Encontrei dezenas deles nos Estados Unidos. Jovens na casa dos 20 anos já com carreiras e fortunas feitas. Não sabem literalmente o que fazer ao dinheiro que ganham. Vi alguns comprarem apartamentos de milhões nas zonas mais caras de Los Angeles e assinar os cheques de chinelos e calções, enquanto teclavam furiosamente. Andam nos carros de última geração e são os que mais gastam. O mundo parece girar apenas em redor deles. Em poucos anos, estes jovens passaram de estudantes a profissionais de sucesso. Apesar disso são infelizes e vivem em angústia permanente.
Tiveram ao contrário da maioria de nós carreiras meteóricas de sonho, em especial nas grandes tecnológicas, e já atingiram o topo. No entanto poucos têm coragem de dizer que tudo isso é mantido à custa de muito medo e sofrimento. Hoje, seja nos Estados Unidos ou aqui em Portugal, trabalhar nas grandes empresas de sucesso pode ser o sonho de qualquer jovem mas o preço pessoal é cada vez mais alto. Um polémico artigo, publicado pelo New York Times, veio colocar o dedo na ferida. Na Amazon, empresa de sonho das novas gerações, muitos trabalhadores choram nas secretárias por causa da pressão em que vivem, quase não têm fins de semana nem férias, e devem estar sempre disponíveis para responder a e-mails, mesmo durante a madrugada. E se, por motivo de doença ou até por terem um filho, deixam de cumprir os objetivos, são postos de lado. Um destes jovens confessava que até na cama sentia que estava a ser pressionado pelo patrão!
Esta é a verdadeira imagem do atual sucesso. Exige-se às novas gerações que sejam mais rápidas, que trabalhem sem parar e que atinjam objectivos utópicos. A situação foi agora bem denunciada ao longo da primeira página de um dos jornais mais prestigiados do mundo. Um artigo que veio servir como uma espécie de despertador para o mundo laboral. Vale a pena trabalhar e ter tanto sucesso sem felicidade? Será que as empresas sobrevivem com trabalhadores cada vez mais angustiados e com medo?
Muitos e qualificados jovens trabalhadores começam já a abandonar estes empregos, ditos de sonho, apenas porque são infelizes. Muitas das maiores empresas mundiais tentam por isso desesperadamente inverter a situação. A gigante Netflix anunciou que vai dar uma licença parental de um ano para quem tenha filhos ou adopte crianças. Seguiu-se a Google e outras empresas que passaram a construir salas de Lego e de recreio para distrair os empregados. Algumas estão até a contratar conselheiros para tornar os trabalhadores mais felizes e saudáveis.
Eu pertenço a outro tempo e a outra realidade. Demorei muitos anos para perceber que a minha felicidade é bem mais importante que o meu trabalho. Por muito que goste da minha profissão, quero obviamente ser feliz e luto finalmente por isso. Só espero que este alerta mundial resulte, e que as novas gerações não demorem tanto tempo como eu para perceber o que deveria ser óbvio.