BCE preocupado com baixo crescimento da zona euro mas vê melhoria

"Depois de números de inflação a dois dígitos em 2022 e de superar um 'caminho difícil', a inflação está agora perto de 2% e esperamos que atinja o nosso objetivo a médio prazo", disse Guindos.
Luis de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt.
Luis de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt.Foto: Maria Rita Quitadamo / BCE
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O Banco Central Europeu (BCE) continua preocupado com o baixo crescimento da zona euro, embora observe uma melhoria, afirmou esta segunda-feira, 17, o vice-presidente Luis de Guindos.

"Depois de números de inflação a dois dígitos em 2022 e de superar um 'caminho difícil', a inflação está agora perto de 2% e esperamos que atinja o nosso objetivo a médio prazo", disse Guindos na abertura da conferência inaugural do evento financeiro Euro Finance Week.

"Continuamos preocupados com o baixo crescimento, mas vemos uma melhoria no ambiente macroeconómico geral em comparação com há um ano", acrescentou o vice-presidente do banco central.

A incerteza da política comercial diminuiu graças aos acordos entre os EUA e vários dos seus principais parceiros comerciais.

Os mercados desviaram a atenção "do risco de uma escalada imediata nas tensões geopolíticas para os efeitos económicos e financeiros a longo prazo das tarifas e das fricções comerciais", acrescentou.

"Embora o risco de uma guerra comercial em larga escala tenha sido evitado, os efeitos de contágio adverso além da esfera comercial destacaram os riscos para a estabilidade financeira", alertou De Guindos.

O vice-presidente do BCE apresentará na próxima semana o Relatório de Estabilidade Financeira, que analisa semestralmente os riscos para o sistema financeiro.

Guindos adiantou hoje alguns dos principais riscos para a estabilidade financeira.

O primeiro risco é fortes quedas nos preços das ações das empresas de tecnologia.

Os preços das ações caíram muito em abril devido às ameaças de tarifas do Presidente norte-americano, Donald Trump, mas desde então as bolsas recuperaram em todo o mundo e há um sentimento otimista nos mercados que aumentou ainda mais os preços de algumas ações que já estavam altos.

Guindos alertou que aumentou a concentração de mercado e a interconexão entre algumas grandes empresas de tecnologia norte-americanas, em particular na inteligência artificial.

A alta dos preços nos mercados não condiz com a incerteza política e, por isso, podem ocorrer quedas bruscas.

Os balanços dos intermediários financeiros não bancários poderiam ser pressionados se ocorrerem quedas repentinas no mercado, alertou Guindos.

O vice-presidente do BCE também mencionou possíveis problemas de liquidez em fundos abertos e o elevado endividamento dos 'hedge funds', que podem desencadear vendas em massa e gerar tensões nos mercados.

Alguns países da zona do euro têm défices orçamentais e endividamentos elevados.

O BCE calcula que "os elevados défices orçamentais vão persistir nos próximos anos", dada a necessidade de aumentar a despesa com a defesa para cumprir os objetivos da NATO, disse Guindos.

Os investidores poderiam perder a confiança na capacidade de pagamento da dívida de alguns países europeus, especialmente aqueles com uma situação política mais frágil.

O mesmo pode acontecer nos mercados de títulos soberanos a nível global, porque os EUA e outras economias avançadas também têm um défice elevado e estão muito endividadas.

Por isso, as taxas de risco de alguns países podem aumentar muito e criar tensões nos mercados de títulos de referência da zona euro e a nível global.

A fragilidade orçamental nas principais economias avançadas, incluindo os EUA, poderia aumentar a preocupação com a sustentabilidade da dívida soberana, desencadear tensão nos mercados globais de títulos de referência e motivar uma ampla reavaliação do risco soberano tanto globalmente quanto na zona euro, segundo Guindos.

Os bancos também podem ter problemas na qualidade dos seus créditos e deverão aumentar as suas provisões à medida que os efeitos das tarifas e da valorização do euro chegam às empresas às quais emprestaram dinheiro, especialmente às da indústria transformadora.

Luis de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt.
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