Draghi, mais uma vez!

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Entre os múltiplos decretos presidenciais assinados por Trump, aquele em que indulta todos os envolvidos no assalto ao Capitólio, a quem considera reféns de um sistema corrupto, é o mais significativo politicamente, por abranger criminosos condenados pelo ataque a membros das forças policiais, 7 dos quais faleceram. Decisões como esta são próprias de um processo revolucionário, de uma mudança de regime que, para já, pode manter a aparência democrática por todos os órgãos de poder federal estarem nas mãos dos republicanos. Como contrapoder sobram alguns Estados dirigidos por democratas ou republicanos moderados e, como garantia de regime, a independência das forças armadas. Neste caso, é preocupante a demissão da chefe da Guarda Costeira, acusada, numa nota que, ao estilo de Trump, constitui um ataque pessoal, cheio de mentiras e efabulações, como a de não ter aumentado a frota disponível, para o que era preciso, como é óbvio, ter orçamento. Uma eventual purga generalizada seria mais um passo na consumação da revolução pretendida. Veremos!

Em paralelo com esta frente interna, Trump tem dado livre curso ao seu estilo de fazer negócio, ameaçando tudo e todos, União Europeia incluída. Os números do eventual défice comercial são, como é hábito, fantasiosos (7 vezes maiores do que o real). Se fossem verdadeiros, mostrariam a falta de competitividade da economia americana. Os dois únicos exemplos de que foi capaz de se lembrar (carros e produtos alimentares) são, em si, interessantes. Se no caso da indústria automóvel, evidencia a debilidade americana (nos lugares por ele sugeridos para produzir os carros que quer deixar de importar há fábricas europeias e japonesas…), no dos produtos agrícolas terá alguma razão (protecionismo, sobretudo aos agricultores franceses, o qual, noutra frente, poderá, também, pôr em causa o acordo com o Mercosul).

Talvez, afinal, haja males que vêm por bem, estimulando a correção de distorções de base corporativa, encontrando os devidos mecanismos compensatórios e de incentivo à eficiência produtiva. Draghi, mais uma vez!

Alberto Castro é economista e professor universitário

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