Vestir um papa pode custar cerca de 25 mil euros. Leão XIV fugiu ao fornecedor habitual

Papa Leão XIV na varanda da Basílica de São Pedro, na sua primeira aparição perante os fiéis
Papa Leão XIV na varanda da Basílica de São Pedro, na sua primeira aparição perante os fiéisEPA/VATICAN MEDIA HANDOUT
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O novo sumo pontífice já assomou à janela do Vaticano, depois de quatro votações. Foram precisos menos de dois dias para eleger Leão XIV, mas há vários dias que as vestes que o novo papa envergou já estavam a ser preparadas.

Geralmente tudo acontece nos dois andares da Ditta Annibale Gammarelli, a empresa familiar que desde 1798 serve grande parte do colégio presbiterial e cardinalício em Roma. No entanto, e apesar de receber várias encomendas oficiais durante os dias que antecedem a escolha do novo chefe da Igreja Católica, os funcionários da loja estão, por norma, totalmente focados na elaboração das vestes papais que têm de estar preparadas antes do início do Conclave. Exceto desta vez. Segundo informação da AFP, o Vaticano optou por fazer a encomenda a um outro alfaiate que costuma trabalhar com o clero: Raniero Mancinelli. A alfaiataria vestiu os três últimos papas, mas nunca tinha sido o responsável por preparar as vestes da primeira aparição pública.

Recorde-se que as regras dizem que cada peça de vestuário tem de ser feita em três tamanhos diferentes - pequeno, médio e grande - por forma a servir ao próximo ocupante do trono de Pedro, seja ele qual for.

Tal como acontece com a família Gammarelli, também o ateliê de Mancinelli tem recebido pedidos de cardeais nos últimos dias, mas, em declarações ao jornal National Catholic Reporter, referiu há uns dias que preferia não atender essas encomendas, a bem do decoro. “Vamos esperar até depois do Conclave. Não gostaria que um deles se tornasse papa com um botão de ouro que tivesse sido costurado recentemente”, cita a publicação. Ao jornal Globo, Mancinelli, de 86 anos, referiu que “certamente é um grande prazer, uma emoção”, preparar as vestes papais.

É certo que é praticamente impossível saber quanto custam as vestes pontificais que o cardeal recém-eleito enverga quando, pela primeira vez, acena à multidão enquanto chefe da Igreja Católica. Até porque, revela o alfaiate, os itens preparados pelos responsáveis dos ateliês são um presente ao novo pontífice. Mas o que se sabe é que uma batina e um solidéu assinados por Francisco foram arrematados em leilão por 25 mil euros. Se tivermos em conta que o anterior papa era conhecido pela sua simplicidade, não será errado, nem injusto, afirmar que a roupa que Leão XIV usou ontem em Roma terá um valor de mercado mais elevado do que esse.

Até porque, recorde-se, Francisco apareceu à janela do Vaticano trajando apenas uma alva branca, com a cinta da mesma cor e uma cruz simples prateada, mas dispensando capas e adornos, geralmente mais ostensivos e também mais onerosos. Na ocasião, o papa explicou que a sua escolha refletia bem a opção pelo nome que tinha adotado, inspirado em S. Francisco de Assis, conhecido pela vida de simplicidade e de privação junto dos mais pobres e da natureza.

Leão XIV envergou, ontem, Mancinelli, mas agora será uma opção pessoal aquela que fará para quem o continuará a vestir ao longo do seu pontificado.

E em relação a isto, não há regras: se a maioria dos papas eleitos desde o século XVIII recorreu à família Gammarelli, o papa Pio XII, por exemplo - cujo pontificado foi entre 1939 e 1958 - preferia ter o seu alfaiate pessoal ao serviço, escreve também a imprensa internacional.

Mancinelli vestiu Bento XVI, por exemplo, e contou também ao jornal Globo que este procurava tecidos mais pesados, mais bonitos e preciosos. “Um papa mais friorento precisa de um tecido mais quente. Era o caso de Bento XVI”, revelou na ocasião.

Recorde-se também que as vestes brancas normalmente envergadas pelo chefe da Igreja Católica são uma tradição que remonta ao século XVI. Foi pela primeira vez usada por Pio V, que a manteve durante todo o pontificado, e acabou por se tornar a regra dos seus sucessores.

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