Banco Europeu de Investimento promete mais financiamento para "segurança e defesa"

Nadia Calviño foi ao Parlamento Europeu defender que é preciso mais dinheiro para “drones, proteção de fronteiras, sistemas urbanos”, “investimentos fundamentais para os países da linha da frente”, disse a líder do BEI.
Nadia Calviño, em novembro de 2023. Fotografia: JAVIER SORIANO / AFP
Nadia Calviño, em novembro de 2023. Fotografia: JAVIER SORIANO / AFPJAVIER SORIANO / AFP
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Na passada terça-feira, o Parlamento Europeu (PE) aprovou duas medidas de proa para canalizar mais dinheiro (um fundo de 50 mil milhões de euros) para a Ucrânia e o seu esforço de guerra e de reconstrução, bem como uma importante dotação de 1,5 mil milhões de euros para o chamado Fundo Europeu de Defesa.

No dia seguinte, esta quarta-feira, o Banco Europeu de Investimento (BEI) quis juntar-se à causa, com a sua presidente, a antiga ministra da Economia e antiga vice-primeira-ministra de Espanha, Nadia Calviño, a prometer "acelerar" nos seus programas de empréstimos muito baratos a empresas grandes, pequenas e médias e outras organizações não empresariais que atuem na área militar e da defesa de forma a aumentar o investimento (público e privado) neste setor, segundo a responsável financeira no terceiro dia da sessão plenária do PE (26 a 29 de fevereiro), que decorre em Estrasburgo, França.

A posição destas duas importantes instituições europeias surge na altura do segundo aniversário da guerra da Rússia contra a Ucrânia (a agressão começou a 24 de fevereiro de 2022) e numa altura em que a guerra entre Israel e o Hamas, que está a destruir a faixa de Gaza e a dizimar um número não verificáveis de inocentes civis, incluindo imensas crianças palestinianas, conta já com quase cinco meses de duração (a contar do dia 7 de outubro, quando o grupo terrorista Hamas fez um grande ataque contra Israel de onde resultaram pelo menos 1200 mortos, incluindo várias crianças).

É neste contexto de beligerância em crescendo que a presidente do BEI foi ao Parlamento agradecer o bom trabalho do PE e a tomada de posição (resolução) favorável dos eurodeputados sobre as atividades financeiras do Banco Europeu de Investimento – relatório anual de 2023, ontem votada e aprovada.

Calviño assumiu a liderança do BEI, um banco grossista (tem um rating máximo de AAA e empresta dinheiro barato aos bancos comerciais e a projetos de investimento nos países que cumpram os grandes objetivos políticos europeus).

Portugal tem acedido de forma profícua a instrumentos do BEI desde há muitos anos para cá. Só a título de exemplo, o BEI está a financiar uma boa parte do grande plano de drenagem de Lisboa, um contrato celebrado em 2018 pelo anterior executivo camarário, agora em plena implementação no terreno.

O tempo hoje é outro

Mas o tempo hoje é outro e a líder do BEI relembrou aos deputados em Estrasburgo que agora, uma das maiores prioridades do BEI, passou a ser "aumentar os investimentos nos setores da segurança e defesa".

"É evidente que a Europa precisa de aumentar as suas capacidades de segurança e defesa e nós já estamos a investir nelas. Nos últimos oito anos, temos apoiado projetos de I&D [Investigação & Desenvolvimento], novas tecnologias, infra-estruturas críticas, cibersegurança, espaço, tecnologias e equipamentos de dupla utilização", diz Calviño.

E exemplificou do que se trata: "Isto significa investir em drones, proteção de fronteiras, sistemas urbanos. Sei que estas são prioridades fundamentais para os países da linha da frente. A Iniciativa Estratégica Europeia de Segurança foi atualizada para 8 mil milhões de euros apenas no ano passado e até agora, apenas foram investidos 2 mil milhões de euros", explicou a economista espanhola.

"O Fundo Europeu de Investimento lançou em janeiro um novo programa de 175 milhões de euros, o Mecanismo Europeu de Capital de Defesa, para apoiar as PME [Pequenas e Médias Empresas] e as empresas em fase de arranque neste domínio", acrescentou a responsável.

Neste momento, disse, "estamos dispostos a fazer mais e melhor para contribuir para projetos conjuntos que impulsionem a indústria europeia da Defesa e reforcem a nossa capacidade de proteção e também a nossa capacidade de dissuasão face a países terceiros". Por isso, "congratulo-me muito com o apoio que a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen deu hoje aqui a esta abordagem".

"Nas oito semanas que decorreram desde que assumi o cargo de presidente do grupo do Banco Europeu de Investimento, tenho estado a dialogar com as diferentes partes interessadas. Encontrei-me com o Presidente Metsola na semana passada. Assinámos hoje um memorando de entendimento para cooperar na comunicação com os cidadãos europeus no período que antecede as eleições europeias e aprofundar a nossa cooperação, em particular com o PE. Esta será uma das minhas principais prioridades no futuro. Gostaria de agradecer sinceramente ao relator, o senhor deputado David Cormand, e aos relatores-sombra, pelo seu excelente trabalho. Penso que a resolução que estão a votar hoje é extremamente valiosa e oportuna" pois é como uma garantia de que "continuamos a apoiar programas europeus essenciais", declarou a presidente do BEI.

No relatório aprovado no PE, o relator David Cormand recorda que "a guerra de agressão russa contra a Ucrânia foi um ponto de inflexão, uma vez que alterou radicalmente o ambiente de segurança europeu e exige um aumento da prontidão em matéria de defesa e, por conseguinte, investimentos suficientes".

Salienta ainda "a necessidade de utilizar da forma mais eficaz todos os instrumentos à disposição do BEI" e pede ao Banco "que reforce o seu apoio à Iniciativa Estratégica para a Segurança Europeia e à indústria europeia da defesa, incluindo as PME, em particular para contribuir para o apoio continuado à Ucrânia".

* Em Estrasburgo, França. O jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu

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