Com pouco mais de 8500m2 e cerca de 9000 habitantes, Älmhult, no sul da Suécia, é uma pequena vila, na região de Småland. O complexo IKEA que ali se situa acolhe diariamente 4700 trabalhadores. Nem todos os habitantes de Älmhult trabalham na IKEA. Da mesma forma, nem todos os trabalhadores da IKEA habitam em Älmhult. Mas se é um facto que a empresa é o motor da vila, é igualmente verdade que é ali que se situa o coração do gigantesco grupo internacional..A nível mundial, trabalham na IKEA 163000 pessoas e há 340 lojas. A marca está presente em 28 países, em quase todos os continentes, mas nunca esqueceu as suas origens. Foi ali, em Älmhult, que, em 1943, com apenas 17 anos, o sueco Ingvar Kamprad fundou a empresa. E é ali, em Älmhult, que ainda hoje se comandam todas as operações da multinacional. Os 4700 trabalhadores repartem-se por 13 unidades de negócio e utilizam o inglês como língua de trabalho. Só dessa forma se conseguiriam entender, visto que se distribuem por cerca de 50 nacionalidades. De Portugal, são quase 20 pessoas.."Temos muito trabalho aqui. Mas conseguimos também ter tempo livre e levar uma vida relaxada. Älmhult é, de facto, uma pequena aldeia, mas por outro lado é o coração da IKEA. É aqui que tudo acontece, que tudo nasce, que tudo se decide." Leandro Teixeira, 36 anos, é Sourcing Developer, tratando da tecnologia que é incluída em cada peça de mobiliário que depois segue para as nossas casas. Mas não por muito tempo. Em breve vai mudar de funções. Faz parte da política da empresa de motivação dos trabalhadores. A possibilidade de evolução na carreira é constante e nem sempre de forma vertical. “Aqui o crescimento não é feito como tradicionalmente. É importante que os trabalhadores conheçam várias posições, em vários lugares, para terem uma visão mais ampla e se sentirem satisfeitos e motivados”, explica Neena Potenza, gestora de Recursos Humanos da IKEA..Veja aqui: IKEA aumentou salário mínimo dos trabalhadores para 625 euros.São vários os casos em que os funcionários desenvolvem uma longa carreira no grupo com movimentações circulares. O francês Abdelhak Ayadi, que vai assumir a direção da nova unidade no Algarve, com inauguração prevista para 30 de março, começou como estagiário da marca, em Bordéus, passou por Älmhult, no setor de vendas do IKEA of Sweden, a unidade principal da empresa, e foi também diretor de loja em Itália..Leandro Teixeira chegou à vila sueca há três anos com a mulher, Mafalda Gonçalves, de 30 anos. "Vim com ele e ainda fiquei um ano à procura de trabalho aqui, na IKEA. Acabei por conseguir um na minha área. Faço atualmente comunicação de produto", conta Mafalda. “Mas não fácil. Há muita gente a querer vir para Älmhult. Competimos contra o mundo inteiro. Para todas as vagas que abrem anualmente, recebem-se milhares de candidaturas”..Neena Potenza confirma que a marca é um empregador atrativo. “Há um ambiente de trabalho muito bom. Temos os nossos valores muito presentes e isso faz com que muita gente se queira juntar a nós. Em Espanha, houve uma loja que recebeu mais de 30 mil candidaturas”, recorda a responsável. Em Portugal, para a loja de Loulé, no Algarve, para cerca de 250 vagas, receberam-se 8000 inscrições. Ainda assim, os números são abaixo dos de Braga. Quando a loja minhota abriu, no ano passado, a empresa recebeu perto de 22000 candidaturas para o mesmo número de posições que a do Algarve..Luís Porém Pires, 36 anos, também se candidatou, mas diretamente para o coração da IKEA. Depois de um ano em apertados testes de seleção, acabou por entrar na empresa. Desde junho de 2014 que trabalha em Älmhult como product developer. A sua equipa desenvolve o mobiliário das cozinhas e das refeições, desde a concepção até à escolha do nome. “Temos uma lista de nomes possíveis para cada peça. Eu tento sempre escolher um que seja fácil de pronunciar, mas que mantenha estes carateres que para nós são estranhos mas que fazem parte do vocabulário sueco. É importante para a IKEA manter a cultura sueca”, explica o português..Desde a concepção do produto até à sua chegada ao mercado podem passar mais de dois anos. A IKEA submete todas as peças a rigorosos testes. “Realizamos a cada ano 14000 testes e o número está a aumentar. Em 2012, foram só quatro mil. Mas as regras são cada vez mais apertadas e nós tentamos também aperfeiçoar-nos. Por exemplo, na questão da segurança, tentamos sempre pensar em como as crianças vão interagir com cada produto”, explica Stefan Bertilsson, gestor do laboratório de testes da IKEA, um antigo jogador de futebol profissional que assegura que a sua maior surpresa acontece quando algum item passa em tudo à primeira. A marca tem sido alvo de processos e foi por diversas vezes obrigada a retirada de produtos do mercado, por questões de segurança. Mas Luís Porém Pires acredita que não dá para controlar tudo. “Às vezes são os próprios consumidores que não seguem as recomendações ou utilizam os produtos em situações e condições indevidas”..Depois de tudo testado, passa-se à etapa seguinte: a preparação do lançamento. Nesta fase, acontece a produção do famoso catálogo da marca. Durante meses, em estúdios e de forma virtual, um número incontável de trabalhadores prepara o visual e o estilo dos ambientes onde o mobiliário da IKEA vai ser fotografado. Rita Mestre, 41 anos, é designer de interiores em Älmhult. Chegou há quase quatro anos com Frederico Arouca, 44 anos, e os filhos, André, 15 anos, e Catarina, de dez. O mais velho está ambientado à vida sueca. À filha, custa um pouco mais. Tal como à mãe. “O trabalho é muito giro. Faço planificação e estúdio, tanto para o catálogo como para as brochuras. Mas estava muito habituada a Lisboa e aqui é tudo muito parado. Não apela tanto à inspiração. E, depois, ainda existem as saudades. Portugal está demasiado longe”, lamenta Rita, que ainda assim, se considera uma sortuda com o emprego que tem..Já Frederico Arouca é o único português dos 70 funcionários do museu IKEA, que abriu em junho no coração de Älmhult, no local onde funcionava a primeira loja da marca. Atualmente, é responsável por toda a imagem e comunicação do espaço, mas o seu percurso na marca também foi feito de vários caminhos. “Comecei primeiro a trabalhar no catálogo como Gráfico Designer, depois fui para o IKEA of Sweden, seguiu-se o IKEA Learning and Culture Centre, como Visual Communicator por dois anos, e agora estou aqui no IKEA Museum. Um convite que não podia recusar”, explica..Frederico está ambientado à vida em Älmhult, onde vive. Gosta da proximidade com a natureza e da pureza do ar frio, mesmo admitindo a falta do sol de Portugal. As saudades do país de origem serão seguramente sentidas por todos os portugueses que trabalham no complexo IKEA. Contudo nenhum dos inquiridos pensa em voltar. A razão prende-se com a qualidade de vida que a marca proporciona aos seus trabalhadores. E também com a visão positiva que tem do mundo. “A IKEA faz bem ao mundo e a Portugal em particular. Não é só nas lojas que abre, nem nos empregos que dá. Eu trabalho com fornecedores quase todos os dias. As pessoas nem têm noção do peso que a marca tem no funcionamento da economia portuguesa”, assegura Leandro Teixeira..A jornalista viajou a Älmhult a convite da IKEA.