Alemanha, novamente na rota do crescimento
Recolocar a maior economia da União Europeia na rota do crescimento é o propósito de Friedrich Merz, o próximo chanceler alemão, que venceu as eleições legislativas antecipadas. Tem, ainda, como propósito reforçar a importância da Europa no cenário internacional, num contexto geopolítico e geoestratégico complexo.
O modelo económico alemão foi muito afetado pela invasão da Rússia à Ucrânia, face à dependência de energia proveniente da Rússia, com reflexo na subida do preço dos bens energéticos. Junta-se a concorrência feroz da China na indústria automóvel, um setor muito relevante para a Alemanha e a União Europeia. A perda de competitividade surge pela forte aposta da China neste setor, bem como pelo atraso em termos de inovação sentido em geral no setor automóvel alemão e europeu, como apontado no relatório Draghi.
Indicadores como o Purchasing Managers' Index (PMI) da indústria da Alemanha – que engloba dados da produção, encomendas, emprego e stock de matérias-primas, entre outros – demonstra que a atividade industrial na Alemanha deverá continuar a atravessar dificuldades nos próximos tempos.
Conseguir que a Alemanha volte a ter uma economia pujante, com um efeito de arrastamento na economia europeia como um todo, será muito importante para Portugal. A Europa é destino de mais de 70% das exportações portuguesas de bens e a Alemanha é agora o nosso segundo principal parceiro comercial (cliente e fornecedor, depois da vizinha Espanha). A subida à segunda posição no ranking dos clientes internacionais ocorreu no ano passado, em resultado do aumento expressivo das vendas para este mercado (+17,8%). Três quartos do crescimento global das exportações portuguesas de bens assentou num único mercado, precisamente o alemão, apesar de enfrentar uma recessão.
Para além da questão estritamente económica, os resultados eleitorais mostram claramente a relevância da questão demográfica. A imigração, vista pelos eleitores como um assunto controverso, é um desafio para a Alemanha (tal como é para Portugal), perante as necessidades de investimento acrescidas, uma taxa de desemprego inferior a 4% e um índice de envelhecimento que é o quinto mais elevado da União Europeia (Portugal é o segundo). O desafio demográfico tem de ser visto em termos globais, a nível europeu, especialmente a questão da imigração, que é necessária, mas tem de ser, como por diversas vezes tenho referido, com políticas adequadas.
*Luís Miguel Ribeiro é Presidente do Conselho de Administração da AEP – Associação Empresarial de Portugal