Bicicleta inteligente ‘made in Portugal’ quer pedalar o mundo

A Lightmobie desenvolve sistemas de IA para bicicletas que medem pulso e dão informação de segurança no capacete. País lidera fabrico destes veículos a partir de Águeda, produzindo 1,8 milhões.
Bicicleta inteligente ‘made in Portugal’ quer pedalar o mundo
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Portugal, maior produtor europeu de bicicletas, vai voltar a destacar-se neste setor com o desenvolvimento de um sistema inovador a nível mundial produzido pela Lightmobie, em parceria com a Universidade de Aveiro, uma bicicleta inteligente.

A partir de Águeda, o centro nevrálgico da fervilhante indústria nacional, a Lightmobie está a desenvolver sistemas de alta tecnologia para bicletas com elevada conectividade com o meio exterior, mas também com o condutor. “A ideia é que as bicicletas estejam equipadas com sensores nos punhos do guiador capazes de medir a pulsação cardíaca do utilizador, e em função disso, parar para evitar a continuação do esforço ou aumentar automaticamente a potência elétrica para reduzir o esforço do condutor”, disse ao DN Jorge Mosca, diretor comercial da empresa, que esteve representada na Smart City Expo25 em Barcelona.

Outra inovação em curso é o desenvolvimento de um capacete que, com o apoio de Inteligência Artificial, vai ser capaz de projetar um holograma na viseira com informações de segurança, como sejam, obstáculos na via ou aproximação de veículos pela traseira da bicicleta, explicou aquele responsável.

“O objetivo é aumentar a sensação de segurança dos condutores, mas também melhorar o conforto da utilização, para que seja realmente um meio de transporte eficiente, sustentável, mas suave, que não exija um grande esforço físico”, contextualizou Jorge Mosca.

Ambos os projetos estão a ser desenvolvidos em parceria com a Universidade de Aveiro, no âmbito de um programa financiado pelo PRR para incentivar a mobilidade suave, uma meta nacional e europeia, com vista à descarbonização dos transportes. Enquanto o primeiro, relcionado com os sensores no guiador, deverá estar em condições de integrar bicicletas já entre junho/julho de 2026, o do capacete tem o seu lançamento previsto para o ano seguinte.

“São tecnologias inovadores a nível mundial e pretendemos que possam ser exportadas e massificadas em mercados europeus, nos Estados Unidos e noutras geografias”, tal como já acontece com as bicicletas produzidas pela empresa de Águeda.

A Lightmobie está integrada num grupo de empresas da área da eletrónica, como a Globaltrónica, a HFA e a Uartronica e a Light Engine, o que lhe permite controlar todas as fases de fabrico das bicicletas que produz. “Somos a única empresa nacional que produz todos os componentes das bicicletas e docas de bike sharing”, dizem os representantes da empresa liderada por José Mota. Para além das bicicletas convencionais ou elétricas, que são exportados para vários páises, a empresa fornece atualmente cerca 50 municípios nacionais com sistemas de bikesharing (bicicletas partilhadas).

E está em negociações com países como a Arábia Saudita ou a Índia, que também manifestaram interesse no seu sistema de bike sharing. Porquê o interesse? “Porque é inovador, tem tudo no mesmo sítio”, responde. “Sistema de localização GPS, Cartões RFIS personalizáveis, docas de ancoragem e carregamento, totems de controlo da estação e quiosque interativo”, exemplifica.

Em 2023, Portugal manteve-se como o campeão desta fileira, com 1,8 milhões de bicicletas produzidas em 2023, seguido da Roménia (1,5 milhões) e Itália (1,2 milhões), de acordo com dados do Eurostat, relativos a 17 dos 27 estdos que constituem o bloco europeu.

Apesar de Portugal ser o maior produtor de bicicletas a nível europeu, somos enquanto povo, dos que menos usamos a bicicleta como meio de transporte habitual, não chegando sequer a 1% da população. As questões relacionadas com a insegurança no convívio com os carros, a falta de ciclovias separadas e os declives das cidades têm sido apontados como algumas das principais razões para a fraca adesão dos portugueses à micromobilidade. Mas é também uma questão cultural e de resistência à mudança de hábitos.

“Para além das ciclovias, é também uma questão de mentalidade, é preciso mudar o chip”, considera o diretor de marketing da Lightmobie. “A bicicleta pode ser usada para distâncias curtas dentro das cidades, como ir à padaria, ao mercado, ao parque. Os executivos podem também fazer distâncias curtas da casa ao emprego, sem ficar suados, e por isso é que as bicicletas com motor e inteligentes são importantes, porque este pode ser um modo de transporte suave e agradável”.

O cluster de bicicletas em torno de Águeda é composto por empresas especializadas em várias fases do processo. Enquanto a RTE Bikes é mencionada como a maior fábrica de montagem da Europa, a Rodi, em Aveiro, é referida como o maior produtor de rodas. Já a Carbon Team, em Vizela, é o primeiro produtor de quadros de fibra de carbono fora da Ásia.

A Lightmobie “não entra no campeonato da quantidade, mas da tecnologia”, sublinha Jorge Mosca. Ainda assim, a empresa produz entre 15 mil a 20 mil bicicletas convencionais por ano e entre 2.500 a 3000 veículos para redes de bikesharing, tanto para Portugal, como Espanha, França, Estados Unidos e Canadá.

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