Vantagens e os riscos da IA para o ensino

O potencial transformador da Inteligência Artificial quando aplicada ao ensino esteve em análise na edição desta semana do Educar tem Ciência. 
João Marôco, professor catedrático. Foto: Rita Chantre/Global Imagens
João Marôco, professor catedrático. Foto: Rita Chantre/Global Imagens
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Seja como forma de personalizar a aprendizagem dos alunos ou como meio para libertar os docentes de tarefas administrativas para que possam investir mais tempo nos aspetos qualitativos do ensino, a Inteligência Artificial (IA) pode fazer a diferença no sistema educativo. Esta semana, o professor catedrático João Marôco analisa as vantagens e os riscos da IA em mais uma edição do Educar tem Ciência, projeto da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo.

De forma simples, a IA pode ser explicada como um “conjunto de regras probabilísticas que faz com que o software dê a resposta que os humanos estariam à espera de encontrar”, explica João Marôco. Existem diferentes tipos de IA, nomeadamente a aprendizagem automática (machine learning), o processamento de linguagem natural (NLP) ou a computação visual. “Nos últimos anos, os programas evoluíram de modelos de processamento de linguagem natural para modelos generativos em que o modelo não olha apenas a palavra que pode vir a seguir como para as palavras anteriores e para o contexto em que surgem”, lembra João Marôco. Ferramentas como o ChatGPT, da OpenAI ou o Gemini, da Google, usam a IA generativa e expandiram este modelo de linguagem.
IA na escola

“A IA tem potencialidades enormes na educação”, acredita João Marôco. Desde logo com o recurso a ferramentas como o ChatGPT pelos alunos, criando “tutorias personalizadas”. “Um aluno que tem dificuldade em perceber um determinado conceito pode perguntar ao ChatGPT para lho explique passo a passo”, exemplifica João Marôco. Tendo em conta que cada criança tem um ritmo de aprendizagem próprio, a IA funciona aqui como uma espécie de explicador particular que se adequa às necessidades do aluno. “Pode ajudar a compreender conceitos complexos, responder a perguntas, fornecer resumos de texto e ajudar à preparação para os exames”, refere Marôco.

Para os professores a IA pode revelar-se útil para criar cenários de realidade virtual e gamificação, como forma de envolver e estimular os alunos para a aprendizagem. Além disso, também pode ser usada no planeamento de aulas e libertar os docentes de tarefas mais administrativas como a avaliação. “Isto permite aos professores ganhar tempo para se concentrar nos aspetos qualitativos do ensino”, destaca João Marôco, que refere a identificação de necessidades particulares dos alunos como outro dos potenciais. “Se houver um conjunto de registos que são processados pela IA, a IA pode alertar para o facto de o aluno não ter cumprido esta ou aquela tarefa”, diz.

Os riscos associados
Mas a IA não está isenta de riscos. Desde logo o de poder fornecer informação incorreta. “A IA ‘aprende’ com base no que lhe é fornecido para treino. Por exemplo, o ChatGPT ‘aprende’ com base no que está na internet e muita da informação que está na internet não está correta”, alerta João Marôco que lembra ainda que as bases de dados a que recorrem estas ferramentas podem estar desatualizadas e que o contexto e o modo como a pergunta é colocada também podem dar origem a respostas totalmente diferentes. “Isto serve para explicar porque é que o papel do professor é fundamental: é alguém que tem conhecimento prévio e pode validar, verificar e contextualizar a informação. Também é muito importante para ensinar os alunos a ter um pensamento crítico e a questionar a informação que recebem”, sublinha João Marôco.
O menor desenvolvimento das capacidades cognitivas é um dos riscos associados ao cada vez maior peso da IA e da digitalização. Outro é a fraude académica - através do plágio ou do recurso indevido da informação - e o acentuar do fosso de conhecimentos e competências dos alunos de diferentes estratos socioeconómicos, com benefício dos que mais facilmente acedem a versões pagas das ferramentas de IA, por exemplo.

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