Swappie. Portugal é um dos 7 países que mais pesam no negócio de iPhones recondicionados

Com a faturação a crescer a dois dígitos anualmente em território nacional, planos da empresa finlandesa passam por aumentar a equipa e trabalhar com marcas lusas para oferecer mais métodos de pagamento e envio.
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Ainda que cerca de 17% da população admita não saber o que significa ao certo o conceito de produtos recondicionados, e 80% não considere ainda vender os seus telemóveis antigos, segundo um estudo da Kantar, Portugal já é um dos sete países que mais pesam na operação da Swappie, a startup de origem finlandesa focada em poupar o planeta do lixo eletrónico, através do processo de compra, recondicionamento e venda de iPhones.

Considerada pelo jornal britânico Financial Times a empresa que mais cresceu na Europa em 2022, a uma velocidade 477%, a Swappie nasceu em 2016, pelas mãos de Sami Marttinen e Jiri Heinonen, depois de o primeiro ter sido vítima de uma burla online quando tentava comprar um telemóvel em segunda mão. Com isto, os dois empreendedores propuseram-se a criar uma plataforma que não só proporcionasse segurança e qualidade a esta atividade, como também tivesse no seu ADN um propósito ambiental: a chamada economia circular.

O pequeno escritório em casa, onde começaram, rapidamente evoluiu para algo grandioso, à boleia dos mais de 149 milhões de euros angariados desde então - a última ronda Série C, no valor de 108 milhões, foi realizada no início de 2022 e contou com a norueguesa Verdane na liderança e outros investidores como a Tesi, Lifeline Ventures e Varma. O financiamento permitiu escalar o negócio além-fronteiras, investir em infraestruturas e elevar a equipa para as 750 pessoas.

Se, em 2021, as vendas da startup alcançaram os 195 milhões de euros, é agora sabido que, no ano passado, o volume de negócios ascendeu aos 208 milhões, mais 7%. A operar, ao momento, em 24 países europeus, a finlandesa já fez chegar mais de um milhão de smartphones da marca Apple às mãos dos consumidores - mas Sami Marttinen, que ocupa o cargo de presidente executivo da empresa, considera que este patamar representa apenas a ponta do iceberg, já que apenas 30% das pessoas no Velho Continente se dedicam a reciclar e revender os seus telemóveis.

As previsões para este ano apontam para crescimento e uma maior rendibilidade, tendo em conta que, durante o atual exercício, a empresa optou por focar-se nos mercados atuais, não se abrindo a novas geografias. "Estamos empenhados em tornarmo-nos no líder global em recondicionamento de iPhones. Para tal, precisamos de nos concentrar nos nossos clientes e obter a experiência certa em cada um dos países, elevando os padrões de qualidade. Só assim conseguiremos chegar mais longe", diz o CEO, em entrevista ao Dinheiro Vivo, na sede da Swappie, em Helsínquia.

Itália, Alemanha e Suécia são, por esta mesma ordem, os países que encabeçam a operação da Swappie, mas o "pequeno" Portugal é um dos que mais alento tem revelado, tendo inclusive conquistado um lugar no top 7 dos mercados que mais pesam nas contas - e, em termos de vendas proporcionais à população, sobe mesmo para os cinco maiores, segundo a country manager para o território nacional, Luísa Vasconcelos e Sousa, gestora luso-norueguesa que soma passagem pela dona do Facebook (Meta) e que este ano agregou também à sua liderança a Irlanda.

Desde que entrou no mercado português, em 2021, a startup tem crescido a faturação em dois dígitos, garante a responsável. Ainda que, no início, a recetividade não tenha sido a esperada, a empresa afirma ter conseguido dar a volta e captar o interesse, sobretudo da audiência mais jovem, através de um forte investimento em marketing digital, que depois foi influenciando as gerações mais velhas. Pessoas com idades compreendidas entre os 35 e os 44 anos representam, aliás, 20% das vendas da finlandesa em Portugal.

O país é dos que têm uma taxa de penetração de iOS [o sistema operativo da Apple] mais baixa, a rondar os 34%, logo, e apesar de os consumidores comprarem hoje mais iPhones, "não é um mercado tão grande em termos de equipamentos antigos", por comparação com outros onde a empresa marca presença. "Mas há muito que explorar ainda", frisa a líder, apontando o foco para a venda de tecnologia antiga: "Queremos que os portugueses saibam que podem vender o seu smartphone, mesmo quando está partido ou não liga, e fazê-los entender que não é critério se está funcional, até porque uma das nossas funções é reciclar todas as peças."

