De Portugal para o mundo. A Tetra Pak vai investir 10 milhões de euros, entre este ano e o próximo, para aumentar a sua capacidade produtiva de palhinhas de papel na fábrica de Carnaxide. Quando estiver concluído, a empresa estará a produzir seis milhões de palhinhas ao dia.
Foi em julho de 2021 que a Tetra Pak anunciou a erradicação das palhinhas de plástico na sua fábrica em Lisboa, passando a produzir exclusivamente palhinhas em papel, antecipando-se em quatro meses à proibição total de venda deste tipo de produtos no mercado nacional. Agora, dois anos passados, a empresa prepara-se para reforçar a capacidade, com uma nova linha de produção.
Resultado de um investimento de 30 milhões para adaptar a unidade ao fabrico de palhinhas de papel, a Tetra Pak está agora a instalar uma terceira linha de produção, que deverá entrar em funcionamento a partir de outubro. O objetivo é que, até ao final do ano, Portugal consiga produzir cinco milhões de palhinhas ao dia e subir para os seis milhões no próximo ano. Cerca de 92% da produção é destinada aos mercados internacionais, com especial destaque para o Reino Unido (17%), Alemanha (9%), Guatemala (8%), Canadá (7%) e Costa Rica (6%).
"A Europa está na vanguarda da legislação da sustentabilidade, e como estamos bastante presentes no mercado, faz sentido que grande parte dos nossos desenvolvimentos sejam aqui implementados. Na verdade, a Europa é uma grande influenciadora de outros mercados. Na Índia, por exemplo, a questão da substituição das palhinhas de plástico por papel também já se coloca e começa-se a ver interesse noutros países", diz o diretor-geral da Tetra Pak Iberia, Ramiro Ortiz.
Citaçãocitacao12,4 mil milhões de euros foi a faturação da Tetra Pak a nível mundial. A empresa vende para 160 países, dá emprego a quase 24 mil trabalhadores e conta com 52 fábricas, 27 empresas comerciais, 87 escritórios e seis centros de I
A sustentabilidade é uma das grandes preocupações da empresa, que se assume como líder mundial em soluções de processo e embalagem alimentar, com vendas de 12,5 mil milhões de euros em mais de 160 países. E se é verdade que a embalagem de Tetra Pak, aquela que vemos nos pacotes de leite ou de sumos, é feita em 75% de papel, há ainda trabalho a fazer quanto aos restantes 25%.
A reciclagem é uma das grandes apostas, o que levou a multinacional a investir 30 milhões de euros, no ano passado, em todo o mundo, para promover a recolha e reciclagem de embalagens de cartão para bebidas, valor que pretende aumentar para 40 milhões anuais na próxima década. A empresa colabora com mais de 200 entidades ou sistemas de reciclagem no mundo, como é o caso do Sistema Ponto Verde.
Só em Portugal, foram recolhidas, no ano passado, 2161 toneladas de cartão para bebidas, o que representa um aumento de 10% face a 2021, embora esteja ainda muito longe dos números da vizinha Espanha. É que, enquanto em Espanha a taxa de recolha destes materiais é de 82%, em Portugal ronda os 38%. Uma diferença que justificou um investimento de seis milhões de euros, no país vizinho, para a reciclagem do local do polialumínio, a película de plástico com alumínio do interior das embalagens que antes era enviada para a China e agora passará a ser reciclado em Espanha. "Vamos inclusivamente poder absorver materiais de outros países", explica Ramiro Ortiz.
Citaçãocitacao193 mil milhões de unidades. Foram as embalagens vendidas pela Tetra Pak em 2022. Recolhidas e enviadas para reciclagem foram 1,2 milhões de toneladas em todos o mundo (2,1 toneladas em Portugal), com o grupo a investir 30 milhões para promover a reciclagem.
A empresa gostaria de instalar uma unidade similar em Portugal, mas não há ainda mercado para isso. "É muito importante aumentar a taxa de recolha, e temos trabalhado com as várias entidades nessas ações de consciencialização dos consumidores, porque, sem um volume importante de coleta, eu não consigo viabilizar uma indústria de reciclagem local. Pelo menos de papel. Porque o polietileno e o alumínio podem continuar a ser enviados para Espanha, porque já é um material muito mais leve e, consequentemente, muito mais fácil de transportar", diz, sublinhando que, com escala, é possível "baixar custos e tornar todo o sistema mais atrativo".
