Banco do BCP na Polónia com prejuízos no 1.º trimestre devido a créditos em moeda estrangeira

Provisões para perdas com créditos rondam os 97 milhões de euros para riscos legais relacionados com empréstimos hipotecários em moeda estrangeira.
Publicado a

O Bank Millennium, o banco que o BCP tem na Polónia, vai apresentar prejuízos no primeiro trimestre deste ano devido às elevadas provisões para perdas com créditos em moeda estrangeira, segundo a informação esta quarta-feira comunicada ao mercado.

No comunicado divulgado através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o BCP informa decisão da administração do Bank Millennium de constituir provisões de 451,2 milhões de zlótis (cerca de 97 milhões de euros, à taxa de câmbio atual) para riscos legais relacionados com empréstimos hipotecários em moeda estrangeira e indica que essas provisões levarão o banco polaco a apresentar prejuízos entre janeiro e março.

"As provisões refletem a continuação das tendências negativas nas decisões judiciais, a entrada de novos processos judiciais e as alterações na metodologia de avaliação de risco do banco. Em resultado deste nível de provisões, e apesar do sólido desempenho operacional, o banco espera um resultado líquido negativo no primeiro trimestre de 2022", lê-se no comunicado, acrescentando que mais informações serão divulgadas em 26 de abril, aquando dos resultados do primeiro trimestre.

Já em 2021, o polaco Bank Millennium teve prejuízos de 291,9 milhões de euros, que compararam com os lucros de 5,1 milhões de euros de 2020, devido a provisões relacionadas com créditos em moeda estrangeira.

O Banco Comercial Português (BCP) detém 50,1% do capital do Bank Millennium (com sede em Varsóvia, na Polónia), o qual consolida nas suas contas pelo método integral, pelo que resultados negativos da operação polaca têm impacto nos resultados consolidados do BCP.

O polaco Bank Millennium constituiu ainda, no primeiro trimestre, provisões adicionais de 48 milhões de zlótis (cerca de 10,3 milhões de euros ao câmbio atual) para riscos legais relacionados com a carteira de crédito do polaco Euro Bank (que o Bank Millennium comprou em 2019), mas referindo que esta provisão não terá impacto nos resultados líquidos.

Em 2021, o BCP teve lucros de 138,1 milhões de euros em 2021, menos 24,6% do que em 2020, sobretudo devido às provisões para perdas com créditos em francos suíços da operação da Polónia.

Sem esses encargos de 532,6 milhões de euros, o BCP teria tido em 2021 um lucro de 404,9 milhões de euros.

Nos últimos anos o BCP tem vindo a constituir importantes provisões para eventuais perdas com os processos legais referentes aos créditos em francos suíços que o banco da Polónia comercializou.

Na conferência de imprensa de apresentação dos resultados de 2021, em fevereiro, o presidente executivo do BCP disse que a operação na Polónia não está à venda, que tem um grande valor estratégico, e que o problema dos créditos em francos suíços tem de se continuar a resolver.

"Não, não é uma 'liability' [fardo], é um ativo com enorme valor estratégico, tem um problema e o foco deve estar em resolver esse problema. Respondi com isto que não está em venda", afirmou Miguel Maya.

Segundo o gestor, em momentos difíceis da atividade do BCP em Portugal, a operação polaca "foi determinante para o BCP" e que é uma operação que dá um contributo operacional "muito forte" e que "cresce em resultados, comissões, margem financeira, recursos, créditos".

Sobre as perdas com créditos em francos suíços, disse que são referentes a um "risco político-jurídico" que se tem vindo a materializar.

Em 03 de outubro de 2021, o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) considerou existirem "cláusulas abusivas" nos empréstimos feitos na Polónia em francos suíços, incluindo pelo BCP, admitindo a possibilidade de serem anulados à luz da lei europeia.

Em causa está um pedido de nulidade feito por cidadãos polacos aos tribunais na Polónia e que chegou ao TJUE relativo aos empréstimos em francos suíços por estes contraídos em 2008 na Polónia, nomeadamente créditos à habitação, que levaram a que as dívidas das famílias aumentassem aquando da valorização do franco suíço face à moeda local, o zloty.

O BCP tem dito que, desde o final de 2008, o banco da Polónia não concede créditos à habitação em moeda estrangeira a clientes que não tenham rendimentos em moeda estrangeira.

As ações do BCP subiram esta quarta-feira 1,13% na bolsa de Lisboa para 0,16 euros.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt