Henrique Fonseca, administrador da Unidade de Negócio Empresarial da Vodafone Portugal, explica porque é que a operadora escolheu o tema "Hyper-connected World" para a 7ª edição da Vodafone Business Conference, que decorre esta quinta-feira em Lisboa, e como os casos de utilização existentes mostram o potencial da combinação destas tecnologias. O que é que vos levou a escolher este tema?Este ano achámos que, até dado o momento que vivemos na nossa sociedade, que era importante falar sobre como é que as organizações podem tirar partido desta hiperconectividade em que neste momento estão always on.De facto, as nossas organizações cada vez estão mais ligadas e ao estarem mais ligadas em quantidade e em termos de tempo, abre uma latitude de opções que temos que tirar partido para tornar as organizações mais produtivas, mais rentáveis, mais eficientes e mais sustentáveis. Considera que o 5G foi a tecnologia fundamental que permitiu dar este salto? Ou é a interligação de todas, IoT, IA, 5G?No fundo é um bocadinho de todas, sendo que o 5G é aquilo que cola todas elas. IoT, machine learning, cloud – todas essas tecnologias, ao serem suportadas pelo 5G, andam mais depressa, são mais fiáveis, são mais seguras, suportam maior número de dispositivos a funcionar ao mesmo tempo. Portanto, o 5G tem aqui um papel absolutamente fundamental na dinamização da utilização de todas essas tecnologias.É curioso falarmos hoje de 5G porque faz exatamente em novembro quatro anos que a Vodafone lançou o 5G em Portugal. Nós fomos muito críticos do processo e do tempo que levou a lançar o 5G em Portugal versus aquilo que se tinha passado noutros países. Mas a verdade é que, neste momento, a Vodafone Portugal está em todos os concelhos, tem mais de 5 mil antenas 5G e já chegámos a 99% da população.Portanto, o 5G hoje é uma realidade em Portugal e nós, Vodafone, orgulhamos de ser o operador que está neste momento com maior rede, mais capilar no 5G. Identificam sectores ou tipo de empresas, seja em termos de tamanho, seja em tipo de negócio, que podem beneficiar mais rapidamente da hiperconectividade?Eu diria que podíamos fazer a pergunta ao contrário. Há algum sector que não beneficie? E a verdade é que não me lembro de nenhum sector que não beneficie do 5G. Por mais estranha ou obscura que seja a indústria que nos possa vir à cabeça, há com certeza casos de utilização que podem melhorar no 5G e portanto diria que em termos de eficiência, produtividade, rentabilidade, serviço ao cliente, o 5G pode ajudar todas as indústrias. Dito isto, há indústrias como a saúde, a agricultura, as fábricas, a energia, são indústrias que tipicamente têm vindo mais à frente na utilização do 5G. Mas as smart cities ou o turismo também são dois muito bons exemplos onde nós, Vodafone, temos uma série de ‘use cases’ que temos vindo a implementar e que tiram partido quer do 5G, quer do IoT, quer do machine learning ou da realidade aumentada. Em todos estes sectores temos vindo a desenvolver ‘use cases’, quer no público, quer no privado, com empresas que tiram partido de todas estas tecnologias.Que tipo de casos no turismo?Temos vindo a trabalhar a área da analítica de dados há já bastante tempo e temos um conjunto de municípios que vêm pedir à Vodafone para nós lhes dizermos como é que, por exemplo, os turistas andam entre municípios. Ou, se fazem um determinado evento, qual é que é o comportamento das pessoas que lá vão. Até para poderem decidir se querem continuar a patrocinar o evento ou não. Imagine um município em que as pessoas vão ao evento, vão-se embora e não consomem, não ficam a dormir, nada. É um evento que tem menos interesse. Ou pessoas que, quando vão visitar uma determinada região, aproveitam e dentro dessa região visitam vários municípios. Isso pode ser uma oportunidade para esses municípios criarem, por exemplo, um passe para vários museus. Ou quando um navio de turismo chega a uma cidade, Lisboa ou Porto, por onde é que essas pessoas andam? São dados muito interessantes para o turismo desse município. Temos feito tantos projetos destes que recentemente lançámos uma plataforma de analítica que vem democratizar o acesso aos dados para todo o tipo de empresas, quer sejam grandes, pequenas ou médias. Nós trabalhávamos mais com municípios já com uma determinada dimensão, como Lisboa. Agora, com esta plataforma, conseguimos chegar a mais e democratizar este acesso.Isso usa que dados?O Vodafone Analytics usa dados anonimizados das nossas antenas. Imagine, quando há um jogo de futebol um município que tenha