"Já esperávamos este decréscimo após o primeiro semestre", indica Hélder Pedro. O secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP) põe a sazonalidade como uma das razões: "houve uma grande concentração das vendas no primeiro semestre". Sobretudo "das empresas de rent-a-car, para antecipar a forte procura dos turistas antes do verão", acrescenta Jorge Neves da Silva, da ANECRA.
A Volkswgen foi a marca que mais vendeu no último mês, com 1574 veículos, ultrapassando Renault e Peugeot. As três marcas reúnem cerca de 30% da quota de mercado, mostram os dados.
O crescimento nas vendas em julho, porém, foi bem menos do que no mês anterior. Junho mostrou um crescimento de 32,8% em relação a 2014. A comparação de vendas é mesmo outro dos motivos para este desempenho.
"Estamos a olhar para uma base muito baixa, em que as vendas foram mesmo muito fracas", lembra o responsável pela ANECRA. Hélder Pedro corrobora e lembra que os números estão 19,4% abaixo da média total de vendas entre janeiro e julho nos últimos 15 anos, de 22814 veículos.
Média para a qual contribuíram a Mercedes e a BMW. As duas construtoras alemãs ocupam, respetivamente, o quarto e quinto lugares. A Mercedes ultrapassou mesmo a BMW no ranking da ACAP. Estão separadas por apenas sete carros - 8124 contra 8117. Representam perto de 14% da quota do mercado nacional.
A aposta das empresas nestas marcas justifica o crescimento verificado nos últimos anos entre as construtoras premium. Graças ao elevado valor residual (valor do carro após o aluguer), as empresas pagam rendas "mais baixas" do que no aluguer de um veículo de marca generalista, explica um responsável desta área ao Dinheiro Vivo que pediu para não ser identificado.
Os consumidores, pelo contrário, voltaram a contrair-se na hora de comprar o carro. "Os rendimentos das famílias foram desviados para as férias ou para o pagamento de impostos como o IMI e o IRS", justifica Jorge Neves da Silva.
Até ao final de 2015 espera-se que o mercado português "continue a aproximar-se dos 200 mil carros", prevê Jorge Neves da Silva. Hélder Pedro, sem indicar números concretos, espera um "crescimento médio de 20%" face a 2014, graças à "renovação das frotas por parte das empresas".
Manipulação de matrículas
"As marcas, sobretudo as do segmento premium, matriculam carros novos todos os meses para ficarem bem na fotografia", reclama um responsável que pediu para não ser identificado. "São carros com zero quilómetros, que depois entram numa bolsa virtual para os concessionários. Eles depois podem comprar automóveis mais baratos e assim garantir mais descontos nas vendas aos clientes", detalha.
Esta prática, embora não seja ilegal, comporta alguns riscos. "O carro, ao fim de seis meses, pode desvalorizar-se, o que é bastante arriscado para os concessionários". A exportação é outro dos destinos dos veículos matriculados mas sem compradores. Situação com "perdas para de 25% para o Estado, refere Jorge Neves da Silva.
O responsável da ANECRA propõe "conjugar a atribuição de matrículas com os registos de transferência de propriedade". Medida que visa apresentar dados "mais transparentes" e evitar equívocos. "Andamos a enganar-nos. Os númeeros de matrículas só são efetivos quando é feito o pagamento do Imposto Sobre Veículos (ISV)".