O objetivo é atingir a neutralidade carbónica das suas operações até 2030 e a neutralidade carbónica na cadeia, incluindo fornecedores e clientes, até 2050. No ano passado, a Tetra Pak reduziu em 39% as suas emissões operacionais de gases com efeito de estufa, ao utilizar 84% de energia de fontes renováveis. Na Ibéria, esse valor é já de 100%, há muitos anos.
Por outro lado, e antecipando também a alteração legislativa na Europa que vai obrigar a que, a partir de julho de 2024, todas as embalagens de bebidas tenham a tampa unida, de modo a facilitar a reciclagem, a Tetra Pak investiu 40 milhões de euros na sua fábrica em Sevilha para desenvolver estas novas embalagens que, em Portugal, estão já a ser usadas pelas marcas Compal e Um Bongo, anunciou a Sumol+Compal. "Temos o compromisso de, até 2030, investirmos 100 milhões de euros ao ano, globalmente, em inovação de produtos para a reciclagem", diz Ramiro Ortiz.
Mas há já inovações em marcha para substituir a barreira de alumínio que vai dentro das embalagens por uma de cartão. "É um processo de longo prazo. Vamos aumentar ainda mais a quantidade de material renovável das nossas embalagens. Já fizemos o teste de mercado e vamos lançar este produto no segundo semestre", refere o responsável. Portugal foi escolhido para este lançamento, embora Ramiro Ortiz não levante muito o véu sobre o novo produto. "Os cliente pedem produtos cada vez mais sustentáveis e é assim que se desenvolvem parcerias. Neste caso, é uma embalagem que requeria um produto específico e havia o interesse do cliente", sustenta.
Citaçãocitacao600 milhões de euros. É a faturação estimada da Tetra Pak Iberia para o atual exercício, face aos 560 milhões do ano passado. Um crescimento que advém sobretudo do aumento da inflação. Portugal vale cerca de um quinto das vendas totais.
Em 2022, a Tetra Pak vendeu mais 12 mil milhões de tampas e quase nove mil milhões de embalagens com plástico de origem vegetal a nível mundial. Destas, dois mil milhões de unidades foram colocadas na Península Ibérica. "Somos o principal mercado que utiliza polímeros vegetais e isso traz uma redução de emissões de CO2 muito importante, porque se deixa de usar plástico de origem fóssil, para usar a cana do açúcar", frisa.
As chamadas embalagens neutras em carbono foram lançadas no mercado espanhol, em abril, embora estejam disponíveis também em Portugal e noutros países que o desejem. "São embalagens que têm 89% de material renovável incorporado. E também temos embalagens com polímeros reciclados, que estão a ser usadas por marcas francesas. Na verdade, estamos a formar uma carteira de produtos inovadores e amigos do ambiente através da qual o cliente pode escolher o que mais se coaduna com a sua marca", refere o diretor-geral da Tetra Pak Iberia. Ramiro Ortiz é perentório: "O desafio é fazer as embalagens recorrendo ao máximo possível de materiais renováveis. O que não conseguimos neutralizar por essa via, neutralizamos através dos créditos de carbono".
Para este ano, a Tetra Pak Iberia estima uma faturação de 600 milhões de euros, contra os 560 milhões de 2022, com Portugal a valer cerca de um quinto deste valor. Mas este crescimento é, sobretudo, efeito da inflação, garante Ramiro Ortiz. O aumento dos custos dos materiais e da energia criaram "uma situação muito delicada" nos últimos dois anos.
"No final, toda a cadeia de valor é obrigada a repassar esses aumentos de custos gerados pela inflação para a frente e, no final, o produto chega mais caro ao consumidor. E a verdade é que, tanto em Portugal como em Espanha, a inflação na indústria alimentar foi ainda maior que a inflação geral e isso está a afetar o consumo. Notamos já uma queda nas principais categorias", diz o gestor. E acrescenta: "A pressão sobre o consumo varia, mas no caso de Portugal estamos a assistir a algum crescimento de consumo nos sumos, mas com uma quebra muito forte no leite e no concentrado de tomate."