Assim vamos nós!

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A chamada “rentrée” costumava marcar o regresso da fase séria da política, por contraposição a uma “silly season” mais propícia a discursos ligeiros e “fait divers” consonantes com o período estival. Alguém estranho a estas convenções teria, hoje, dificuldade em distinguir aqueles períodos, tal a constância do espalhafato mediático que nos envolve. Culpa de quem?

A política tornou-se num frenesim em que é difícil, sobretudo a quem está no poder e embarca nesse jogo, não cometer uma gafe numa declaração, um descuido numa decisão, logo a seguir amplificadas pela voragem mediática viciada em “sound bites” e incapaz de escrutínios ponderados. A tal ponto que, quando alguém não aparece, mesmo que haja uma lógica para isso, é logo considerado uma inexistência política. Veja-se o caso do ministro das Finanças. Não é difícil adivinhar o que o ocupará por estes dias: preparar o orçamento ou, mais prosaicamente, os cenários orçamentais que poderão servir de base para a negociação com as oposições. Fá-lo, e bem, no recato do ministério, com a sua equipa. Precisava de fazer declarações? Ainda não. Há um tempo para tudo.

Joaquim Sarmento faz bem em não contribuir para a cacofonia que tem caracterizado a discussão sobre o orçamento, com todos, e cada um, dos partidos, acolitados pelo Governo, empenhados em propor mais despesa e menos impostos, como se não houvesse amanhã. Parafraseando o título de um filme, querem “tudo, em toda a parte, ao mesmo tempo”, numa lógica quantitativa desenfreada, como se a eficiência e a eficácia fossem um pressuposto e os recursos fossem ilimitados. O imediatismo populista prevalece. Não se descortinam prioridades, nem qualquer coerência com uma estratégia de crescimento que atendesse às questões climáticas, à pressão demográfica ou às desigualdades sociais e territoriais. Uma estratégia que ambicionasse libertar recursos desperdiçados nos alçapões da ineficiência administrativa e gerar novos, e mais, recursos que permitissem melhorar o bem-estar social, sobretudo dos mais desprotegidos. Assim (não) vamos nós!

Economista e professor universitário

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