Bolt prevê crescer até 20% este ano e diz que segurança é “tema basilar”

Plataforma opera em 50 países e está em Portugal há seis anos. O Dinheiro Vivo falou com o atual e os dois anteriores líderes da empresa sobre o percurso e as prioridades para o mercado nacional.
Nuno Inácio, diretor para a Região Sul da Europa, Mário Morais, diretor-geral em Portugal (no centro), e David Ferreira da Silva, gestor de projetos. FOTO: D.R.
Nuno Inácio, diretor para a Região Sul da Europa, Mário Morais, diretor-geral em Portugal (no centro), e David Ferreira da Silva, gestor de projetos. FOTO: D.R.
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Para cada 25 viagens em carros privados há apenas uma realizada por transporte de passageiros em veículo descaracterizado (TVDE), de acordo com um estudo do Programa de Mobilidade Urbana Sustentável. Alterar este rácio, desentupir as cidades e oferecer soluções de mobilidade para todos os gostos foi o que trouxe a Bolt, antiga Taxify, a Portugal em janeiro de 2018. Seis anos volvidos e com uma pandemia pelo meio, a empresa continua a ser “muito sustentável” e deverá crescer “entre 15% e 20%” em 2024, revelou o responsável da operação de ride-hailing da plataforma, Mário de Morais. No ano passado, a Bolt cresceu 50%, valor “superior ao crescimento do mercado”, que terá ficado entre os 20% e os 30%, segundo a empresa. 

O percurso, no entanto, não foi feito sem desafios. Vinda dos Bálticos para terras lusas, a startup começou por desafiar o monopólio da concorrente Uber, munida de uma equipa com apenas três pessoas. Para David Ferreira da Silva, responsável por lançar a Bolt em Portugal, a concorrência foi positiva, pois permitiu melhorar o serviço ao cliente, baixar os preços e criar melhores condições para os motoristas: “Foram esses os pontos que nos trouxeram vantagem competitiva face ao player único”.

A adaptação à legislação em vigor foi mais um obstáculo ultrapassado, recordou o agora diretor do departamento global de projetos estratégicos da Bolt Food, referindo-se à regulamentação específica para TVDE que Portugal foi um dos primeiros países a implementar.

Contudo, o maior dos desafios ainda estaria por vir e acabou por se materializar em março de 2020 com a crise pandémica. Os primeiros três meses foram os mais complexos para a operação, com viagens zero e consequente impacto nas contas, mas a recuperação também aconteceu “mais rápido que o esperado”. De facto, a pandemia acabou por acelerar o lançamento de um novo serviço, a Bolt Food, que só deveria ter chegado Portugal em 2021. Por cá, acabou por estrear-se em junho de 2020 e no espaço de apenas seis meses foi lançada em dez outros países.

No ano seguinte, os impactos ainda se faziam sentir, mas a plataforma continuou a somar “vitórias”. Em 2021, Nuno Inácio assumiu a liderança da plataforma e recebeu uma Bolt com uma quota de mercado que andava entre os 35% e os 40%, continuando a percorrer o caminho de consolidação do negócio. 
Por essa altura, estabeleceu-se também a primeira parceria com uma associação de táxis, até hoje um “caso de estudo interno pela forma como funciona tão bem”, afirmou o atual diretor regional de ride-hailing da Bolt para a Europa do Sul.

Embora a crise de saúde pública tenha “encolhido” o mercado, o negócio continuou a expandir-se e, entre a segunda metade de 2021 e o ano de 2023, cresceu 250%. “Houve um retorno mais rápido do que esperávamos, ainda que com uma base que sofreu um grande impacto”, apontou.

A utilização de trotinetes e bicicletas, que integram as soluções de micro mobilidade da Bolt, foi outro vetor de negócio que cresceu durante a pandemia, fruto da preferência dos clientes por transportes individuais. O serviço começou por funcionar em cinco cidades e atualmente já se estende a 15, mas a plataforma vai continuar a apostar na sua expansão.

O lançamento mais recente deste serviço foi nos Açores, onde ainda não há TVDE, mas a situação deverá alterar-se até ao final do ano, altura em que já se prevê haver operação em São Miguel, revelou o atual responsável, Mário de Morais. Já na Madeira o serviço de transporte de passageiros já está estabelecido na ilha principal, mas a empresa planeia incluir também o Porto Santo. Os serviços de micro mobilidade, no entanto, não estão para já disponíveis no arquipélago.

Viagens seguras

Nos últimos meses, vários foram os relatos de situações de insegurança durante viagens de TVDE, particularmente através de denúncias partilhadas nas redes sociais. No entanto, o atual responsável da Bolt reforça que as funcionalidades de segurança estão a ser melhoradas de forma contínua.

“Estamos a prevenir e queremos que as pessoas percebam isso. A perceção é muito importante, por isso queremos que haja conhecimento das ferramentas de segurança”, afirma Mário de Morais. Uma dessas funcionalidades é o selfie check, que obriga os motoristas, através de uma fotografia, a provar que são eles que estão a conduzir o carro. Além disso, todos os utilizadores têm acesso a um botão de pânico durante as viagens. Basta carregar onde diz ‘segurança’ e automaticamente surge uma opção que permite ligar de imediato às autoridades, que recebem a localização do veículo.

A Bolt segue a localização dos seus carros e contacta motoristas e passageiros se o automóvel estiver parado demasiado tempo durante a viagem, além de que se o cliente classificar o condutor com uma estrela, por exemplo, não tornará a viajar com aquela pessoa. A segurança é um “tema basilar” na empresa, assegura o responsável, garantindo que se trata de um investimento contínuo e que, apesar do “burburinho”, as pessoas “cada vez mais elegem esta forma de transporte”.

Não obstante os esforços da plataforma para garantir a segurança dos clientes, também o setor se tem mobilizado para criar novos mecanismos, nomeadamente de combate à fraude. No passado mês de julho, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), em parceria com a Bolt e a Uber, desenvolveu um portal que permite partilhar e comparar informações das cartas de condução, certificados de motorista e licenças de operador TVDE, com as que constam das bases de dados do IMT. “Há comunicação com o regulador para garantir que não há fraude e que os motoristas têm a documentação em dia”, acrescentou Nuno Inácio.

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