Semáforo nutricional da Nestlé arranca em Portugal

Depois da Auchan, a Nestlé tem agora nos supermercados produtos que informam sobre as qualidades nutricionais através de um código de letras e cores.
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Escolher o mais saudável e levar o fabricante a optar também por melhores receitas. Estes são alguns efeitos da adoção da escala Nutri-Score, que a Nestlé acaba de trazer para 7 mil produtos. E já chegou a Portugal.

A Comissão Europeia devia "assumir a liderança" da discussão para a implementação de um sistema de rotulagem único nos países-membros. "Devíamos almejar uma solução comum, debatendo juntos, e não estarmos uns contra os outros, estamos a falar de um mercado único, de circulação livre de bens, que tem sido a grande vantagem competitiva da União Europeia face a outras zonas globais", defende Marco Settembri, CEO da Nestlé para a Europa, Médio Oriente e Norte de África (EMEA), na teleconferência de anúncio de que a multinacional iria passar a incluir na embalagem de 7 mil produtos em 8 mercados europeus, entre os quais Portugal, o Nutri-Score.

“Sempre defendemos, mesmo antes da Nutri-Score, um sistema de rotulagem harmonizado. Foi isso que dissemos de forma muito clara à Comissão Europeia. Nem todas as empresas, associações, países querem ter o mesmo sistema de rotulagem, sabemos que este é um tema de discussão, por isso estamos mesmo a dar um empurrão à Comissão Europeia para assumir a responsabilidade. Só se a União Europeia (UE) trabalhar com os países-membros para criar uma solução única podemos ter uma ferramenta ótima. Mas pensamos que os consumidores consideram que é uma ferramenta útil para fazerem a sua escolha", considera Marco Settembri, questionado pelo Dinheiro Vivo sobre as iniciativas que a companhia estava a desenvolver junto de Bruxelas para que fosse implementado no mercado europeu o Nutri-Score.

O tema tem dividido os países: nem todos, como é o caso de Itália, estão dispostos a adotar o semáforo criado em França que, de A a E e recorrendo a um sistema de cores, dá ao consumidor o valor nutricional dos alimentos. O rótulo com a informação nutricional por cada 100 g mantém-se.

Desde outubro de 2017 que se tornou habitual encontrar nas prateleiras dos supermercados franceses produtos que exibem na frente da embalagem o Nutri-Score. Desde então, países como Bélgica e Espanha já adotaram o sistema francês, estando a Alemanha, a Holanda e o Luxemburgo a dar os primeiros passos. Em Portugal, a cadeia Auchan já introduziu o Nutri-Score nos seus produtos de marca própria. Agora chega a vez dos produtos da Nestlé. Um total de 7 mil artigos da multinacional vão passar a exibir o sistema de semáforos e letras. A medida abrange Alemanha, Bélgica, França, Luxemburgo, Holanda, Suíça e, mais recentemente, Espanha e Portugal.

A Nestlé chegou a trabalhar, juntamente com fabricantes como Mondelez, PepsiCo, Coca-Cola e Unilever, noutro sistema de rotulagem, o Evolved Nutrition Label (ENL), baseado na dose recomendada e não recorrendo aos 100g como medida de referência. Mas a dificuldade de comparação levantou várias dificuldades e críticas de associações de defesa do consumidor, tendo a companhia deixado cair em 2018 esse sistema - no qual vinha a trabalhar havia um ano e que pretendia que fosse adotado de forma uniforme em todos os mercados e pelos fabricantes.

"Sentimos que o NutriScore é hoje o melhor sistema de rotulagem. Estamos confiantes de que está a ganhar tração e podemos implementá-lo em oito países, uma porção relevante da UE. Claro que iremos respeitar a legislação local, se num determinado país isso não for autorizado não o faremos. Até final de 2022 teremos algo proposto pela Comissão Europeia", refere Marco Settembri.

O gestor está "confiante" que o Nutri-Score será a opção, mas, seja qual for a opção tomada, a "UE tem de regressar ao elemento fundamental de mercado único e encontrar uma solução comum para permitir a livre circulação de bens".

O que propõe o Nutri-Score

Em Portugal, o Nutri-Score ainda não teve uma recomendação de adoção do governo, mas as autoridades de saúde reconhecem que é um sistema que poderá ajudar os consumidores a tomar as melhores decisões nutricionais quando estão a encher o cabaz de compras no supermercado. O que se torna relevante quando há metas de combate à obesidade, na origem de muitas doenças de âmbito cardiovascular ou diabetes.

“Um estudo feito em 60 supermercados em França mostra que há uma modificação da qualidade nutricional do cesto”, que melhorou 10%, referiu, lembrando que o sistema não só “visa tornar os consumidores conscientes de que alguns produtos são melhores do que outros do ponto de vista nutricional", como também pode influenciar a cadeia de produção. “Em França muitos dos fabricantes e retalhistas que adotaram o Nutri-Score começaram a melhorar as receitas".

Alguns dos produtos criados pela Nestlé foram pensados já no Nutri-Score. É o caso do Garden Gourmet, acabado de lançar com a ambicionada letra A e a cor Verde; tendo uma gama de cereais para crianças, o Nat, disponível em França obtido um B (verde mais claro).

Os cereais Nesquik ou os Fitness também têm vindo a melhorar o seu desempenho no Nutri-Score, tendo em 2020 uma avaliação de B e A, respetivamente. Em 2003 o semáforo dar-lhes-ia laranja e amarelo D e C. A melhoria na avaliação só foi possível graças a alterações na fórmula e ingredientes destas linhas de cereais de pequeno-almoço. No caso do Nesquik, desde 2003, foi reduzido em 34% o açúcar, em 41% o sal, em 80% as gorduras saturadas, tendo aumentado em 263% a quantidade de fibra. Ou seja, a fórmula alterou-se nos ingredientes valorizados (como é o exemplo da fibra) ou penalizados (açúcar) pelo algoritmo que dá a avaliação presente no rótulo do produto.

Nos Fitness - menos 39% de açúcar, 40% no sal e mais 80% de fibra desde 2003 – essa mudança rendeu a classificação de A-verde. Este é um dos primeiros produtos Nestlé, juntamente com o Nesquik Alphabet (A-verde), a incluir este novo sistema de informação já no mercado. A estes seguir-se-á a gama de produtos flexitarianos Garden Gourmet.

A companhia não adiantou valores de investimento nesta aposta, nem quantos dos 7 mil produtos com Nutri-Score na embalagem foram objeto de melhoria na sua fórmula. Mas todos os anos um terço dos produtos é reformulado, o que significa que em três anos todos os produtos, que possam sê-lo serão objeto de inovação.

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