Adolfo Mesquita Nunes, sócio da área de Direito Público e Regulação da Pérez-Llorca, ex-secretário de Estado do Turismo e autor do novo livro "Algoritmocracia" vai falar do impacto destas tecnologias na Vodafone Business Conference, onde será um dos oradores. A 7ª edição da conferência, que também terá apresentações do futurista Andrew Grill e o líder da área de IoT da Vodafone Phil Skipper, decorre a 27 de novembro no auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. Do que pretende falar na sua apresentação na conferência?No fundo, demonstrar como hoje cada um de nós, individualmente, mas também nas nossas organizações, estamos conectados permanentemente e como as nossas vidas, como as nossas ofertas comerciais, como as nossas propostas, e como as empresas, as instituições e o Estado vão interagir connosco, presumindo a nossa conectividade permanente.E isso significa que muitos modelos de negócio vão ter isso em conta e vão nascer por causa disso. Ao mesmo tempo, isso gera desafios éticos, legais, regulatórios, e todo um novo entendimento sobre o que é e até onde se pode ir esta conectividade e aquilo que fazemos com ela, e aí entram as questões da inteligência social e dos seus limites.Vai falar um bocadinho daquilo que tem no último livro “Algoritmocracia”? Não tenho de falar muito porque não é bem o tema, embora possa nalguns casos tocar. Ou seja, mostrar às pessoas como elas estão mais conectadas do que pensam, inclusivamente quando estão a dormir, pelo menos algumas delas. E como os dados que nós transmitimos, as informações que nós transmitimos enquanto estamos conectados, permitem a terceiros oferecer, propor, vender, sugerir propostas de negócio, de vida, de associação e a quantidade de negócios que vai surgir a partir daí, mas também a quantidade de desafios e de proteções que nós vamos ter que acautelar.Portanto, no fundo é uma reflexão sobre os aspectos entusiasmantes desta conectividade, mas também uma reflexão sobre as cautelas e a escolha dos fornecedores que devemos ter, precisamente tendo em conta esses riscos e essas cautelas.O que é que isso vai exigir ao nível de liderança em Portugal, onde temos, a maioria das empresas são PMEs e muitas têm ainda um tipo de gestão muito hierárquico, muito tradicional?Eu acho que a hiperconectividade, que é o tema da conferência, é até uma oportunidade para que outras empresas, pequenas ou não, desafiem as incumbentes, porque há todo um mar de novos negócios que surgem precisamente desta circunstância.E aliás, isso é evidente no ecossistema empreendedor relativamente às questões da Inteligência Artificial, que é sobre essa hiperconectividade que a inteligência artificial vai trabalhar, surgem inúmeras oportunidades de negócio, ou seja, eu diria que é uma oportunidade mais do que propriamente uma barreira.Que tipo de negócios é que estamos aqui a falar? A partir do momento em que nós estamos hiperconectados e com os dados que deixamos, a capacidade de com esses dados se fazerem novos negócios pode passar, por exemplo, com ajudar empresas a encontrar melhor a quem devem vender e o que é que devem vender e quando é que devem vender.Por exemplo, encontrar capacidade de segmentar e personalizar melhor a sua atividade face ao seu cliente final. A possibilidade de ter prestações de serviços totalmente adaptadas ao quotidiano de cada uma das pessoas e de forma diferenciada.Por exemplo, ter um tarifário que é personalizado?Hoje, com os dados que vai ser possível ter sobre cada um de nós, vai ser possível sim ter o relacionamento personalizado, seja em termos de preços, seja em termos de propostas de conteúdos, de vendas.Parece-lhe que Portugal está bem posicionado, já que tem uma infraestrutura de conectividade que é bastante boa, para tirar partido desta nova era?Penso que sim. Portugal tem sido sempre um país ‘early adopter’ e com capacidade de aderir rapidamente a novos ecossistemas digitais. E aquilo que tem sido o enquadramento que o governo tem dado relativamente à agenda digital parece ser no sentido de aproveitar as oportunidades que a Inteligência Artificial traz para posicionar o país como um país certo para que um investimento aqui se possa fazer.O anúncio da gigafábrica de IA é também mais um sinal de que, do ponto de vista das políticas públicas, está a ser dada a atenção a estes temas.Há algum sector específico que vá falar na apresentação? Fala-se muito da indústria e da saúde, por causa da sensorização, monitorização remota de pacientes.Tem a saúde, tem as infraestruturas, tem a manutenção corretiva e preditiva, tem os transportes, tem os tarifários, tem os preços dinâmicos, tem os serviços públicos, a prestação de serviços públicos, tem a banca com o credit scoring, ou seja, tem muitas áreas.Eu acho que não há nenhuma área imune àquilo que a inteligência oficial vai fazer com os dados. Não há nenhuma área imune.Quanto às salvaguardas sobre a sua utilização, acredita que isso deve ser feito ao nível da Europa?Acredito que deve ser feito do ponto de vista regulatório pela Europa, como em alguns casos já acontece, mas deve ser feito também empresa a empresa, definindo em concreto qual é o posicionamento que querem ter sobre essas matérias, que tenha em conta a sua perspectiva ética sobre como é que se querem relacionar com os seus clientes e com os seus dados.Como é que acredita que a vida das pessoas vai mudar nos próximos um a dois anos devido a estas tecnologias?Basta pensar que o ChatGPT há três anos não existia como existe hoje. Para nós percebermos a velocidade a que as coisas estão a acontecer. Nós hoje conseguimos escrever textos inteiros ou compor uma música em pouco tempo com inteligência artificial. Isto há cinco anos era impensável. Portanto, nos próximos cinco anos será bastante incremental a transformação que isto traz nas nossas vidas.