Depois da Irlanda ter rejeitado recorrer a um programa cautelar para o período pós-troika, Portugal equaciona se esta será a melhor solução para prosseguir a partir de junho deste ano.
No entanto, esta hipótese pode não vir a ser a melhor opção para o país, conforme defende o banqueiro português António Simões, presidente do HSBC UK, em entrevista ao Diário Económico.
"Quanto à Irlanda temos de ter alguma cautela, porque ainda não é óbvio que tenha de facto conseguido sair. Há duas questões importantes, os 'stress tests' aos bancos irlandeses e o 'asset quality review' que ainda não foi feito. Não é garantido que a solução irlandesa funcione e, em Portugal, não foi o sector bancário quem gerou o resgate", afirma o gestor.
Para António Simões, Portugal precisa de colocar os pratos na balança para ponderar qual a opção menos dolorosa após o final do programa de assistência económica e financeira. "Quanto à melhor forma de sair, o importante é o custo. Se no modelo irlandês for demasiado alto, em termos de austeridade, é porque não é o melhor. É natural que se sinta uma maior independência e sensação de dever cumprido na opção irlandesa, mas não deve acarretar custos excessivos. Realisticamente não vejo grande diferença entre as exigências dos agentes de mercado e de um eventual programa cautelar".
O banqueiro destaca que um segundo resgate também é uma hipótese real para Portugal. "Temos de tentar não dramatizar a questão do resgate porque não é o fim do mundo. Ter como objetivo a saída irlandesa não é totalmente racional, porque pode não ser a melhor solução para Portugal. Para sairmos, as exigências do programa cautelar ou do mercado podem ser as mesmas. O mercado também vai exigir uma disciplina fiscal quase tão rigorosa como o próprio programa cautelar."