Há confiança, há investimento, há oferta, há procura, há
comércio, há consumo, há cultura, há diversão, há reais, há
dólares, há euros, há ienes. Descubra o que falta à economia de
Sampa, a capital do Hemisfério Sul
Numa reportagem de televisão, um jornalista mostrou às câmaras
notas de reais, de euros, de ienes e a célebre "hundred dollar
bill" com a face de Benjamin Franklin para ilustrar como em São
Paulo circula dinheiro de todo o mundo, de todos os valores, de todas
as línguas. Em São Paulo há de tudo, economicamente falando, e em
doses vertiginosas: confiança, investimento, consumo, diversão. Não
falta quase nada.
São Paulo é a maior cidade do hemisfério sul: são 10 milhões
de habitantes, só o município, 19 milhões de área metropolitana e
29 milhões de área metropolitana expandida.
É a capital financeira e comercial da América Latina. Tem o décimo maior PIB do mundo e sedia 17 dos 20 bancos do Brasil e oito das dez principais corretoras. Acolhe metade das maiores empresas privadas
brasileiras e 63% das multinacionais no país.
Seis dos sete mais acessados portais de internet são editados na
cidade, fazem-se 900 mil transações de cartão de crédito por dia,
tem a maior frota de helicópteros do mundo a seguir a Nova Iorque e
é aqui que estão o maior centro comercial da América Latina mas
também o maior hospital.
Numa cidade servida por quatro aeroportos, realiza-se um evento a
cada seis minutos, entre eles a Virada Cultural (24 horas seguidas de
espetáculos de rua), que atrai quatro milhões de pessoas, ou a
maior parada gay do mundo, com média de 3,5 milhões por ano.
Em São Paulo, serve-se um milhão de pizzas por dia, formam-se
900 feiras de rua a cada fim-de-semana e há espalhados de Leste a Oeste mais de 30 mil restaurantes de 52 cozinhas diferentes, o que
equivale a dizer que se pode mudar de tipo de gastronomia todas as
semanas do ano.
Existem 160 salas de teatro, 260 de cinema, 110 museus, 300 salas
de espetáculos, sete estádios de futebol e um autódromo
internacional.
No entanto, há paulistanos (gentílico da cidade, diferente de
paulista, gentílico do estado) que gastam oito horas por dia em
transportes, quatro para ir para o emprego, outras quatro para
voltar. Para ir de um ponto a outro da cidade é quase sempre
necessário utilizar o tridente de transportes "ônibus-trem-metrô".
E para percorrer 30 quilómetros de automóvel perde-se em média
três horas mesmo tendo em conta que existe "rodízio" - carros
com matrícula terminada em 1 e 2 não podem circular nas horas de
ponta à segunda-feira e assim sucessivamente até sexta.
Porque a maioria dos paulistanos logicamente não tem os tais
helicópteros e porque a ideia de desviar o transporte de cargas para
os rios que banham a cidade, Tietê e Pinheiros, por agora não passa
de um projeto de ficção científica, a solução dessa maioria é
conformar-se, adaptar-se.
Não é invulgar duas amigas combinarem um café às 5.30 da manhã
porque não sobra mais tempo vago na agenda; não é invulgar passar
às 2 da manhã por uma rua da cidade e ver um ginásio cheio de
gente "a malhar" porque não há outro tempo disponível. Não é
invulgar marido e mulher comunicarem-se apenas de emprego para
emprego via twitter (a língua oficial da cidade logo a seguir ao
português) porque não há tempo para 140 carateres de diálogo
frente a frente na tranquilidade do lar.
De que vale então haver tantos eventos, tanta oferta cultural e
noturna se não há tempo para usufruir dela? Se escasseia a moeda
mais valiosa do mundo, o tempo, de que vale circularem reais, euros,
ienes e a "hundred dollar bill" com a face de Benjamin Franklin?
Franklin, que hoje dá a cara a uma mísera nota de 100 dólares,
teve tempo para ser um formidável inventor, estadista, jornalista,
diplomata, xadrezista e para dizer um dia o mais simples tratado de
economia da história: "time is money".
Jornalista
Escreve à quarta-feira