A Reserva Federal (Fed) deverá reduzir as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais, pela segunda vez este ano, no final da reunião de terça e quarta-feira, devido à evolução da inflação e do emprego, segundo analistas.O impasse orçamental ('shutdown') nos Estados Unidos, que parece estar longe de ser resolvido, bloqueou a divulgação de muitos dados estatísticos, sobretudo dos indicadores referentes ao desemprego e ao índice de preços do consumo pessoal (PCE) — aquele a que a Fed dá mais atenção para conduzir a sua política monetária.Na sexta-feira, o Departamento do Trabalho dos EUA divulgou o índice de preços no consumidor (IPC), indicando que em setembro subiu 3% em termos homólogos.Sem dados atualizados, torna-se mais difícil para a Fed determinar o verdadeiro estado da economia americana, especialmente no que diz respeito ao cumprimento do seu duplo mandato: atingir o pleno emprego e limitar a subida da inflação a 2% ao ano."O facto de a inflação estar acima do objetivo da Fed não deve impedi-la de cortar as taxas de juro", estimam os economistas da Oxford Economics, considerando que “a Fed ainda acredita que o risco é maior na frente do emprego do que na frente da inflação".O mercado de trabalho dos EUA tem apresentado sinais de abrandamento, particularmente nas novas contratações, o que é visto como um risco para a economia. Alguns analistas indicam que só a queda drástica dos fluxos migratórios impediu o aumento do desemprego, que atingiu 4,3% em agosto – o último mês para o qual existem dados."Teremos de nos concentrar na mais pequena indicação do presidente da Fed, Jerome Powell, sobre a tendência futura de cortes. Se a inflação se mantiver perto dos 3%, podemos considerar uma pausa na próxima reunião", agendada para o início de dezembro, alertam os economistas da Oxford Economics.Para esta quarta-feira, os analistas estão a antecipar um corte adicional de 0,25 pontos percentuais nas taxas de juro diretoras da Fed, que devem estabilizar num intervalo entre 3,75% e 4% em meados de 2026.Jospeh Gagnon, investigador do Instituto PIIE, acredita que "a inflação persistente é apenas temporária", devido ao efeito transitório das tarifas, "enquanto a fraqueza no mercado de trabalho pode ser persistente".Mas o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afastou no domingo qualquer impacto das tarifas sobre a inflação, afirmando que o preço dos "produtos importados tem-se mantido bastante estável ou em queda".O desemprego e a inflação podem não ser os únicos desafios da Reserva Federal, segundo a economista-chefe da KPMG, Diane Swonk, citada pela AFP."A Fed também deve gerir a questão da liquidez nos mercados financeiros, enquanto tenta gerir o seu balanço significativamente alargado", sublinha Swonk. Se houver risco de desaceleração económica, um banco central pode iniciar uma flexibilização quantitativa ('quantitative easing') e efetuar a compra de ativos nos mercados para injetar liquidez.Após ter optado por essa atuação durante a crise financeira de 2008 e durante a pandemia de covid-19, a Fed iniciou uma fase de aperto monetário ('quantitative tightening'), retirando liquidez e devolvendo ao mercado parte dos ativos adquiridos.Michael Krautzberger, analista da AllianzGI, concorda que o debate sobre o fim do aperto quantitativo deverá ganhar força até final deste ano, e que a redução do balanço da Fed deverá estar concluída até ao primeiro trimestre do próximo ano."Isto significaria uma mudança para condições de liquidez mais acomodatícias, o que reduziria a pressão sobre os mercados de financiamento", considera Florian Späete, analista da Generali AM, antevendo que um fim antecipado do aperto quantitativo e uma consequente melhoria da liquidez permitem perspetivar "uma aterragem suave para a economia dos EUA, à medida que a zona euro caminha para uma recuperação gradual".Após uma pausa de nove meses, a Fed retomou o ciclo de cortes nos juros em setembro, colocando um maior foco no seu mandato do pleno emprego. O presidente Jerome Powell descreveu a medida como um "corte na gestão de risco", flexibilizando a política monetária para mitigar os potenciais riscos de queda do mercado de trabalho, apesar da inflação continuar elevada..Mercados animam e euro ganha terreno ao dólar após corte nos juros da Fed