Arretez. STOP.

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Na minha primeira coluna mencionei que não irei adoptar a postura de dizer mal de Portugal a todo o custo. Ao invés, prefiro - com a distância de quem viveu e trabalhou num país do Norte da Europa 11 anos - olhar para o que temos de melhorar a muito curto prazo, para o que considero premente a médio prazo, reconhecendo também aquilo que, quanto a mim, tem melhorado em Portugal.

Considero que somos feitos daquilo que ouvimos, vemos e lemos e das escolhas que fazemos com o conhecimento que, assim, vamos formando.

Um das coisas que mais tenho ouvido, visto e lido é que Portugal já não é dos Portugueses, que há turistas e estrangeiros por todo o lado, que tudo está extraordinariamente caro em Portugal, que os salários não aumentam desde o início dos anos 2000 e que os nossos cérebros são forçados a emigrar.

Se é verdade que isto é inegável e que nos entra pelos olhos dentro, não consigo concordar com a parte de ser mau haver tantos estrangeiros (sejam turistas ou residentes) em Portugal.

É, simplesmente, uma consequência do País que temos. Um país seguro, com sol, com uma história que deve ser mantida e preservada e que, por não ter grandes recursos naturais (para além do nosso extraordinário Mar) nem grande produção industrial se baseia (porque disso necessita e muito!) no turismo. Podemos questionar se as políticas adoptadas (ou a falta delas) são as melhores para dotar o nosso país de maior robustez e valências a nível de produção industrial ou exploração de recursos de energia renovável. Mas essa questão vem a montante. A vinda dos turistas e dos estrangeiros é uma consequência de (ainda) sermos um país barato (para quem vem de fora) e acolhedor. E só nos dá visibilidade.

Ainda que não pelas mesmas razões, o fenómeno das cidades se tornarem excessivamente caras para os seus próprios habitantes não é exclusivo de Lisboa. Acontece há décadas noutras cidades. Em Londres viver na Zona 1 da cidade é proibitivo há décadas, nenhum Londrino almeja tal coisa. O mesmo se diga de Paris. E até mesmo do Luxemburgo, onde os salários são elevadíssimos.

É apenas outra coisa em que vamos com alguns anos de atraso e que existe há muitos anos noutras cidades.

Pelos dados do INE e do Banco de Portugal, em 2022 alcançaram-se 21,1 mil milhões de euros em receitas geradas pelo turismo, montante  109,7% acima do verificado em 2021 (sendo os principais mercados o Reino Unido, França, Espanha, Alemanha e EUA).

Se não considerar apenas o turismo e pensar em estrangeiros que vêm residir para Portugal, vejo que a chegada de cidadãos estrangeiros com poder económico só pode ter um impacto positivo no desenvolvimento e melhoria de certas regiões em Portugal. Atraem investimento em infraestruturas - como construção ou renovação de edifícios, estradas, espaços públicos e áreas verdes - o que acaba por contribuir para a melhoria das zonas e para a criação de espaços mais atrativos para a população, em geral. Adicionalmente, os estrangeiros que buscam lugares com boas condições de vida e conforto podem atrair a atenção de (mais) turistas, levando ao desenvolvimento e maior exigência de serviços turísticos, comércio local e criação de emprego.

Cascais, Lisboa, a Comporta, Melides, o Algarve, são apenas alguns exemplos disto. A chegada de estrangeiros que valorizam e apreciam o nosso património cultural ainda vem incentivar a sua preservação e valorização. Isto gera investimentos em projetos de restauro e conservação, além de criar iniciativas para a promoção e divulgação cultural dessas regiões. Já para não falar do estímulo ao empreendedorismo local: muitos estrangeiros com bom gosto e poder económico possuem habilidades e conhecimentos específicos em áreas como design, arte, gastronomia e hospitalidade. Isso pode gerar oportunidades para o desenvolvimento de pequenos negócios locais, trazendo inovação e diversidade à economia regional. O Alentejo e o Douro são palco de inúmeras iniciativas deste género.

Não menos importante, Portugal (a par com a Europa, mas abaixo da média Europeia) tem enfrentado desafios demográficos, com uma população em envelhecimento e uma taxa de natalidade baixa. A vinda de estrangeiros pode ajudar a preencher lacunas no mercado de trabalho, garantindo assim a sustentabilidade económica e a continuidade de serviços essenciais. Com a chegada de estrangeiros em idade reprodutiva, a taxa de natalidade em Portugal pode aumentar, ajudando a mitigar os problemas demográficos futuros.

Arretez. Stop. Deixem vir quem nos está a ajudar.

Agora, por favor, foquem-se urgentemente num novo aeroporto que faça jus a este número de chegadas e aos inúmeros estudos que já foram feitos e pagos pelos contribuintes Portugueses...

Country leader do TMF Group em Portugal

(Nota: a autora escreve seguindo o Antigo Acordo Ortográfico)

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