Vivem em união de facto há quase 20 anos mas parecem agora dispostas a dar o passo seguinte na relação. Renault e Nissan estão em negociações para se fundirem numa só gigante empresa.
A notícia foi avançada ontem pela Bloomberg, apesar de não ser completamente nova. Já no início do mês a Reuters tinha revelado que as duas fabricantes automóveis estavam a discutir uma possível fusão, e que até já estariam a tentar ultrapassar o principal obstáculo ao negócio: o Estado francês, que detém 15% da Renault, e não deverá ceder facilmente uma joia da coroa da indústria gaulesa. O governo japonês não é acionista, mas também teria uma palavra a dizer.
Citando fontes anónimas, a Bloomberg revela alguns detalhes das negociações. Carlos Ghosn, chairman das duas empresas, é o arquiteto do negócio e assumiria o volante da empresa resultante da fusão. Outra questão fraturante seria a localização do quartel-general, que poderia dividir-se entre França e o Japão, ou assentar num local neutro, como Londres ou Holanda, à semelhança da Fiat Chrysler.
A estrutura acionista teria de sofrer alterações. A Renault detém 43% da Nissan, enquanto a fabricante japonesa é dona de 15% da empresa francesa. A criação de uma nova empresa iria obrigar à redistribuição dos títulos pelos acionistas de ambas as companhias. As negociações já se arrastam há meses, diz a Bloomberg, e no fim podem morrer na praia. Contactadas, as duas partes recusaram comentar “rumores e especulações”.
Mas mesmo que o casamento não avance, as notícias em torno dele tiveram o condão de animar as ações da Renault. Na sessão de ontem, a fabricante francesa ganhou 5,39%, mas chegou a disparar mais de 8%. Há mais de uma década que não eram negociadas tantas ações da Renault no mesmo dia. A empresa fechou a semana com uma capitalização bolsista a rondar os 28 mil milhões de euros.
Já do lado da Nissan os “rumores” não tiveram qualquer impacto, porque as notícias chegaram a Tóquio após o fecho da bolsa. A empresa tem uma capitalização de 35 mil milhões de euros.
A aliança entre a Renault e a Nissan remonta a 1999, numa parceria estratégica que a partir de abril vai incluir também a Mitsubishi. Mas foi em fevereiro deste ano que Carlos Ghosn deu a primeira pista sobre o que poderá ser o futuro das duas empresas, quando afirmou numa entrevista que as fabricantes deveriam pensar num plano para tornar a aliança “irreversível”.
A parceria já rendeu o número um no top das fabricantes automóveis com mais veículos elétricos vendidos em todo o mundo. É essa aposta, bem como os carros autónomos, que está na base da vontade de celebrar uma união definitiva. Juntas, a Renault e a Nissan pretendem vender 14 milhões de carros elétricos por ano até 2022; no ano passado, venderam 10,6 milhões. Em quatro anos, metade dos carros fabricados pela Renault serão elétricos. Resta saber se também serão da Nissan.