Carlos Oliveira: "Não é o governo que resolve tudo, pode é dar incentivos"

Presidente da Fundação José Neves aponta planificação e aproximação entre escolas e empresas como caminhos.
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A Fundação José Neves investiu mais de 2 milhões para ajudar à formação de 290 portugueses. Que tipo de competências procuram?
Estamos já nas 300 pessoas e nos , 2,3 milhões de euros, num perfil geograficamente diversificado quer em oferta formativa (escolas) quer em cursos, que somam já 350. O que mais nos anima é que 92% de quem os faz está empregado. São as pessoas que escolhem a formação e nós tomamos decisões de acordo com a melhoria que pode trazer à sua vida. No mundo atual, as notas valem muito pouco para os empregadores, assume-se que quem termina a formação adquiriu certas competências. O que diferencia é muito a criatividade, capacidade de trabalhar em equipa, competências digitais acrescidas de outras mais socioemocionais.

E monitorizam os resultados dos que já concluíram? Como é o retorno do investimento?
Há uma muito elevada empregabilidade e aumento salarial significativo, de 8500 euros/ano a mais, o que é um bom indicador de impacto. Outro é que entre os candidatos não aprovados para o ISA (income share agreement) só 60% fizeram a formação que se propunham e dos aprovados 99% concluíram a sua formação - ou seja, estamos a ajudar quem de facto quer formar-se. Estamos motivados para continuar, mas é preciso criar mais mecanismos destes. Estamos a olhar para parceiros e para como alargar o impacto. E já temos 80 ou 90 profissionais a fazer o pagamento - é o modelo a funcionar: as pessoas ajudadas retribuem quando começam a ganhar e sentem que estão a contribuir para melhorar a vida a outros. É o fundo revolving que queríamos e que permite chegar sempre a novas pessoas.

Com mais qualificações, não há risco de fuga dessas pessoas, de emigrarem?
Destas não. O risco da emigração é se o país não resolver certas questões. Pessoas a sair por não terem oportunidades no país. Por isso é urgente corrigir os salários baixos - o que requer melhorar a produtividade. Não são mais horas, mas trabalho mais criativo, produtivo, com mais conhecimento.

Faz sentido falar na semana de quatro dias?
Tentando não politizar, porque nós queremos contribuir para uma discussão positiva... Os aumentos salariais são essenciais e é bem verdade que não é a hora mas a eficiência que faz diferença, mas há setores em que seria inexequível. A questão é que é preciso um plano, não se faz isto de um dia para o outro. Se os salários subirem 20% e a inflação continuar a disparar, não vai chegar. O que é urgente é que haja produtividade para o suportar. O nosso pecado é não nos focarmos num plano de ação concreto para resolver problemas. E não é o governo que resolve tudo, nem faz sentido que o seja, numa economia de mercado, pode é dar incentivos - desburocratização, simplificação e que os empresários olhem para o Estado só como simplificador e não como a solução para as suas empresas.

Cada vez mais o que conta são as competências, não a profissão. Nesse novo paradigma, a aprendizagem ao longo da vida é uma necessidade crescente?
Também tem de haver alinhamento entre a educação e as necessidades do mercado de trabalho. O mercado modificou-se em covid, subiu muito um requisito mais alargado de competências digitais, há dinamismo de procura por empregos qualificados e digitais e também de competências mais transversais - comunicação, criatividade, trabalho em equipa...

Fazia sentido promover ativamente uma ligação mais íntima entre empresas e escolas?
Sem dúvida. Temos um desafio grande em Portugal e é algo que a FJN promove: não fazer mais horas de escola mas promover a prática, a interação. Não é necessariamente uma questão de grau, são formações de curta duração que entreguem competências específicas e ajudem as pessoas a desenvolver-se ao longo da vida, ir ganhando competências. Em vez de olharmos para profissões, temos de começar a ver clusters interligados de profissões, e ter estratégias de curto, médio e longo prazo, com atenção às tendências mundiais.

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