acesso a estes dados consegue saber em tempo real onde é que os grupos de adeptos estão concentrados e assim consegue prevenir incidentes entre adeptos. Temos um tecido empresarial constituído basicamente por PME. O que é que acreditam que é possível fazer em Portugal para consciencializar as empresas de que podem tirar partido da hiperconectividade?Nós temos trabalhado com quase metade das empresas que existem em Portugal. Queremos ser o parceiro de confiança das empresas para este salto para a digitalização. E queremos que esta digitalização não seja meramente agarrar na sua forma de trabalho e passar essa forma de trabalho a digital, seja antes uma oportunidade para as empresas poderem rever a forma como trabalham, e poderem melhorar o seu processo.Dito isto, temos um acompanhamento muito perto das empresas, tentamos conhecê-las para podermos fazer um diagnóstico, podemos fazer uma prescrição, depois podermos implementar soluções de digitalização, onde lhes damos também assistência e todos os serviços de pós-venda necessários.Por isso diria que estamos muito bem posicionados nesse campo. Adicionalmente, tentamos tirar partido do facto de sermos um grupo paneuropeu, o que nos permite antecipar tendências, mas também saber aquilo que está a passar noutras geografias e poder trazer isso para os nossos clientes, adaptando a cada uma das indústrias.E vice-versa. Algumas das inovações aqui em Portugal, como esta do Vodafone Analytics, são oportunidades para os nossos colegas que estão noutros países poderem vir cá aprender, perceber como é que determinados municípios ou determinadas entidades privadas estão a utilizar estes dados e poderem depois implementá-los nos seus países.O Vodafone Analytics foi criado pela Vodafone Portugal? Foi criado pela Vodafone Portugal. É uma plataforma web. Para grandes municípios, como o de Lisboa, temos uma API em que lhes passamos a informação ao minuto, portanto, temos essa capacidade. Para entidades mais pequenas que queiram relatórios, que podem ser uma vez ou com determinada regularidade, disponibilizamos esta plataforma.Tanto para o sector público como privado e independentemente do tamanho das empresas?Independentemente do tamanho e permite todo o tipo de estudos, como saber num dado momento, num determinado dia, quantas pessoas é que passam à porta do seu estabelecimento. Permite ajudar as entidades a decidirem aonde é que vão abrir uma loja, por exemplo. Permite estudar os fluxos de pessoas que passam à porta de um determinado estabelecimento. Permite melhorar o planeamento da ocupação ou estratégias de marketing de turismo e de hotelaria. Permite ajudar a gerir rotas de transportes e logística. Acima de tudo, a nossa plataforma tem essa grande vantagem de agora democratizar o acesso disto a entidades de qualquer tamanho.Quantas organizações é que já estão a usar?Posso-lhe dar exemplos públicos de várias entidades que já utilizam este tipo de dados, a começar na Câmara de Lisboa, passando pela Câmara Municipal de Portimão, no Alentejo temos uma série de entidades que também utilizaram, no norte do país. O Turismo de Lisboa também. Há várias entidades privadas e públicas que utilizam isto em diferentes momentos do seu tempo.A primeira entidade foi uma imobiliária, para poder decidir onde é que ia abrir as suas lojas. Já tivemos uma entidade que tem postos de abastecimento de gasolina a fazer um estudo. Tinha uma série de locais que estava a avaliar e utilizou isto para perceber quais é que eram os locais onde passavam mais viaturas, para estudar também se era um percurso casa-trabalho, trabalho-casa.Utilizamos os dados anonimizados dos clientes Vodafone, mas depois fazemos extrapolações com base nos nossos dados, com base nos raumas que estão na nossa rede, com base nos dados do censo e conseguimos disponibilizar uma informação muito rica às entidades interessadas.Têm mais algum caso concreto que achem interessante de empresas que estão a transformar-se por causa da hiperconectividade a adotar algum tipo de operação diferente?Temos aqui um conjunto alargado de entidades, por exemplo a Transinsular, que é uma empresa muito grande que faz transporte de contentores. Puseram um dispositivo Vodafone que lhes permite saber a cada momento onde é que está o contentor, se teve algum impacto ou não, e se pode ter tido impacto na integridade das coisas que transporta.Um outro exemplo é a EDP, com quem lançámos a barragem do futuro de Castelo de Bode, em que implementámos uma rede 5G à volta e depois desenvolvemos uma série de ‘use cases’ em