Quanto custa aos portugueses ir de férias para o Algarve? 

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Fazer turismo em Portugal está caro. E está caro principalmente para as classes média e média-baixa. Agosto é o mês em que o turismo por norma aumenta, e nem por isso a Estrada Nacional 125, que atravessa o Algarve de Vila Real de Santo António a Vila do Bispo, ou a autoestrada A22 - conhecida por Via do Infante -, de Lagos a Castro de Marim, têm um aumento de movimento de outros anos. Os portugueses retraem-se com a nova subida dos preços dos combustíveis, com o custo de vida ainda muito elevado e com o preço do alojamento a Sul em alta.

O Algarve continua numa busca incessante por igualar os números de 2019, o melhor ano de sempre para a atividade turística, mas a verdade é que as dormidas estão aquém desses resultados. As receitas é que têm crescido e estão em valores recorde. Os preços mais altos compensam o menor número de turistas. Acontece, porém, que preços mais altos, para uma classe média portuguesa já demasiado sobrecarregada pelo aumento das prestações das casas e das despesas familiares, significam um verão mais distante das praias algarvias. Para estes, principalmente, fazer férias no Algarve está caro.

Os sinais de alerta surgiram em junho, com as dormidas de turistas nacionais a recuarem 18%. E se no alojamento se nota a diferença, o mesmo acontece na restauração, onde há muitos restaurantes vazios, principalmente, ao almoço. Os que estão bem referenciados nos guias turísticos continuam a ter filas à porta. Os outros, com doses acima dos 12 euros - muito abaixo do que se paga por uma boa cataplana algarvia -, têm mais dificuldades em preencher mesas. Também os concessionários de praia que outrora estavam sempre lotados, nas espreguiçadeiras e nas mesas de refeição, vão tendo lugares vagos. Nota-se a subida de preços. E continua a ser flagrante a escassez de profissionais especializados - com o atendimento a sair prejudicado. A alternativa faz lembrar tempos passados de crise, basta observar as pessoas com sacos do supermercado a ir para os quartos de hotel.

A subida de preços do alojamento empurra muitos portugueses para outras decisões: ficar em casa ou rumar para destinos fora do país. Passando pelo Algarve, precisamente, são muitos os carros de matrícula portuguesa em direção ao sul de Espanha, para mais perto da fronteira, procurando as praias de Ayamonte a Huelva. Por outro lado, com as agências de viagens também focadas na recuperação dos números pré-pandemia, apesar dos portugueses preferirem viajar pelo país, segundo o INE, no primeiro trimestre deste ano, comparando com o período homólogo, as viagens para o estrangeiro cresceram 35,8%, correspondendo a 11,3% do total.

O setor das viagens e turismo em Portugal deverá contribuir com 40,4 mil milhões de euros para o PIB (produto interno bruto) em 2023, superando o recorde de 40,1 mil milhões de 2019, prevê o Conselho Mundial de Viagens e Turismo. É inegável a sua importância para o crescimento da economia, como também o é que deva gerar mais e melhor emprego, mais qualificado. Recordando o slogan de 1995, da campanha promocional do turismo interno "Vá para fora, cá dentro!", vender Portugal aos turistas não pode apontar para o resultado dos preços altos, mas sim, para uma menor sazonalidade, para o aumento transversal da qualidade do serviço e do atendimento, que garanta mais escolha e competitividade, e para manter os portugueses de férias cá dentro - seja no Algarve ou em qualquer outra região do país.

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