Assegurar a confiança dos clientes está na lista de prioridades da marca, cuja atividade se dá maioritariamente online, sendo escassos os pontos físicos - na Finlândia, foi lançada num centro comercial uma vending machine com telemóveis "na hora" e que recolhe equipamentos usados em troca de dinheiro. Para cumprir esse objetivo, a Swappie conta com uma equipa de apoio ao cliente constituída por cinco portugueses, à qual pertencem Giovanni Ciet e Yona Brás.

Gestão hoteleira e aviação eram, respetivamente, as suas áreas, até que o amor fê-los voar até Helsínquia, onde conheceram a startup liderada por Marttinen. Ambos entraram a bordo em 2021 e, de lá para cá, muita coisa mudou no seu dia-a-dia, no escritório: "O facto de ser um projeto muito recente, mas que estava a crescer a um ritmo muito rápido, tornou o nosso percurso muito menos monótono. Lembro-me de, no início, trabalharmos as redes sociais, marketing, traduções e até mesmo a estratégia do mercado nacional", conta Giovanni Ciet.

Hoje, dedicam-se a prestar apoio em todos os canais de comunicação da Swappie (emails, chats ou chamadas telefónicas) na língua materna, o que faz com que os conterrâneos "se sintam ouvidos e compreendidos". Curioso é também o facto de os próprios terem essa sensação em relação aos seus superiores, que fazem questão de recolher feedback e promover iniciativas, como formação e revisões salariais anuais, para os valorizar. Motivação, aprendizagem e família foram as palavras escolhidas pelos colaboradores para descrever a experiência de trabalhar na empresa.

A curto prazo, a startup quer consolidar a presença em Portugal, crescer a equipa e trabalhar com marcas nacionais para oferecer mais métodos de pagamento e opções de envio. Já num horizonte de cinco anos, a meta é abrir um escritório local.

O entusiasmo não se faz apenas pelo lado do negócio. Com o lixo eletrónico a ser o fluxo que mais cresce em todo o mundo, produzindo-se anualmente cerca de 53 milhões de toneladas destes resíduos, de acordo com um organismo das Nações Unidas, comprar telemóveis recondicionados, em vez de novos, pode gerar um impacto relevante no meio ambiente, reduzindo em cerca de 70% a 80% a pegada de carbono - "é isso que me motiva e o que torna esta atividade ainda mais emocionante", comenta o CEO.

O Dinheiro Vivo visitou o centro de recondicionamento da Swappie em Talín, na Estónia, para ver de perto como nasce um recondicionado. É a este espaço de 2500 metros quadrados, dividido por três pisos, que os smartphones chegam diretamente de grandes fornecedores (B2B) ou consumidores finais (C2B), para passarem por um processo de 52 etapas, que incluem a identificação do modelo, atribuição de um código que dá acesso ao histórico do equipamento dentro da fábrica, diagnóstico, ativação, reparação e classificação do aparelho (premium, excelente, muito bom ou satisfatório), limpeza e empacotamento.

De acordo com Pavel Tsukrejev, diretor de operações da empresa, a maioria dos iPhones recebidos precisam de reparação (o rácio situa-se entre os 30% e os 80%), assumindo a substituição de bateria e ecrã quase 60% das intervenções. Se os meses de setembro, quando a Apple lança novas tecnologias, são a altura em que se regista um maior número de vendas dos consumidores à marca, eventos como a Black Friday e o Natal representam os picos anuais do negócio para a Swappie, que nestas épocas reintroduz uma maior quantidade de iPhones no mercado - a um preço que se estima cerca de 40% inferior ao de um dispositivo pronto a estrear -, prolongando, assim, o seu tempo de vida.

Enquanto um telemóvel em segunda mão passa simplesmente para outro utilizador, um recondicionado implica todo um processo que garante a sua operacionalidade, como se de um novo aparelho se tratasse. De um modo simplificado, esta é a real definição do conceito, que a startup finlandesa espera, a longo prazo, e já depois de garantir que é a número um em todo o mundo no segmento dos smartphones, poder passar a aplicar a outros dispositivos da marca de Steve Jobs.

A jornalista viajou a convite da Swappie

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