Um estudo preparado pelo grupo de consultoria Boston Consulting Group em conjunto com a cimeira anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, Eurafrican Forum, veio revelar que o PIB de África deve chegar aos 29 triliões de dólares (25 biliões de euros) em 2050, uma forte subida face aos 2,5 triliões de dólares (2,1 biliões de euros) que foram registados em 2019.
O crescimento da economia, que o relatório sobre a relação entre a África e a Europa num mundo pós-Covid estima dever-se-á ao aumento dos gastos feitos pelos consumidores e a uma taxa de crescimento populacional esperada na ordem dos 2,5 %, “a mais alta do mundo”, destaca o documento publicado esta semana.
Para Patrick Dupoux, diretor-geral e partner sénior para África do Boston Consulting Group, “a Europa tem riqueza, a África tem crescimento.” O fator demográfico é determinante para avaliar o potencial do continente africano. “Espera-se que a participação da África na população mundial atinja 26% até 2050 e que nessa data 59% da população esteja concentrada nas zonas urbanas do continente africano.
A população em idade produtiva da África deve ser a segunda maior do mundo, depois da Ásia, atingindo quase mil milhões em 2030. “Essa força de trabalho jovem, incluindo um número crescente de africanos com boa educação e globalmente conectados, irá desencadear novas oportunidades”, defende o BCG.
Entre os dois continentes, os laços são historicamente fortes e de longa data a avaliar pelos acordos e projetos de parceria, como, por exemplo, o Acordo de Cotonou de 2000, a base da parceria entre a União Europeia (UE) e 79 países da África, Caraíbas e Pacífico para erradicar a pobreza e apoiar o desenvolvimento económico; a Estratégia Conjunta África-UE de 2007; e os Acordos de Parceria Económica.
A Europa é o principal investidor e parceiro comercial da África, representando 42% do total do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) na África, de 2010 a 2019. A África dirigiu 36% de todas as suas exportações para a Europa em 2019. No setor agrícola, a Europa é o principal mercado para o Quénia e Marrocos, recebendo 80% das exportações de horticultura do Quénia e 60% da produção agrícola de Marrocos.
Uma prova forte do compromisso da EU com a África é a ajuda contínua ao desenvolvimento que ascendeu a 23 mil milhões de euros em 2018, o que representa 40% do valor de toda a ajuda oficial aos países em desenvolvimento da UE atribuída a nível mundial.
A questão agora é que a pandemia pode desacelerar a economia africana no curto prazo, estimando-se que 95% das empresas sofram com isso. “Esta é a hora certa para considerar uma parceria win win”, em que ambas as partes saiam a ganhar, defendeu Patrick Dupoux durante a apresentação do relatório esta semana no Eurafrican Forum. “A importância estratégica da Europa para a África será ainda maior após a Covid-19.”
Diversificar a cadeia de abastecimento
“Redesenhar as cadeias de abastecimento no mundo, reduzindo a dependência da China” é fundamental para o responsável por África do Boston Consulting Group. A Covid-19 expôs a dependência da Europa na cadeia de abastecimento global, com 78% dos fabricantes, grossistas e retalhistas europeus a relatar um impacto negativo de curto prazo. Assim, os esforços para diversificar as redes da cadeia de abastecimento tornaram-se uma prioridade para muitos governos e empresas na Europa.
As relações económicas entre a África e a Ásia estão cada vez mais fortes. “A China quase quadruplicou o IDE em África, tornando-se o seu maior investidor, de 2010 a 2019.” A China também é o maior financiador na construção de infraestrutura em todo o continente.
A Índia substituiu os Estados Unidos como o segundo maior parceiro comercial bilateral da África, atrás da China. Os Emirados Árabes Unidos tornaram-se o quinto maior fornecedor de IDE em África, de 2010 a 2019.
Enquanto isso, a África começa a ser vista como “lugar para produzir”, com vários países interessados em fazer parte desta oportunidade. África do Sul, Egito, Marrocos, Nigéria, Gana e Etiópia estão a apoiar novos negócios no vestuário, têxtil, automóvel, eletricidade e maquinaria.
O aumento da participação africana na cadeia de valor global criará valor a nível local. “A África pode trabalhar com a Europa, no sentido de fornecer redes alternativas da cadeia de abastecimento, atraindo novos investimentos através de vários incentivos, incluindo a criação de zonas económicas especiais ou zonas de processamento de exportação com quadros legais e regulamentares claros”, aconselham os autores do relatório da consultora americana.
Na área da cultura, muito há ainda a explorar em África. A indústria cinematográfica da Nigéria, conhecida como Nollywood, é uma das maiores do mundo.
A música africana está a crescer em popularidade com festivais de música em grande escala, como o AfroChella de Gana que atraiu mais de 10 mil participantes em 2019.
Por fim, uma curiosidade que merece destaque é que a edição mais recente do Oxford English Dictionary incluiu 29 palavras e frases nigerianas, bem como 24 palavras sul-africanas, em reconhecimento da influência africana na língua inglesa.
Outros pontos fortes do continente africano na sua relação com a UE que foram destacados no relatório, são, por exemplo, a “integração regional” em África, o acordo de comércio livre entre os países africanos, as oportunidades no mercado das tecnologias digitais e nas energias renováveis.