Blockchain para lá das criptomoedas: a tokenização de ativos reais

Publicado a

As criptomoedas têm sido tema recorrente no que diz respeito aos mercados financeiros. Em janeiro deste ano, a BlackRock, maior gestora de ativos mundial, teve autorização do regulador para lançar um ETF de Bitcoin, que em dois meses se tornou o fundo mais rápido de sempre a atingir os 10 biliões de dólares sob gestão. Assim, aquilo que começou por ser considerado um ativo exótico, é hoje uma forte opção de investimento, e que poderá cada vez mais canibalizar capital que seria aplicado em instrumentos ou ativos convencionais.

Subjacente às moedas digitais temos a tecnologia Blockchain, que pode ser aplicada noutros segmentos de mercado que não as criptomoedas. Veja-se o caso da tokenização de ativos reais, como ativos do mercado imobiliário, cujo preço pode valorizar e, em simultâneo, o próprio ativo pode ir gerando, periodicamente, rendimento para os seus detentores.

Este mercado está tradicionalmente acessível, numa lógica de investimento, apenas a investidores com disponibilidades de capital relativamente elevadas. A tokenização de um imóvel permite desde logo a sua fragmentação em tokens cujos detentores terão o direito ao eventual rendimento periódico gerado pelo ativo, assim como a potenciais mais-valias geradas com a sua venda. Terão, naturalmente, que existir contratos que definam as condições de emissão dos tokens, o tipo de controlo que os detentores terão sobre o ativo, e ainda quem irá gerir o ativo.

Vantagens de todo este processo?

  • Acessibilidade: investidores com restrições de capital ou sem fundos para adquirir o ativo na sua totalidade, poderão assim beneficiar do investimento no mesmo;
  • Liquidez: com a criação de um mercado secundário de transação dos tokens, o investidor terá maior facilidade em alienar a sua posição, num mercado tradicionalmente caraterizado pelo baixo grau de liquidez;
  • Transparência: formação de preços mais eficaz e reativa à procura e oferta, devido ao maior número de investidores e maior liquidez;
  • Segurança e rapidez nas transações, devido ao processo de validação na Blockchain.

A tokenização de um ativo real acaba por replicar o que sucede nos mercados bolsistas, em que os investidores podem, com montantes reduzidos, adquirir participações em algumas das empresas mais valiosas a nível mundial. Naturalmente que a tokenização de ativos reais exigirá regulamentação que salvaguarde o interesse dos investidores e, para isso, os reguladores deverão ter um papel ativo, mas cooperante, de forma a permitir o funcionamento de um mercado que está em crescimento.

As possibilidades de tokenização deativos reais são várias, como comprovam os exemplos já concretizados de relógios de luxo, cavalos de competição, obras de arte, e garrafas de whisky. E tudo isto pode ser sustentado pela tecnologia Blockchain que, de facto, tem muito mais utilidades do que apenas “suportar as moedas digitais como a Bitcoin”.

João Novais, docente na Católica Porto Business School

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt