O Altice Labs completou esta semana seis anos de atividade sob a insígnia e orientação do grupo de Patrick Drahi. Alcino Lavrador, diretor-geral do braço tecnológico do grupo de telecomunicações desde 2016 (já liderava a unidade ainda no tempo da PT Inovação), faz um balanço destes anos ao Dinheiro Vivo. O Altice Labs conta com mais de 800 engenheiros, entre Portugal e Brasil, e exporta tecnologia para 60 países, servindo 300 milhões de pessoas. Que balanço faz destes seis enquanto Altice Labs? A nossa atividade como Altice começou de forma cautelosa. Atravessávamos uma mudança muito grande, com novos acionistas que não nos conheciam, tinham alguma desconfiança sobre a nossa capacidade - e curiosidade sobre o que poderíamos vir a fazer -, mas fomos vencendo isso. Talvez estes seis anos tenham sido os melhores do Altice Labs, contando também com os anos em que éramos PT Inovação..Porquê? Porque houve um match entre o que os acionistas da Altice queriam e a nossa capacidade. Encontraram aqui uma capacidade muito mais musculada do que aquela a que já estavam habituados a ter nas suas operações e foi uma questão de tempo para mostrarmos que correspondíamos, e viemos a superar as expectativas que tinham. E isso tem sido visível, temos cada vez mais soluções desenvolvidas no Altice Labs que vão para qualquer operação no grupo, seja em Portugal, Estados Unidos, França e Israel. E, agora, até estamos a iniciar projetos mais estruturantes que, talvez, venham a suportar todas as operações da Altice nos próximos anos de uma forma ainda mais profunda..Que fase atravessa, agora, o Altice Labs? Diria que estamos a passar da entrega de produtos e aplicações complementares aos serviços, para a entrega de soluções transversais e core do grupo Altice. Obviamente que quando entregamos tecnologia de fibra ótica - e toda a fibra ótica do grupo é desenvolvida aqui - isso já é, de certa forma, estruturante, mas, agora, vamos ter dentro da operação um nível intervenção que ainda não tínhamos..Falava de projetos estruturantes? Que projetos são esses? Os projetos estruturantes são aqueles em que mexemos no core das operações, como sistemas de billing [faturação], sistemas de suporte às operações, de análise de qualidade de serviço... Tudo o que suporte as aplicações fornecidas em cima desses sistemas. Estamos a intervir em funções transversais aos sistemas de operação e às plataformas de serviço, independentemente da tecnologia e do serviço em causa..Trata-se de projetos apenas internos, para transformar a operação do grupo, ou também serão canalizados mais tarde para os clientes? São projetos dentro do grupo, mas que são constituídos por um pacote de aplicações e produtos que já oferecemos [ou seja, vendem-se] a clientes. Por exemplo, no caso dos sistemas de suporte às operações, que servem para analisar o desempenho de uma rede, assegurar a qualidade de serviço e fazer a provisão de clientes e serviços, e que suportam a construção de rede, já estamos a fornecer para fora. No Brasil, ganhámos no ano passado [2021] um concurso internacional para para servir a Fibrasil - uma empresa de infraestrutura de fibra ótica da Telefónica e de um private equity do Canadá [fundo CDPQ] - com sistemas para a infraestrutura que é fornecida para a rede da própria Telefónica, no Brasil, mas também para outras empresas. E já estamos a estudar como levar esse projeto para outros mercados, havendo já interessados na Europa e nos EUA..O Altice Labs está mais focado em inovar sistemas de comunicação ou em inovar na infraestrutura? O nosso foco tem de estar nas duas vertentes. Para termos aplicações que surpreendam e adicionem valor junto dos clientes elas têm de estar em infraestruturas também de grande valor. É o caso do 5G. Há aplicações que estamos a trabalhar que hoje têm um valor maior porque temos na base uma infraestrutura 5G. Por isso, não podemos desagregar as duas áreas. Se estivéssemos focados só na parte aplicacional estaríamos dependentes da disponibilidade da infraestrutura..O Altice Labs é uma das montras da inovação em Portugal. Qual é o panorama atual deste ecossistema de inovação? Tem havido um crescimento e um amadurecimento fantástico. As startups que aparecem já têm equipas multidisciplinares. Já não são só os engenheiros que criam startups, já aparecem startups com várias dimensões - até porque precisam de ter diferentes visões - e isso tem contribuído para o crescimento deste ecossistema. Aliás, o número de unicórnios portugueses - se isso for uma medida - é um indicador de que estamos à frente de muitos outros países de maior dimensão, tendo em conta o número de habitantes no país. Devemos estar satisfeitos, e também há uma produção de conhecimento de muito boa qualidade..Mas Portugal potencia bem essa capacidade de inovação? Aí temos muito que trabalhar, ainda. Precisamos de alguns eixos de desenvolvimento e de agregação. Mesmo as incubadoras que existem precisam de se alinhar melhor..Faltará um planeamento nacional ou um programa estrutural que potencie a tecnologia portuguesa? Um programa estrutural seria bom, mas também falta iniciativa própria. É preciso ter a iniciativa de encontrar parceiros, não podemos esperar por um programa nacional, e também não podemos esperar que o Estado mapeie todos os potenciais parceiros, onde estão e o que procuram. É preciso algum inconformismo e ir à procura..No meio desse cenário, assiste-se a um dispersar do talento português. O Altice Labs sente também a escassez de talento? Claro, e também sentimos a saída de talento para fora, mas temos de desdramatizar o tema. Há uma escassez de talento, mas também há muito talento cá dentro que é preciso potenciar e, às vezes, descuramos essa faceta de pegar nas pessoas e potenciá-las novamente, fazer um upskill..O que faz o Altice Labs para superar a situação? Nós temos uma forma de trabalhar sui generis, vamos desafiando as pessoas com projetos e objetivos em áreas não muito confortáveis face ao que estão habituadas, precisamente para alargar horizontes e colmatar falhas nessas áreas. É a criação de competências on the job, de certa forma. E depois há a mobilidade interna, que é uma das melhores maneiras de retirar o melhor potencial de cada um..Qual é a dimensão do Altice Labs atualmente? Somos cerca de 700 pessoas em Portugal, mais 150 no Brasil..Há planos para mais recrutamento? Sim, até por causa dos projetos que estamos a desenvolver. Temos a necessidade de mais 100 pessoas, pelo menos..Essa necessidade é para ser respondida até quando, até ao final do ano? É para hoje..Qual é o peso do Altice Labs no universo Altice? Quanto é que este braço tecnológico contribui para o volume de negócios do grupo? É pequeno, se considerarmos que o grupo todo tem uma receita entre 25 a 30 mil milhões de euros e que o grupo Altice Portugal tem uma receita a rondar os 2,4 mil milhões. Só muito depois vem o Altice Labs. Mas posso dizer que o peso do negócio internacional do Altice Labs tem vindo a crescer. Terminámos 2021 com o negócio internacional a representar 73% do total de vendas, e agora esse peso rondará os 77%. Temos cada vez mais um pendor internacional, ou seja, somos uma porta de exportação de tecnologia e conhecimento do grupo..O Altice Labs gerou um grande impacto quando se fixou no interior do país, hoje têm vários polos. Há planos para mais polos noutras regiões do país, no futuro? Neste momento, já temos polos na Madeira, na Ilha Terceira [Açores], em Viseu e no Algarve. Essa possibilidade de criarmos mais polos existe, está sempre em cima da mesa. Aliás, temos pedidos de muitas câmaras municipais, mas nós só iremos para algum sítio se houver possibilidade de nos ligarmos a um politécnico ou universidade.