O Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, vai, finalmente, lançar o concurso internacional para arrendar a privados os terrenos adjacentes às suas atuais instalações e neles construir e explorar um hotel de luxo e um centro comercial durante 65 anos, anunciou fonte oficial da Fundação CCB, esta sexta-feira..No próximo 10 de outubro, dia em que também será entregue ao Parlamento a proposta de Orçamento do Estado de 2024, ocorrerá, ao meio-dia, a "apresentação pública do projeto CCB - New Development 2023" com vista à "subcessão do direito de superfície para construção e exploração de hotel e área destinada a comércio e serviços (módulos 4 e 5 do CCB), pelo período de 65 anos", indica fonte oficial, em comunicado..É uma extensão de 15 anos no futuro contrato da parceria face ao que se falava em 2018: na altura, a ideia era fazer por 50 anos.."A apresentação terá lugar no dia 10 de outubro, às 12h00, no Foyer do Grande Auditório, no piso 2, e contará com intervenções do presidente do Conselho de Administração da Fundação CCB, Elísio Summavielle, do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, e do ministro da Cultura (MC), Pedro Adão e Silva", diz o novo comunicado..Há anos, desde 2018, pelo menos (vem do tempo em que o atual ministro das Finanças, Fernando Medina, era presidente da CML), que havia esta intenção de dar novo fôlego ao chamado "empreendimento CCB New Development", um projeto de ampliação (construção de mais dois edifícios, os chamados módulos 4 e 5, ao lado do atual CCB) que está previsto desde que nasceu o centro cultural, no início dos anos 90..Inaugurado duas vezes.Fez 30 anos este ano. Na verdade, o CCB foi como que inaugurado duas vezes. Primeiro, em 1992, mas muito incompleto e com pressa, de modo a servir de estandarte ao governo de maioria absoluta de Aníbal Cavaco Silva (PSD) e a acolher os eventos da presidência portuguesa da então Comunidade Económica Europeia (CEE)..Depois fechou para obras novamente, sendo inaugurado uma segunda vez, por assim dizer, a 10 de agosto de 1993, no meio de uma enorme e célebre derrapagem financeira que ficou a cargo dos contribuintes..No entanto, este projeto de grande envergadura, que vai ocupar terrenos na frente do rio Tejo, acabou por esmorecer já que as regras do "concurso internacional" pensado na altura para fazer a PPP deixavam de fora muitas empresas que podiam manifestar interesse na parceria. Todas menos o grupo Mota-Engil, o único que, em 2018, aparecia como interessado e eventualmente elegível, aquando da aprovação do Pedido de Informação Prévia (PIP) lançado pelas autoridades.."Desde a inauguração do Centro Cultural de Belém, há 30 anos, que está prevista a construção dos Módulos 4 e 5, dando assim plena concretização ao projeto inicial de Cidade Aberta, preconizado pelos arquitetos Vittorio Gregotti e Manuel Salgado", explica a Fundação.."Neste sentido, no decurso de um procedimento público internacional, que agora se anuncia, a Fundação Centro Cultural de Belém procederá à subcessão do direito de superfície dos respetivos terrenos, pelo período de 65 anos, para construção e exploração de um hotel e de uma área destinada a comércio e serviços, equipamentos que dotarão a cidade de Lisboa de uma nova centralidade, convidando habitantes e visitantes a uma permanência e fruição acrescidas da área monumental Belém-Ajuda", justifica..Em 2018, governo, CML e CCB estimavam que a subcessão pudesse dar uma renda ao setor público de 900 mil euros por ano, valor que, tendo em conta a evolução explosiva dos preços do solo e do imobiliário em Lisboa, será certamente muito superior, atualmente..Há cinco anos, este projeto público-privado, então pensado para durar 50 anos, previa ampliar o CCB, construindo mais dois módulos e novos espaços exteriores, como jardins e terraços..Segundo a CML, o futuro módulo 4 seria destinado a escritórios e lojas, com uma área bruta superior a 7.000 metros quadrados (m2)..O módulo 5 receberia os referidos hotel de luxo e apartamentos topo de gama (quase 200 quartos no total), com vista de rio, implicando uma área bruta de construção superior a 16.000 m2..Por baixo disto, mais um grande parque de estacionamento privado, claro, com capacidade para 200 automóveis ou mais..Na altura, estimava-se que o investimento em construção rondasse 65 a 70 milhões de euros..Mas, há cerca de cinco anos, o concurso internacional redundou em fracasso..Como noticiou o Dinheiro Vivo na altura, a promessa era haver meia dúzia de interessados mas o concurso para construção, instalação e exploração da nova fase de desenvolvimento do Centro Cultural de Belém, mas no fim só apareceu uma construtora: a Mota-Engil.."Analisados os documentos entregues à Fundação Centro Cultural de Belém no âmbito do presente procedimento, constatou-se ter sido entregue uma candidatura pela empresa Mota-Engil Engenharia e Construção, S.A", refere a última ata da comissão constituída para avaliar o concurso..A grande derrapagem do tempo do cavaquismo.De acordo com uma notícia do jornal Público, de 12 de fevereiro de 2006, o CCB, obra emblemática do chamado cavaquismo (governos PSD, de Aníbal Cavaco Silva), foi desde cedo polémico, quer pela arquitetura contrastante com o vizinho Mosteiro dos Jerónimos, quer pela morosidade da sua finalização e pelo custo orçamental descontrolado que acabou por implicar..Chamado de "elefante branco" (grande e de cor clara) e "pastel de Belém" (pela quantidade de anos que demorou a construir), "a obra foi contemplada no Orçamento do Estado para 1988, na altura como Conjunto Monumental de Belém, com 6,3 milhões de contos (31,5 milhões de euros)", diz essa edição do Público.."As obras começaram em setembro desse ano e terminaram cinco anos depois [em 1993], tendo acabado por custar 40 milhões de contos (200 milhões de euros)", ou seja, o CCB viria a custar seis vezes mais do que o previsto e prometido pelo governo..Usando uma ferramenta do Instituto Nacional de Estatística (INE) que permite fazer a atualização de valores ao dia de hoje aplicando a inflação registada entre agosto de 1993 e igual mês deste ano, significa que o custo desta obra terá ficado em 400 milhões de euros (preços atuais)..Seria inaugurado uma primeira vez em janeiro de 1992 para poder receber a presidência portuguesa da então CEE (Comunidade Económica Europeia), mas "voltaria a fechar em junho para que as obras terminassem".."O centro de exposições só abriria em junho e o centro de espetáculos em setembro" de 1993, ano em que foi definitivamente inaugurado, recorda o mesmo jornal.