A síndrome do ornitorrinco nos pagamentos digitais

Antecipar o futuro dos pagamentos implica entender o consumidor atual. E este, hoje, sofre da síndrome do ornitorrinco.
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Este estranho animal, que nasce de um ovo, tem um bico, membranas interdigitais, veneno no espigão traseiro das patas, está coberto de pelo e amamenta as suas crias, não é nem ave, nem réptil e ocupou os cientistas durante oitenta anos até chegarem a um consenso para o classificarem como mamífero.

Também o consumidor atual, que antes era de uma espécie só, passou a ostentar características de diferentes espécies em simultâneo. Explicamos melhor. Durante anos, os consumidores facilmente se segmentavam por tipo de canal utilizado (a loja, o telefone, a internet) existindo uma relação razoavelmente estável entre canais e meios de pagamento (cartão bancário e dinheiro na loja, cartão de crédito e pagamento de serviços na internet).

Hoje, é perfeitamente banal que um mesmo consumidor compre, num mesmo dia, de manhã, um casaco na loja da sua marca preferida, à tarde, uns sapatos, no site, e à noite, uma camisa na app através do seu smartphone. Não raro, também, terá usado o seu cartão de débito (quem sabe, dinheiro, à antiga), o seu cartão de crédito e, se for mais sofisticado, até o MB WAY, um MB NET ou outro meio de pagamento móvel ou digital.

Após décadas em que o pagamento com cartões bancários simplificou e uniformizou o ato de pagar, este consumidor “ornitorrinco”, multicanal, multidevice e multi app, é agora inundado por inúmeras opções de pagamento: a infalível, mas que não é cómoda; a cómoda, mas que ainda ninguém aceita; a espetacular, mas que não funciona aqui. O pagamento, que antes era quase invisível, conveniente e sempre constante, passou a ser uma escolha complexa.

Neste contexto, o desafio das empresas tecnológicas de pagamentos é o de oferecer aos consumidores (e comerciantes) soluções que, sendo adaptáveis às várias jornadas de compra, aos diferentes canais e aos diversos devices, permitam uma experiência de pagamento simples, conveniente, uniforme e de aceitação universal.

A experiência recente mostra-nos que não há uma fórmula de sucesso global, que sirva a todos os mercados. Com efeito, utilizadores de diferentes países têm adotado soluções díspares na hora de utilizar pagamentos móveis. Talvez contra intuitivamente, tem-se assistido à afirmação das soluções locais de pagamentos móveis e/ou digitais como as grandes vencedoras no respetivo mercado: a AliPay na China, a PayPal nos EUA, o BKash na Índia, mas também, em países mais pequenos, a Swish na Suécia, o Mobile Pay na Dinamarca ou a iDeal nos Países Baixos. Não é de estranhar, pois os comportamentos de pagamento sempre tiveram diferenças assinaláveis de país para país.

Num estudo recente, identificaram-se alguns elementos constantes dos modelos vencedores: uma proposta de valor atrativa (mais do que apenas uma tecnologia “cool”), acesso a uma base alargada de clientes, uma infraestrutura líder, tecnologia de última geração e ferramentas de fidelização.

De facto, estes elementos ajudam a explicar porque é que o MB WAY se tornou um enorme sucesso em Portugal, contando já com quase 1 milhão de utilizadores que usufruem desta primeira grande plataforma de pagamentos móveis de uso generalizado em Portugal.

Serão várias as futuras tendências de sucesso, mas o sistema de pagamentos ideal será sempre o invisível – aquele em que o utilizador não pensa, apenas usa de forma natural. Quando assim é, significa que a fórmula é vencedora e está entrosada na sociedade que serve.

Ricardo Chaves, Diretor Comercial da SIBS

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