Jorge Rebelo de Almeida, presidente do grupo Vila Galé
Jorge Rebelo de Almeida, presidente do grupo Vila GaléLeonardo Negrão / Global Imagens

Cuba quer abrir turismo aos privados e Vila Galé está na linha da frente

Governo de Havana quer abrir o setor a grupos estrangeiros, através de contratos de leasing e de concessão da gestão. Grupo português já explora quatro unidades hoteleiras em Cuba e as autoridades do país squerem que ajude a levar mais turistas para o país.
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O governo cubano está a implementar reformas económicas com o objetivo de revitalizar o setor turístico e enfrentar a crise estrutural que afeta o país. Uma das principais medidas é a abertura do turismo à gestão privada, nacional e estrangeira, por meio de contratos de leasing e concessão de unidades hoteleiras. O grupo português Vila Galé é um dos players estrangeiros que estão a entrar no mercado cubano, gerindo quatro hotéis situados em Havana, Varadero, Cayo Santa Maria e Cayo Paredón. As autoridades cubanas esperam que o grupo liderado por Jorge Rebelo de Almeida (na foto) e outros ajudem a atrair mais visitantes portugueses e brasileiros para o país, conforme pode ler na notícia na página ao lado.

Ao que o DN apurou, o modelo de concessão passa por parcerias com os privados em que estes assumem a gestão mas a propriedade dos hotéis continua firmemente em mãos do Estado e a esmagadora maioria dos trabalhadores continuam a ser funcionários públicos.

O primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz considera o turismo “a locomotiva da economia cubana” e defende que sua recuperação exige reformas estruturais, inovação e cooperação internacional. Entre as medidas anunciadas estão a eliminação da taxa sanitária em aeroportos, portos e marinas internacionais, a autorização de pagamentos em moeda estrangeira em todas as instalações turísticas, a introdução de cartões de pagamento para turistas e residentes em hotéis, a venda de passagens aéreas em moeda forte e o leasing de instalações turísticas por operadores privados. Essas ações visam tornar Cuba um destino mais competitivo e flexível, num momento em que as receitas turísticas enfrentam forte retração. Até junho de 2025, o país recebeu 1,68 milhões de visitantes - uma queda de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A desvalorização do peso cubano (CUP) e a crescente dolarização informal são desafios centrais. Para conter a inflação, o governo introduziu cartões pré-pagos em moeda forte para empresas e instituições, destinados à compra de combustíveis e bens essenciais. A gasolina, por exemplo, passou a ser vendida exclusivamente em moeda estrangeira. Além disso, está em curso a criação de um novo mecanismo de gestão de divisas, com foco na Zona Especial de Desenvolvimento Mariel, que oferece incentivos fiscais e operacionais para atrair investimento externo.

Uma liberalização parcial

O economista e professor universitário Pavel Vidal, ex-analista do Banco Central de Cuba, disse à agência EFE que estas medidas representam uma liberalização parcial, sem que se realizem reformas profundas como a unificação monetária ou a liberalização do mercado cambial. Já Carmelo Mesa-Lago, professor emérito da Universidade de Pittsburgh, disse à BBC que sem mudanças estruturais, estas ações podem apenas adiar o agravamento da crise.

Apagões diários deixam país às escuras

A crise energética continua a afetar gravemente o quotidiano dos cubanos, com apagões superiores a 20 horas diárias em várias províncias. O governo aumentou o investimento em energias renováveis, que agora representam mais de 37% do orçamento estatal para infraestruturas. Segundo o vice-ministro da Energia, Liván Arronte Cruz, a modernização da rede elétrica é lenta, mas está a ser priorizada nas zonas mais afetadas.

A situação está a provocar dificuldades acrescidas nas vidas de milhões de cubanos que, ao contrário dos hotéis e resortes turísticos, não têm meios para comprar geradores elétricos ou painéis solares com baterias. Em províncias como Santa Clara, no centro do país, a eletricidade só tem funcionado entre a uma e as cinco horas da manhã. Muitos cubanos acordam a essas horas para realizar as tarefas domésticas que envolvam a utilização de eletricidade. O governo atribui esta situação à situação degradada em que se encontra a rede energética cubana, devido à falta de equipamentos. Além disso, países como a Venezuela, a Rússia e o Irão, que nos últimos anos têm apoiado Cuba com petróleo barato, têm agora menos capacidade para ajudar o país, devido à situação internacional.

No setor alimentar, a situação também é preocupante, tendo sido decretado o racionamento de alimentos. Foram estabelecidos preços máximos para produtos básicos como arroz e feijão.

O governo também reorganizou o comércio não-estatal e redistribuiu fundos salariais não executados para reter trabalhadores em setores críticos. No entanto, Mesa-Lago alerta que o controlo de preços sem aumento da produção pode gerar açambarcamento e fortalecer o mercado paralelo, num país onde quem tem acesso a dólares e euros consegue viver melhor do que quem utiliza exclusivamente a moeda local, como os pensionistas e os funcionários públicos.

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Gaivota quer mais portugueses e brasileiros

A Gaviota, maior cadeia hoteleira de Cuba, que explora hotéis nos Cayos, em Varadero e outros destinos, quer atrair mais turistas portugueses e brasileiros para o país. Para isso, conta com o apoio dos seus parceiros, o grupo Vila Galé, o Melia e o operador turístico Ávoris, disse o presidente da Gaviota, Carlos Latuff, durante a Bolsa de Destinos Turísticos Gaviota, que decorreu na ilha de Cayo Santa Maria, em Cuba, na semana passada.

A Gaviota já realizou uma feira no Algarve, no ano passado, para dar a conhecer o destino aos operadores portugueses. Segundo Latuff, estes eventos vão ser reforçados e o objetivo é fazer um de dois em dois anos.

Para atrair mais visitantes, a Gaviota aposta no conceito “all in”, em que os turistas passam a ter acesso não só ao seu hotel, mas também a restaurantes, discotecas e outros serviços da Gaviota em Cayo Santa Maria.

Cayo Santa Maria conta com 22 resorts de grande dimensão, incluindo o Vila Galé Cayo Santa Maria, que é gerido pelo grupo português liderado por Jorge Rebelo de Almeida. O Vila Galé tem uma forte presença no Brasil e a expansão do grupo em Cuba, que teve início em 2023, conta com vários profissionais brasileiros, com destaque para Alexandre Magno, o diretor de operações no país. Já a diretora do Vila Galé Cayo Santa Maria é a portuguesa Natália Oliveira. Ambos têm longas carreiras no Vila Galé, tendo passado por várias unidades hoteleiras do grupo.

Outro objetivo da Gaviota é conseguir aumentar o número de voos diretos semanais entre Lisboa e o aeroporto de Santa Clara, que fica a cerca de uma hora e meia de Cayo Santa Maria. Atualmente existe um voo direto, nos meses de verão, que é operado pela Iberojet. F.A.

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