A tokenização e os créditos de carbono azul

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Dentro das mais interessantes aplicações da inovação digital, e das aplicações da chamada web3 e da tecnologia de blockchain destaca-se a tokenização de ativos. Este processo é efetuado através de uma plataforma blockchain, através da qual o ativo real - que pode ser uma casa, arte, títulos financeiros ou outros - são digitalizados, encapsulando seu valor e direitos num token digital. Isto garante a propriedade direta, eliminando a necessidade de intermediários. Estes tokens, que não são mais que partes de código alocado num blockchain, com dados sobre ativos e passivos subjacentes, que podem incluir - entre outros - atributos, histórico de transações ou propriedade e viabilizam a negociação e transferência de titularidade e títulos de valor diretamente, e através do modelo de livro de razão digital. Em 2030, de acordo com uma análise do Citi GPS de 2023, o valor de ativos reais e financeiros que podem estar tokenizados poderão ascender a ascender a cerca de 5 biliões de euros, num processo que teria ainda um potencial imenso, uma vez que representaria apenas cerca de 2% do total de ativos passiveis de ser digitalizados.

Mas quais são a vantagens da tokenização e porque é que cria valor e o diferencia dos mercados tradicionais de ativos? Existem várias vantagens em termos de potencial, mercado e escalabilidade, mas destacaria os seguintes: em primeiro lugar, porque cria melhores condições de liquidez, o que significa que ativos ilíquidos, mas com valor fundamental elevado podem beneficiar da tokenização, pois permite o seu fracionamento - logo reduzindo os valores mínimos de investimento - o que torna mais fácil negociá-los, transferir propriedade e atualizar registos;

Numa segunda reflexão, porque a tokenização cria eficiências operacionais, eliminando custos a ser repassados aos investidores, facilitando um acesso mais amplo, aumentando por isso mesmo o mercado para a colocação dos ativos. Todo o processo de distribuição - desde a criação de tokens até a transferência de propriedade - pode ser concluído na cadeia blockchain sem intermediários, eliminando esses custos de intermediação, e teoricamente qualquer pessoa conectada à internet pode abrir uma carteira para possuir tokens, tornando o mercado maior e mais rentável. Para os emissores dos ativos, e para os clientes globais.

Por fim, o mercado tokenizado traz maior transparência e confiança. A negociação de ativos do mundo real e de ativos financeiros e intangíveis, como títulos, arte e imóveis, e propriedade intelectual, geralmente depende da confiança entre compradores, vendedores e, às vezes, corretores e outros terceiros com experiência em direito, avaliação e transação. Ativos tokenizados habilitados para contratos inteligentes (smart-contracts) podem executar e registrar transações automaticamente e transferir propriedades quando condições predefinidas são atendidas, eliminando o risco de contraparte - a fraude é muito complexa de levar a cabo dentro da blockchain, e o histórico da propriedade e transações é muito sólido, tornado o ativo tokenizado muito mais credível e liquido.
Uma das utilizações mais interessantes da tokenização que estão a ser colocadas em prática em Portugal, estão relacionados com a emissão de créditos de carbono azul, que incluem o restauro e conservação de ecossistemas marinhos e costeiros.

O Fórum Oceano anunciou a semana passada que irá tokenizar estes mesmos créditos, para posteriormente os colocar em bolsa de ativos digitais em Hong Kong, onde serão posteriormente transacionados. Isto representa uma oportunidade de monetização dos créditos em mercado, que posteriormente pode ser usado para promover e financiar a sustentabilidade ambiental, contribuindo também para o crucial combate às alterações climáticas.

Economista, Presidente  do Internacional Affairs Network

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