Tupac Martir. Uma viagem virtual entre a memória e a perda

Norte-americano de 44 anos está em Portugal há um ano a explorar a arte multimédia. "Cosmos ​​​​​​​Whitin Us" foi a primeira obra exibida no país.
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Tupac Martir é um artista multimédia norte-americano, de 44 anos, que há um ano decidiu mudar-se para Portugal - "um lugar cheio de talento", como começa por referir em entrevista ao Dinheiro Vivo - para trabalhar na sua arte. "Cosmos Within Us" é o título do primeiro produto multimédia que apresenta em Portugal - entre os dias 3 e 5 de novembro, já esteve em exibição no auditório da Fundação Champalimaud.

O artista, que já foi programador informático, estudante de psicologia e de religião e filosofia, é hoje diretor da Satore Studio. E propõe-nos, agora, a acompanhá-lo numa viagem multimédia, que funde as fronteiras entre a realidade virtual, performance, cinema e música, através da combinação de tecnologia de ponta com paisagens sonoras, cheiros e toque, para uma intrincada ligação entre a memória e os sentidos. Como? Apresentando-nos a história de Aiken, um homem de 60 anos com Alzheimer, que luta para preservar a memória - uma luta perdida contra uma mente em declínio.

"Cosmos começou como um conceito de perda, o que significa perder a inocência, perder a infância, perder alguém que se ama, todas essas coisas são importantes para todos nós, mas o pior é perdermo-nos de nós próprios. Por isso o espetáculo tornou-se sobre Alzheimer", explica Tupac Martir, que, no fundo, dedica-se a criar um diálogo entre a ciência e a arte e como se relacionam entre si.

"A memória é tudo o que somos", considera. Aliás, essas são as primeiras palavras que surgem no espetáculo.

Martir não teve medo em embarcar numa viagem à memória, às raízes de um ser. Pelo contrário, quis explorar como o sentimento de perda molda o ser humano, e em que medida isso nos afeta. "Perdemos tudo duas vezes, incluindo nós mesmos", reitera.

Este espetáculo revela-nos que Tupac Martir quer ir ao fundo da questão, que a memória, apesar de ser um tema tão complexo quanto assustador, tem um papel determinante em todos nós.

"Como artista, acredito que retiro da minha memória as experiências que tenho, as coisas que vivi, a maneira como isso encarna no que faço. Ser capaz de brincar com a forma como a memória funciona e como nos lembramos das coisas foi uma exploração incrível que tínhamos que fazer", sublinha. E a melhor forma de mostrar a preponderância da memória foi explorar uma "terrível" doença, recorrendo a várias técnicas para mostrar como a memória funciona.

A tela dessa mostra foi, sobretudo, a realidade virtual, que Tupac Martir considera ser um "playground [recreio, em língua portuguesa] incrível". "Não apenas pelo que podemos fazer no momento, mas também porque nos permite criar e identificar novas tecnologias e como se pode expandir o que estamos a fazer", acrescenta.

A realidade virtual é um mundo de experiências? "Estamos numa fase exploratória [desta técnica], filmagens que seriam impossíveis de fazer por causa do orçamento ou até mesmo pela exequibilidade delas".

A arte de Martir esteve em exibição na Fundação Champalimaud, não estando para já novas datas previstas.

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