O governo português aprovou recentemente a Estratégia Portugal 2030. No contexto da atual situação económica e no meio de uma profunda crise financeira internacional, continua a ser evidente no nosso país a falta de um modelo de desenvolvimento que seja partilhado sob a forma de contrato estratégico entre o Estado e a Sociedade Civil. Os atores económicos e sociais (municípios, empresas, universidades, centros de inovação) têm que saber aproveitar esta nova oportunidade para em conjunto e num contexto de partilha aberta e colaborativa construírem soluções de futuro que sejam verdadeiras respostas estruturais à crise. Precisamos por isso de fazer desta Estratégia Portugal 2030 uma via positiva para uma aposta sustentada no nosso futuro coletivo.
A Estratégia Portugal 2030 foi concebida como um instrumento inovador para dar resposta às novas exigências que a competição da economia global e os novos fenómenos sociais exigem ao nosso país depois desta pandemia. O balanço de mais de 35 anos de Fundos Comunitários em Portugal é muito claro: aposta sustentada na melhoria das infraestruturas do país, numa lógica não raras vezes pouco coordenada e monitorizada (veja-se a proliferação desnecessária de parques industriais e pavilhões desportivos municipais), falhas sucessivas nas ações de formação empreendidas ao longo das três intervenções levadas a efeito, resultados muito frágeis nas áreas essenciais da inovação, conhecimento e competitividade. Ou seja. Passado este tempo Portugal é um país de autoestradas com menos coesão territorial e crescentes desigualdades sociais numa Europa em grande indefinição de identidade.
A Estratégia Portugal 2030 não pode ser interpretada pelos atores nacionais como mais um instrumento financeiro utilizável para dar cobertura a uma crescente falta de financiamento nos circuitos tradicionais. Em tempo de crise financeira, impõe-se mais do que nunca um verdadeiro choque operacional que conduza a mudanças claras e necessárias: desativação das atividades empresariais sem valor, aposta maciça numa formação / educação que produza quadros reconhecidos pelo mercado, fixação de investimentos e talentos nas regiões mais desfavorecidas, criação de um contexto competitivo moderno voltado para a criatividade das pessoas e a qualidade de vida no espaço publico. É esse o desafio que temos pela frente neste tempo complexo e que nos obrigará a uma inteligência coletiva capaz de promover novas soluções integradas para o futuro.
É por isso que a aposta numa Agenda Coletiva para o futuro tem que ser a marca desta Estratégia Portugal 2030. Um sinal de aposta nas políticas do conhecimento, centradas em territórios inteligentes e apostas na dinamização de verdadeiros trabalhadores criativos. Ideias muito simples e claras e para as quais mais não é necessário do que um pacto de cumplicidade estratégica e convergência operacional entre todos os que têm responsabilidades - atores públicos, empresas, universidades e centros de saber. A Estratégia Portugal 2030 não pode ser interpretado como um mero instrumento conjuntural de resposta a uma crise estrutural mas antes como uma aposta estrutural capaz de alterar a conjuntura no futuro. Tem que ser no fator catalisador para uma agenda de futuro.
Portugal não pode perder esta oportunidade de alteração do seu paradigma de desenvolvimento estratégico. A Estratégia Portugal 2030 é um percurso que a todos nos deve mobilizar para um sentido de confiança estratégico. Em tempo de profunda crise financeira, têm que ser acionados mecanismos de resposta coletiva a esta agenda que temos pela frente. A Estratégia Portugal 2030 tem que ser encarada como um passo em frente no sentido de consolidar o sentido de confiança e competência para o futuro.
* Economista e Gestor - Especialista em Inovação e Competitividade