O Banco Central Europeu (BCE) deve manter as taxas diretoras na quinta-feira pela terceira reunião de política monetária consecutiva, graças à inflação controlada, com a presidente da instituição a evitar deter-se no caso francês."Nesta altura, estamos em boa posição e bem preparados para enfrentar choques futuros", disse Christine Lagarde em meados de outubro, durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington.É a mesma mensagem que os mercados esperam. Sem reviravoltas, sem mudança de rumo.Quase todos os observadores esperam, portanto, que o BCE mantenha a taxa de depósito, que serve de referência, em 2,0%, como desde julho.Isso faz com que "a reunião do BCE pareça bastante monótona: um momento de acompanhamento em vez de ação, com comentários prudentes sobre crescimento e inflação", explica à AFP Michel Martinez, economista-chefe para a Europa do Société Générale.Na frente económica, o BCE pode respirar de alívio em parte.Apesar do clima geopolítico ainda pesado, com a guerra da invasão russa na Ucrânia sem fim, "o BCE está atualmente a operar num contexto relativamente confortável" em termos económicos, explica Felix Schmidt, economista da Berenberg.Após dois anos de cortes sucessivos nas taxas, o BCE aproveita uma inflação que caiu de 10,6% em 2022, no contexto de um aumento nos preços da energia associado à guerra na Ucrânia, para valores próximos de 2% nos últimos meses, próximos do objetivo da instituição.O cenário do BCE que prevê que o indicador caia para 1,7% em 2026 continua válido, segundo observadores.Já em termos de crescimento económico, o quadro é mais sombrio.Os números esperados para a zona euro na quinta-feira deverão mostrar "um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) quase nulo no terceiro trimestre", minado por "choques tarifários" que afetam sobretudo a Irlanda, um país fortemente exportador para os Estados Unidos, e "a incerteza política em França, que sufoca a procura" e atrasa as decisões de investimento, segundo Martinez.Na Alemanha, a locomotiva parada da zona euro, o plano de recuperação votado pelo Governo de Friedrich Merz "só produzirá efeitos sobre o crescimento e a inflação a partir de 2026", acrescenta o economista.O BCE conta, no entanto, com a resiliência do mercado de trabalho e a solidez dos serviços para sustentar a atividade nos próximos meses.Por enquanto, o banco central ainda prevê um crescimento de 1,2% na zona euro em 2025, 1,0% em 2026 e 1,3% em 2027.Se a hora é de paciência, a questão-chave permanece a de um futuro afrouxamento."O ciclo de queda das taxas do BCE não está necessariamente terminado", adverte Ulrike Kastens, economista-chefe da DWS.O status quo monetário ainda poderia durar alguns meses antes de um movimento de queda esperado "em março de 2026" por Martinez, quando a inflação deve "cair significativamente abaixo de 2%, impulsionada pela queda retardada dos preços da energia e pela força do euro".Os olhares também se voltarão para Paris.Entre um jogo de equilíbrio político, incerteza orçamental e tensões sobre a dívida, a diferença entre os juros da dívida de França e os da Alemanha, que serve de referência, atingiu o nível mais alto em vários anos.Lagarde "deverá evitar comentar o caso individual da França", acredita Martinez, para afastar qualquer especulação visando uma intervenção nos mercados de títulos, apesar dos debates acalorados em Paris.Mas sem evitar completamente as questões da imprensa, a ex-ministra da Economia francesa deverá "dizer-se confiante de que os decisores tentarão reduzir a incerteza tanto quanto possível, e que cumprirão os seus compromissos orçamentais com a Europa", conclui..BCE mantém taxas de juro diretoras na zona euro