No próximo ano, a Juventus completa 100 anos nas mãos de uma família: o atual presidente, Andrea Agnelli, é neto do empresário, Edoardo Agnelli, que em 1923, ao tornar-se presidente da Vecchia Signora, inaugurou uma das mais antigas e bem-sucedidas relações entre os mundos empresarial e desportivo.
A Juve levava 80 anos nas mãos dos donos da FIAT, portanto, quando em 2003 Roman Abramovich comprou o Chelsea - e, no entanto, foi a aquisição do clube londrino pelo oligarca russo que estabeleceu um antes e um depois na história do jogo.
Cidadão israelita e português além de russo, o magnata do gás deu o pontapé de saída na onda de aquisições de clubes em Inglaterra por milionários de outros países. Depois dos Blues, seguiram-se os colossos Manchester United, Manchester City, Liverpool e muitos mais - hoje, mais de metade (57%) dos clubes da Premier League estão nas mãos de estrangeiros e, no total das divisões profissionais do país, há 62 clubes nessas condições.
E a nova realidade foi exportada para outros pontos do globo, incluindo a Itália dos Agnelli, onde 10 clubes estão nas mãos de americanos ou chineses, incluindo Inter e Milan, os maiores rivais da Juve. Sob Abramovich, o Chelsea, até então um clube de médio porte para consumo interno, conquistou cinco vezes a Premier League - voltou a ser campeão 50 anos depois, em 2004/05 -, cinco vezes a FA Cup, três vezes a Taça da Liga, duas vezes a Supertaça local, duas vezes a Liga dos Campeões, duas vezes a Liga Europa, uma vez a Supertaça Europeia e uma vez o Mundial de Clubes, no mês passado.
O impacto de Abramovich fez-se notar também de forma significativa em Portugal, aonde chegaram 165 milhões de euros investidos pelo oligarca em atletas de Benfica (91 milhões) e FC Porto (74 milhões). O treinador José Mourinho, transferido dos dragões para os Blues em 2004, foi até hoje o mais icónico treinador da Era Abramovich, ao conquistar o tal título inglês, 50 anos depois.
Na semana passada, no contexto da guerra na Ucrânia e da consequente perseguição no Reino Unido aos capitalistas russos, Abramovich decidiu colocar, 19 anos depois, o clube à venda, com o dinheiro a reverter para as vítimas do conflito no leste europeu.
E agora? Se há um antes e um depois de Abramovich no futebol mundial, ninguém sabe o que vai acontecer depois do depois.