Anacom quer reformulação da tarifa social de internet

Sandra Maximiano revelou esta quarta-feira, numa comissão parlamentar, que há apenas 577 agregados de baixos rendimentos que beneficiam da tarifa.
Sandra Maximiano, presidente do conselho de administração da Anacom. Foto: Miguel A. Lopes / Lusa
Sandra Maximiano, presidente do conselho de administração da Anacom. Foto: Miguel A. Lopes / Lusa
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A Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) quer reformular as condições da tarifa social de internet (TSI), a fim de aumentar o universo de famílias que efetivamente beneficiam dela. Criada em 2022 para um universo de cerca de 800 mil famílias carenciadas, a TSI chega apenas a 577 agregados. 

O número de beneficiários foi avançado esta quarta-feira por Sandra Maximiano, presidente do conselho de administração da Anacom, durante a comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas e Habitação. 

"Reconhecemos que são poucos utilizadores", afirmou. "A ambição é que pudessem ser mais", comentou sem procurar justificar o número de adesões tão abaixo das expectativas. 

No entanto, a responsável pelo regulador das comunicações comprometeu-se a encontrar soluções para aumentar o número de beneficiários.

"Achamos que devia de haver uma adequação da oferta a estes serviços", defendeu, comentando que a velocidade da internet e os dados disponibilizados "não satisfaz a população abrangida" e que existe um "estigma de aderir à tarifa".

"Temos feito algumas propostas para potenciar a adoção desta tarifa", referiu, embora sem revelar o teor das mesmas ou as razões para não terem sido adotadas.Sandra Maximiano salientou que a readequação da oferta da TSI deve ser feita "no âmbito da literacia digital"

A tarifa social de internet está longe de ser um sucesso entre as políticas públicas. A medida foi desenhada por um dos executivos de António Costa, quando o ministro da Economia era Pedro Siza Vieira, para garantir o acesso de consumidores com carências económicas a um conjunto de serviços de internet, num modelo idêntico ao que já existia com a tarifa social de eletricidade.

O anterior Governo, através do secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo, chegou a prometer "maior efetividade" da TSI, através do estudo de "várias alternativas de melhoria" e do diálogo com os operadores. A promessa ficou por cumprir.

A equipa de Mário de Campolargo chegou a reunir com os operadores, mas, sabe o Dinheiro Vivo, as telecom rejeitaram as pretensões do então governante, que esperava que uma melhoria da TSI fosse suportada pelas empresas do setor.

A TSI têm um custo mensal de 6,15 euros, mas os operadores podem exigir um custo de ativação máximo de 26,38 euros, que pode ser diluído em 24 prestações mensais. A TSI permite um tráfego de 15 gigas mensais, com velocidades de 12 megabits por segundo (Mbps) de download e de 2 Mbps de upload. O plafond da tarifa deve permitir o acesso a um conjunto de serviços mínimos como: correio eletrónico; motores de busca que permitam procurar e consultar todo o tipo de informação; ferramentas de formação e educativas; jornais; plataformas de comércio eletrónico; plataformas para procura de emprego; serviços bancários e da Administração Pública; redes sociais e videochamadas.

Têm acesso à TSI todos os agregados familiares com baixos rendimentos ou necessidades sociais, incluindo: beneficiários do complemento solidário para idosos; beneficiários do rendimento social de inserção; beneficiários de prestação de desemprego; beneficiários do abono de família; beneficiários da pensão social de invalidez ou do complemento da prestação social para inclusão; agregados com rendimento anual igual ou inferior a 5 808 euros, acrescidos de 50%, por cada elemento que não disponha de qualquer rendimento, até um limite de dez pessoais; e beneficiários da pensão social de velhice.

Em 2022, a Anacom chegou a entregar ao Governo um estudo sobre a TSI, concluindo que "um dos principais obstáculos à adesão à TSI prende-se com o peso relevante da iliteracia digital entre as camadas de população a quem a medida se destina, além de considerar que "os principais obstáculos à adesão à TSI poderão relacionar-se com a elevada preponderância de contratos com períodos de fidelização alargados, que impedem os utilizadores de rescindir os respetivos contratos sem custos, de forma a aderir à TSI".

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