Centeno. Prémios aos gestores do Novo Banco serão abatidos à próxima injeção de capital

É errado, mas voltou a acontecer. O NB quer pagar mais 1,9 milhões de euros aos seus nove gestores pelo desempenho de 2020, ano em que o banco somou mais 1,3 mil milhões de euros de prejuízo. Centeno está "contra", mas NB repete o que já fez no ano passado.
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Os prémios que o Novo Banco (NB) quer dar aos seus administradores pelo desempenho e disponibilidade em 2020 serão "deduzidos à chamada de capital" que vier a ser feita, esclareceu Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal e quem tutela o Fundo de Resolução, o veículo que tem metido milhares de milhões de euros dos contribuintes nos restos do antigo BES. Foi o que já aconteceu o ano passado, com as contas de 2019, aliás.

Este ano a ideia é injetar mais 430 milhões de euros em capital novo no NB por conta dos prejuízos de 2020, mas não se sabe ainda oficialmente como. Em princípio, vai ser através de um empréstimo junto de um sindicato bancário (os outros bancos presentes em Portugal).

Em resposta aos jornalistas, Centeno disse na tarde desta quarta-feira que "o valor para prémios no Novo Banco vai ser este ano, à imagem do que sucedeu no ano passado, deduzido à chamada de capital do Novo Banco que vier a ser realizada".

Ou seja, os gestores podem vir a receber como prometido (dependendo de um conjunto de condições que não são claramente conhecidas do público), o banco é que terá menos capital por conta disso.

O governador mostrou-se "contrário" à "atitude" assumida pela gestão de António Ramalho, que insiste em dar prémios quando o banco continua a depender totalmente dos outros bancos e dos contribuintes e a apresentar níveis de capital fracos e altamente expostos a esta crise.

Centeno acha mal, mas compreende que bancos queiram atrair "os melhores"

"Não acho que seja boa ideia", disse Centeno. No entanto, uma vez mais, diz que vai ter de deixar passar esta prática pois a cada banco é que compete decidir como quer pagar aos seus chefes, sendo também verdade que os bancos devem ter políticas de remuneração para captar "os melhores quadros".

Como referido, o direito a estes prémios foi atribuído a título provisório, dependendo de como corre o processo de reestruturação do banco e de outras variáveis. Segundo o NB, o pagamento desses bónus depende da "verificação de condições diversas".

Mas o Banco de Portugal insiste que "é contrário" ao pagamento de prémios no NB "num momento em que este devia pugnar pela preservação do capital", disse o ex-ministro das Finanças na sessão de apresentação do boletim económico do BdP.

Não devia pagar esses prémios para assim ter mais capital para poder emprestar às empresas e à economia portuguesa, explicou Centeno.

Além dos 2,6 milhões de euros pagos ao conselho de administração executivo (remunerações fixas), o NB diz que quer pagar mais 1,86 milhões de euros a título de prémios (remunerações variáveis) aos seus nove administradores de topo. Três deles renunciaram ao cargo no final de novembro passado, mas 'aceitaram' ficar até chegarem os seus substitutos.

Resultado: também ficaram provisoriamente com direito a estes bónus, cerca de 68.750 euros, segundo o Jornal de Negócios.

Isto acontece num momento negro do negócio do banco, Em 2020, registou mais um ano de enorme prejuízo, neste caso mais de 1,3 mil milhões de euros, o principal motivo pelo qual teve de ir pedir ajuda ao Estado outra vez.

Administradores premiados à cabeça por entrar no Novo Banco

Este aumento nos prémios reflete ainda um tipo de bónus previsto nos contratos destes gestores: de cada vez que um administrador é contratado, tem direito a um prémio de entrada (sign on bonus) no NB.

O extra de 1,86 milhões de euros visa premiar o desempenho individual e coletivo de cada administrador no ano passado, estando esse prémio dependente da "verificação de condições diversas".

Para já, o pagamento dos prémios fica em dívida. Ele será diferido para 2022, após concluída a reestruturação do banco, diz a administração de António Ramalho.

Em todo o caso, os prémios de desempenho deste ano devem ter um reforço face ao ano 2019, o que também é explicado pela contratação de mais um administrador em 2020. Em 2019, eram apenas oito.

O ministro das Finanças, João Leão, acompanha Centeno nas críticas à decisão da cúpula liderada por Ramalho, considerando que "não é adequada a prática de atribuição de prémios de gestão do Novo Banco".

Disse ainda acreditar "que o Fundo de Resolução atuará em conformidade com as decisões tomadas no ano anterior no contexto da verificação dos pressupostos inerentes ao cumprimento dos compromissos contratuais existentes".

(atualizado às 16h00 com mais informação)

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