Com as empresas a receber, a gerar e a processar cada vez mais dados, a necessidade de trabalhar a informação cresceu e a figura do gestor de dados ganhou uma relevância inédita nos últimos anos. O filósofo Thomas Hobbes foi o primeiro a escrever "informação é poder" (no séc. XVII), uma expressão que traduz hoje o papel de um chief information officer (CIO ou CISO), cujo desempenho influencia diretamente as lideranças de uma organização, de acordo com o feedback de três CIO em debate no SAP Sapphire deste ano..Não é que a gestão de dados seja uma bola de cristal, mas representa uma grande vantagem para as empresas que passaram a ter informação precisa sobre os setores de atividade e o alcance e impacto das suas operações, segundo explicaram Jane Connell, CIO da Verizon, Arthur Hu, CIO da Lenovo, e Prakash Kota, CIO da Autodesk, no evento mundial da SAP (no qual o Dinheiro Vivo está presente*).."Temos a sorte de ser CIO agora, porque há vinte anos este cargo seria um palavrão", afirmou Arthur Hu, notando que o que mudou foi a perceção e a necessidade das empresas. "Olhavam para nós como funcionários de segunda categoria, mas agora todos nos querem. "Comunidade de tecnologia da informação (TI): este é o nosso tempo", disse..A necessidade de trabalhar os dados, gerando informação - ao mesmo tempo que a protegem - não é de agora. Mas com o contexto pandémico e as sucessivas disrupções nos setores, o papel dos CIO continua a escalar patamares.."A pandemia acabou por destacar o trabalho incrível das equipas de TI, que ocorrem nos bastidores e normalmente ninguém liga desde que os sistemas [de comunicação e operação] funcionem", comentou Prakash Kota. Este gestor apontou que, agora, num contexto de ambientes de trabalho híbridos - "que não são novidade" para os CIO - "o trabalho é continuar a indagar" como a gestão da informação pode aumentar a produtividade e minimizar riscos..Para Jane Connell esse trabalho consiste em "garantir que uma empresa está horizontalmente alinhada de uma forma que nunca esteve antes". Isto é, a informação pode ser usada para colocar todos os departamentos de uma companhia ao mesmo nível - em sintonia - para um objetivo global comum. Como? "Com casos de uso e cruzamento de experiências", disse, referindo que hoje as organizações podem retirar ganhos ao observar também a informação gerada internamente pelos funcionários e cruzá-la com dados obtidos junto de quem adquire serviços ou produtos.."Um CIO pode fornecer um ponto de vista forte sobre como o futuro pode ser e, hoje, as pessoas estão dispostas a ouvir-nos mais porque a tecnologia é a nossa missão principal", defendeu o CIO da Lenovo..Os três gestores explicaram, ainda, que o trabalho de um CIO pode ser benéfico internamente ao influenciar também, por exemplo, políticas de recrutamento - segundo Prakash Kota, os dados podem ajudar a ilustrar o propósito de uma companhia, algo muito "questionado" pelos talentos mais novos que entram no mercado de trabalho. Algo que se pode revelar crucial numa altura em que a escassez de talento é um tema quente em todo o mundo..Questionados sobre temas mais tecnológicos, a responsável da Verizon admitiu que um problema difícil de lidar é a "linha ténue entre a personalização de serviços e as regras de privacidade [aludindo à proteção de dados]". Para Arthur Hu, o CIO da Lenovo, o desafio está no ransomware, um dos principais motivos para problemas de cibersegurança e, por isso, um desafio particularmente relevante, atualmente..Já o gestor da Autodesk, Prakash Kota revelou estar preocupado com o facto da ciência dos dados "estar na moda". "Hoje em dia todas as empresas são gestoras de dados", disse, desconfiando desse lado "cool", porque a gestão de dados será - opinou - "estrutural para o dia de amanhã". "E não queremos falhar, sobretudo porque o cenário dos próximos 30 ou 40 anos tem uma complexidade difícil de resolver"..Os três CIO admitiram também que há hoje inovações que não recebem o devido crédito, mas que no futuro serão decisivas. Para Arthur Hu, da Lenovo, "não há só uma" tecnologia subestimada, mas uma correlação entre várias, como edge computing, 5G e Inteligência Artificial. "Todas elas em conjunto vão alavancar a produtividade"..Jane Connell, da Verizon, corroborou o ponto e acrescentou que o mundo ainda não está a par do que classificou de "5Gital", considerando que as tecnologias mencionadas por Hu serão "transversais" ao mundo real e ao mundo digital. "Imaginem uma realidade onde o metaverso pode ser aplicado, permitindo que uma pessoa esteja no local de trabalho a atender alguém sem estar no local fisicamente", disse..Prakash Kota, da Autodesk, considerou que o que é subestimado no mundo da tecnologia é a personalização. "Todos nós gostamos de experiências personalizadas. O foco em personalizar cada experiência vai incrementar mais engagement e alavancar a inovação tecnológicas, mas, acima de tudo, vai criar valor", considerou..O SAP Sapphire arrancou na terça-feira e decorre até esta quinta-feira (12 de maio), em Orlando, nos Estados Unidos. Além do formato presencial, a organização manteve o formato digital do evento..*O jornalista viajou a convite da SAP