
Vamos falar sobre captação e retenção de talento em Portugal. Qual é o ponto de situação, em 2024, destas dificuldades na contratação em Portugal?
Este é um dos temas que está em cima da mesa, todos os dias, no emprego em Portugal. Como é que atraímos o melhor talento? Como é que não deixamos fugir o melhor talento? O que é estamos a fazer por isso? É um desafio. Não vai mudar no futuro. É um desafio de 2024, mas já era um desafio nos últimos anos em Portugal.
Mas vai piorar?
Eu diria que, neste momento, talvez o que estejamos a sentir é que as próprias empresas estão a retrair-se um bocadinho na contratação e isso talvez esteja a dar aqui uma perspetiva de que há mais de talento disponível, na perspectiva mais qualificada, vamos chamar assim. Mas temos efetivamente um desafio em Portugal de disponibilização de talento, de talento disponível para trabalhar em funções muito específicas, muito especializadas. E isso tem a ver com um conjunto de fatores.
Tais como?
Nós viemos de anos onde muita gente passou pela pandemia e foi obrigada a reconverter-se noutras profissões. E isso, obviamente, foi um grande desafio nas profissões muito especializadas e menos qualificadas. Mas também trouxe outra realidade, que é trazer perfil muito qualificado para Portugal, mais sénior, que, por via do novo modelo de trabalho ou dos novos modelos de trabalho, consegue estar instalado em Portugal a trabalhar noutras áreas ou em Portugal a trabalhar para outros países, noutras áreas.
Estamos a falar de um movimento incontornável e inevitável? Vamos continuar a formar nas nossas universidades e nas nossas instituições de ensino jovens estudantes portugueses que vão para fora e vamos importar de outras nacionalidades para cá?
Eu diria que não é um modelo que vá funcionar para sempre. Notou-se mais agora, nestes últimos anos, principalmente por causa desta mobilização do escritório. Mas agora também estamos a ver que está a assentar. O emprego está a assentar, as formas de trabalho estão a assentar. Estamos a voltar, em grande parte, a alguns modelos de trabalho mais ligados ao tradicional. Mas um modelo muito mais equilibrado. Essa parte acho que vai atrasar um bocadinho a perda de talento, na perspetiva em que podemos trabalhar em qualquer lado do mundo. Agora, obviamente, também temos um desafio para ficar com o melhor talento. é também termos os melhores empregos. E isso tem muito a ver com aquilo que é a nossa capacidade de atrair investimento.
Os melhores empregos também têm melhores salários, certo?
Os melhores salários vêm com os melhores investimentos. E Portugal, efetivamente, ainda continua a ser um país que está a atrair algum investimento. Recentemente, num estudo da EY, falávamos em estarmos no sétimo lugar. E apesar de termos passado do 6º para 7º, continuamos a sair dos países do top dez que trazem mais investimento internacional. E isso é bom, porque é com esse investimento e com essa capacidade de criar novos postos de trabalho, novos empregos mais qualificados, que também vamos reter as pessoas mais qualificadas. E, obviamente, é importante todas as políticas, sejam elas fiscais ou de outro qualquer tipo, que fazem com que seja interessante neste momento reter estas pessoas em Portugal e ficar com os melhores, obviamente com aquelas mais qualificadas.
Claro que as empresas também têm que se profissionalizar na forma de captar e reter talento. Quais são os melhores conselhos que a Multipessoal pode dar neste aspeto?
É verdade, esse é efetivamente um desafio. Primeiro deves vender aquilo que tens real, aquilo que é, vender a verdade. Porque a pior experiência que podes fazer passar a um colaborador ou um candidato, é que aquilo que estás a oferecer não corresponde à verdade, porque depois é facilmente percetível.
Com o mercado como está ele rapidamente vai embora.
Muito rapidamente. E essa mensagem vai funcionar contra ti. Por isso, toda a parte do employer branding; partilhar aquilo que é bem feito na organização; fazer o desenvolvimento das políticas da organização para conseguir atrair o talento para aquilo que ele procura neste momento. Obviamente, todos nós procuramos em primeiro lugar o salário e depois vem tudo o resto.
Ainda é assim, salário primeiro e depois o resto?
Ainda é assim e não vai mudar.
Aqueles relatos de jovens que chegam a entrevistas a perguntar pelo projeto, etc.
É depois do salário. Há elementos que, claramente, servem de filtro antes de se falar de salário. Há a forma como é que a empresa se posiciona, o próprio produto. São filtros. Mas em primeiro lugar, depois na escolha entre duas opções, é sempre o salário.