Aquapura: como o melhor hotel do Douro afundou

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António Mexia, Diogo Vaz Guedes e Miguel Simões de Almeida fundaram o grupo Aquapura Hotels com objetivos ambiciosos: investir mais de 200 milhões de euros em sete projetos até 2010. Mas a realidade é que o único hotel do grupo, inaugurado em 2007, entrou agora em Processo Especial de Revitalização (PER) e está a ser gerido por um fundo imobiliário, a Explorer Investments, que procurará viabilizar o Aquapura Douro Valley e salvaguardar os 80 postos de trabalho.

Com 50 quartos, três restaurantes, centro de reuniões, SPA de 2200 metros quadrados e 21 moradias de luxo, o investimento de 25 milhões de euros foi considerado PIN (Projeto de Interesse Nacional) pelo governo de José Sócrates. O Plano de Desenvolvimento Turístico do Douro, desenvolvido pela Estrutura de Missão Douro, referencia o imenso potencial turístico da região, onde a falta de oferta hoteleira e de qualidade era um entrave ao aumento do número de turistas. Então, o que falhou?

"É um problema de dimensão e de estratégia", diz Mário Ferreira, o bem sucedido empresário dos cruzeiros no Douro que esteve para investir no Douro Marina Hotel, em Mesão Frio, também classificado como PIN, mas inviabilizado por burocracias, como, por exemplo, a aprovação do Plano de Pormenor da Rede, que demorou nada menos de seis anos.

"As unidades hoteleiras no Douro têm qualidade, são bonitas e estão bem localizadas. Mas não têm dimensão. E, sem uma estratégia de promoção conjunta eficaz e eficiente, com capacidade financeira, logística e know-how para se promoverem internacionalmente, de nada servem os prémios e distinções", explica o empresário.

"O Plano de Desenvolvimento Turístico do Douro dizia que o sucesso dependeria de haver pelo menos três grandes polos de atração turística que servissem de motor para as unidades hoteleiras mais pequenas que surgiriam como cogumelos em torno desses polos", adianta. "Ora, não é com unidades hoteleiras de 40 ou 50 quartos que se consegue dinamizar o turismo. É preciso uma outra dimensão, unidades com 140 a 160 quartos e auditório para eventos até 400 pessoas, que depois se espalham pela região e fomentam o negócio dos cogumelos", refere Mário Ferreira.

O Aquapura Douro seria, então, um "cogumelo" nascido antes do tempo e em má altura, uma vez que a crise se seguiu à inauguração. Mas notícias recentes referem os resultados positivos do Aquapura Douro em 2012 como sinal de viabilidade.

"Houve muitos projetos [hoteleiros] no país que tiveram problemas a partir de 2008 devido à componente imobiliária e julgo que isso estará também na base dos problemas do Aquapura Douro. É normal que haja mudanças de propriedade e do tipo de exploração, por isso o Processo Especial de Revitalização não tem particular significado", comenta Luís Veiga, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal. "Este ano, as unidades diferenciadoras em regiões menos maduras do ponto de vista turístico vão sair-se bem", prevê.

Além do investimento no Douro, o grupo Aquapura tinha planos para mais um hotel em Lisboa e outro em Monsaraz, junto ao Alqueva. Do primeiro, nunca mais se ouviu falar, e do segundo há apenas os projetos do arquiteto Aires Mateus. Uma obra inovadora do ponto de vista arquitetónico na Herdade do Barrocal, com 70 quartos, 85 villas e 600 hectares de agricultura biológica cuja construção esteve marcada para 2008, mas, tal como com outros projetos do Alqueva, não se concretizou.

Entretanto, correram mal também os planos de expansão do grupo para o Brasil. O Aquapura Itacaré seria o primeiro hotel de seis estrelas do país, foi idealizado por Diogo Vaz Guedes e custou 30 milhões de euros. No ano previsto para a inauguração (2007), a obra foi embargada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. O projeto continua abandonado. No ano passado, anunciaram outro investimento de 122 milhões de euros no Ceará. O projeto Península das Águas Belas terá hotéis, residenciais, campos de golfe e um parque temático da Terra da Mónica, a inaugurar em 2014.

Em Portugal, tudo parece depender agora da exploração que o fundo de investimento mobiliário conseguir fazer do Aquapura Douro Valley. O Dinheiro Vivo tentou saber, junto do administrador e diretor do grupo, Miguel Simões de Almeida, qual será a estratégia futura, mas até ao fecho desta edição não conseguiu obter qualquer contacto. "O Aquapura Douro tem um potencial muito grande. Se acordarem a tempo e mudarem a estratégia", avisa Mário Ferreira.

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