Diz-me quem te gere, dir-te-ei quem és...

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Ao longo das nossas carreiras cruzamo-nos com vários tipos de perfis aos mais diferentes níveis: colegas, chefias, equipas e parceiros com quem trabalhamos em conjunto.

Cada pessoa que se cruza na nossa vida, e refiro-me agora apenas ao mundo profissional, tem um papel que pode ser mais ou menos importante e mais ou menos duradouro. Desde que entramos na esfera do trabalho somos confrontados com aqueles colegas empáticos e solidários que tornam os nossos dias melhores, com os mais invejosos que mal disfarçam e apenas querem a que a nossa missão corra mal, com aqueles que nos querem "empurrar" para baixo rejeitando qualquer ideia inovadora que partilhemos, com os chefes inspiradores e preocupados que nos levam a brilhar, com os parceiros que nos dão lugar para crescer em simultâneo com eles e com os que têm medo que lhes façamos sombra. Isto tudo faz parte e é uma grande escola. A maior, talvez.

Se é verdade que o paradigma de liderança mudou muito desde que comecei a trabalhar (há 20 anos), também é verdade que há certas inseguranças e modus operandi que ainda se mantém e que levam a certos tratamentos menos simpáticos, com os quais temos de lidar... .ainda que obsoletos.

Até aqui nada de novo.

O que me parece extraordinário e que digno de transmitir às equipas com quem trabalho, é a capacidade que todos temos de impactar e de mudar comportamentos com as nossas condutas/atitudes.

Trabalho numa empresa, num organismo vivo e com uma dinâmica e cultura determinadas por pessoas. As pessoas são a alma das empresas. Sempre.

Sendo uma empresa integrada num ecossistema, lida com outras empresas, cuja cultura é, também ela, definida pelas pessoas que nelas trabalham. Uma cultura mais ou menos tóxica é, regra geral, reveladora do tipo de liderança que está ao leme da organização. Não é difícil, ao falar com quatro ou cinco pessoas de uma empresa, perceber qual a cultura que vinga na mesma.

Sabemos que temos o poder de mudar as nossas atitudes e não as dos outros. Mas podemos influenciá-las? Sim. Há pouca gente que seja imune ao bem que recebe dos outros. O bem é contagioso, espalha-se, dissemina-se. Isto é assim na nossa vida privada (tratamos bem aqueles de quem gostamos) e não é menos verdade na nossa vida profissional. Todos os que se cruzam connosco merecem o nosso respeito. E esse respeito traduz-se, quase sempre, em algo positivo. É muito difícil um colega, um chefe, um gerente, um parceiro não ficar reconhecido com uma atitude desprendida e de genuína partilha que vá na sua direcção. Fazê-lo com naturalidade e sem esperar nada em troca é a melhor forma de ganhar a confiança e o respeito daqueles com quem nos relacionamos, independentemente do seu lugar ou posição. Quebramos uma má atitude com um elogio inesperado. A quem nunca aconteceu? O espírito de entreajuda bem intencionado adoça uma linguagem que recorrentemente peca por um tom agressivo, típico de uma cultura de apontar o dedo.

Assumir falhas, fazer perguntas são posturas que devemos aceitar como humanas. Na cultura Portuguesa há uma certa vergonha, algum pudor, em fazer perguntas por ainda tememos o julgamento dos outros.

A reflexão que faço aqui é que o mundo do trabalho não tem de ser apenas uma competição. Há espaço para todos. Se partilharmos o nosso conhecimento e com isso ajudarmos parceiros a crescer o sucesso deles será também o nosso sucesso, em nome de um bem maior. "Players" mais fortes tornam a economia mais robusta e, ao contrário do que se possa pensar, a partilha de boas práticas até levará a um aumento da concorrência, tão salutar num mercado que se quer a vibrar.

Convém deixar de lado este espírito de guardar a sete chaves aquilo que achamos que só nós é sabemos e tratarmos todos com o respeito que merecem, criando sinergias saudáveis entre colegas, equipas, empresas e ecossistemas, que possam alavancar uma economia com um pulsar de sangue novo.

O bem gera o bem.

E a cultura das empresas consideradas no seu todo, ajuda a definir a cultura de um País (ou a falta dela). Pensemos nisto.

Country leader do TMF Group em Portugal

(Nota: a autora escreve seguindo o Antigo Acordo Ortográfico)

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