia fazê-lo?

Eis a verdade: é muito arriscado tentar fazer isso. Julgo que o que nos impressiona nas pessoas rápidas é que elas não são apenas rápidas, mas têm um acesso rápido, quase diria paralelo, a várias formas de interpretar uma ideia. A única maneira de mostrar isso é responder diferentemente de todas as outras pessoas, e depressa. Mas, ao fazê-lo, está a correr um risco, porque aquilo que disser pode ser estúpido ou ofensivo. Existe um custo. Não gosto de estar sempre a usar Trump como exemplo, visto que existem muitas pessoas carismáticas que são maravilhosas. Mas há muitas probabilidades de nos sair o tiro pela culatra.

Como se pode evitar isso?

Acho que ser carismático e estar errado é um desastre. Ser carismático e estar certo, é uma coisa boa.

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