termos de segurança, manutenção, operações críticas com drone, videoanalítica, realidade aumentada, aplicações de segurança para os colaboradores da EDP que estão a trabalhar na barragem. Isto é um bocadinho o conceito da barragem do futuro em que se estão a testar uma série de ‘use cases’ suportados por este conceito da hiperconectividade, para que a EDP possa tomar decisões sobre alargar isto a outras barragens.Um outro exemplo muito recente é a Cimpor,. Já implementámos duas redes privadas e estamos neste momento a implementar a terceira no norte do país. Já fizemos aqui em Alhandra, ao lado de Lisboa. Já fizemos em Loulé, no Algarve. Agora estamos a fazer isto na fábrica do norte, que é a hipersensorização da fábrica.Também temos, dentro da categoria das 'smart cities', vários municípios que têm soluções como a Smart Water. No fundo, é hiperconectar todo o sistema de rega – e o sistema é inteligente para saber que rega todos os dias às oito da manhã, exceto se tiver chovido nas cinco horas anteriores. Temos vários municípios pequenos que já têm acesso a este tipo de tecnologias, bem como elementos de smart energy que permitem, por exemplo, a gestão das luzes da cidade. Ou seja há uma parte da cidade que tem sempre as luzes ligadas e há outra parte que tem as luzes em mínimos, e só quando passa uma pessoa ou um carro é que passa a luzes médias. E quem diz luzes, diz o trânsito. Já temos soluções, aqui bem perto de Lisboa, em que se não passar nenhum carro durante 24 horas, o semáforo está verde durante 24 horas. Um outro que também tem tido grande sucesso é a gestão de parque de estacionamento à entrada das cidades. Há uma série de benefícios, mas há algum risco que seja preciso evitar?O facto de as empresas cada vez mais estarem 'always on' levanta preocupações de cibersegurança. Mas a Vodafone tem uma série de formas de apoiar os clientes na mitigação desses riscos. Temos muitas soluções de cibersegurança, consultoria na transformação digital para ajudar a mitigar tudo isso.Eu diria que há aqui um risco também que é: se as empresas digitalizarem processos que estão mal definidos vão continuar mal definidos. Tem que haver aqui uma preocupação para não estarmos apenas a fazer a transcrição digital das rotinas físicas ou analógicas, mas sim aproveitar a digitalização para implementar processos que sejam mais robustos e que procurem o aumento da eficiência e da produtividade. E como estamos hiperconectados, temos estudos para comprovar a necessidade desta digitalização e a importância da sua prioritização. Há alguns estudos, concretamente do Banco Europeu de Investimento, que diziam que as PME portuguesas ainda comparavam mal com as suas congéneres europeias em termos de digitalização. Isto tem a ver com um estudo específico para as empresas portuguesas em que nós aparecemos neste estudo, que é de 2023, em 6º lugar a contar do fim. Não é algo que nos possa orgulhar, mas é algo que nos mostra que há aqui um caminho a fazer.Por outro lado, o grupo Vodafone divulgou muito recentemente um estudo a nível europeu que parecia comprovar esta conclusão, que só 20% das PMEs europeias é que estavam realmente digitalizadas. Todas as outras ou ainda não tinham iniciado o seu caminho ou tinham um caminho para fazer. E este estudo do grupo Vodafone dizia que as empresas que em Portugal já apresentam um grau de maturidade digital mais competitivo são aquelas que conseguem atrair mais talento e, por consequência, pagam salários mais altos.Um outro estudo que também consultámos da Going Next, uma empresa portuguesa cujo CEO era o anterior responsável pela IDC em Portugal, Gabriel Coimbra, concluía que se olharmos para a importância que a digitalização tem no crescimento do PIB português, já tinha um peso de 13%. É mais um facto para mostrar que a digitalização realmente tem um caminho para percorrer. E este é um caminho que em Portugal devia ser mais fácil de percorrer do que noutros países, pois Portugal está claramente no top 5 na União Europeia em termos de velocidade e cobertura de redes de nova geração.Quer a nossa rede 5G, quer a nossa rede de fibra dão cartas a nível europeu. Portugal está, em termos de infraestruturas, muito bem equipado para poder apoiar as empresas portuguesas nessa digitalização. Eu diria que a Vodafone Portugal está especialmente bem equipada para ajudar as empresas portuguesas, concretamente as PME, a fazer este caminho da digitalização, para o qual, como os estudos demonstram, há um caminho a fazer e que importa fazer com segurança e com passos sustentados