"Somos um centro de tecnologias criativas, extracurriculares, que funciona como um complemento àquilo que é a escola formal." É assim que, de uma forma muito sucinta, Filipa dos Santos Cunha, diretora do Tumo - o primeiro em Portugal da cadeia arménia de ensino disruptivo de competências digitais e tecnológicas que está a fazer furor pela Europa -, descreveu a escola que vai dirigir a partir de segunda-feira. Na sessão inaugural, que decorreu nesta quinta-feira, 28 de setembro, na sua sede, o icónico edifício do Correio e Telégrafo de Coimbra, a responsável confirmou o interesse e êxito que o centro está a despertar na cidade: "Há cerca de 6000-7000 jovens entre estas idades [12-18 anos] em Coimbra, portanto, atingimos mais ou menos esses números, sim. 25% das crianças e jovens de Coimbra inscreveram-se no centro - são 1050."
Na cerimónia estiveram presentes os responsáveis de todos os mecenas patrocinadores do Centro Tumo em Portugal, entre os quais, a Altice Portugal, que cedeu o edifício da sede, até aos dois fundadores da unicórnio Feedzai, Paulo Marques e Pedro Bizarro, e Miguel Lucas, da Oxy Capital, que "venderam" a ideia a Pedro Santa-Clara - o empreendedor que depois reuniu todos os apoios para o trazer para Portugal -, e mesmo os representantes das entidades públicas: Câmara de Coimbra e Ministério da Coesão Territorial, com José Manuel Silva e Ana Abrunhosa, respetivamente.
Todos se congratularam com a inauguração do centro Tumo em Coimbra, 10.º em todo o mundo, pelo impacto na juventude local e do país, em termos de conhecimento e elevador social.
"O que nós fazemos é dar conhecimento em tecnologia e criatividade. Desde programação a robótica, a música e design gráfico, a jovens entre os 12 e os 18 anos, de forma gratuita. Portanto, independentemente do nível socioeconómico dos jovens, eles podem vir e podem experimentar", explica Filipa Cunha.
A responsável detalha que os programas são presenciais, na modalidade de self-learning, um sistema de interação entre as pessoas, e com workshops, onde há coaching com mentores especialistas, que ocorrerão depois dos horários escolares.
São oito as áreas de aprendizagem, sempre viradas para a interceção da tecnologia com a criatividade: além das quatro já referidas pela diretora, há ainda fotografia, animação, desenvolvimento de jogos e cinema.
Filipa Cunha admite que não tem dados estatísticos dos outros centros Tumo para partilhar, mas "há três grandes resultados que avança que já são esperados", porque são o verificado nas escolas congéneres: "A primeira é aumentar a autoconfiança dos jovens, a sua autoestima, que são capazes de fazer aquilo que pretendem fazer; a segunda são as notas escolares, que normalmente sobem, melhoram com a participação no Tumo; e a terceira é o apoio que nós damos às escolhas que os jovens vão fazer no pós-secundário ou para o mercado de trabalho." E isso mesmo foi confirmado pelos jovens com quem o Dinheiro Vivo foi falando.
Jonathan Monteiro só tem 12 anos, mas foi um dos que conseguiram entrar já nesta primeira vaga de alunos Tumo, assim como a irmã, Juliana, de 15. Para isso, muito contribuiu a mãe, Joyce, que esperou pela madrugada do primeiro dia de inscrições para candidatar ambos os filhos.
"O que me atraiu foi a quantidade de novas coisas que eu poderia aprender num lugar que tem boas fontes, boas informações, muitas coisas divertidas e maneiras boas para aprender", diz. Jonathan admite que não irá experimentar as oito áreas possíveis e que ainda está a pensar nas suas preferências, mas está a pender para robótica, cinema e animação. Além do que vai aprender, outra das mais-valias do Tumo, afirma, é acreditar que, apesar de ainda ser cedo - está só no 6.º ano, diz - o centro "ajuda a pensar no futuro", para um dia definir o quer seguir em termos de carreira.
Juliana, a irmã, gosta de Artes e no Tumo tem "expectativas de poder retirar uma experiência muito mais moderna" do que a que vai tendo na escola comum. Aqui espera fazer áreas ligadas à cinematografia.
Inês Oom de Sousa, presidente da Fundação Santander, um dos parceiros do Tumo, depois do forte apoio, durante mais de uma década às universidades e, mais tarde, como cofundadora da 42 Lisboa e Porto.
"Consideramos que, para sermos verdadeiramente uma instituição que apoia a Educação, temos de apoiar todas as faixas etárias. Os estudos recentes mostraram que há um grande abandono escolar ainda e que o elevador social em Portugal, portanto, a mobilidade socioeconómica e social, está na cauda da Europa. Para nós conseguirmos combater isto e acionar o famoso elevador social, apoiamos estes projetos."
"Em nome do Governo, gostaria de vos dizer que nos associamos a este projeto, que é um projeto de inclusão, porque vai tratar a todos por igual e não há melhor elevador social, por permitir às crianças atividades a que muitas vezes só têm acesso quando os pais podem pagar. Temos o compromisso de, pelo menos, cinco centros Tumo no país." O anúncio foi feito por Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial durante o sue discurso na cerimónia de inauguração desta escola, em Coimbra, na última quinta-feira.
A notícia surpreendeu os presentes, por um lado, porque o Executivo não se envolveu na iniciativa logo de início, por outro, porque a expansão da rede prevê a construção de mais 10 centros no país, como revelou ao DV Pegor Papazian, um dos cofundadores arménios do conceito, ao longo dos próximos cinco anos, estando as de Lisboa e Porto previstas para os próximos dois anos. Braga, em parceria com a Universidade do Minho, eventualmente será a próxima na calha.
(Em atualização)