Bruxelas decide futuro automóvel sob fortes pressões da indústria e de países

Decisão sobre proibir ou não os carros a combustão até 2035 será esta quarta-feira. Sete países exigem adiamento, mas 200 CEO reclamam o contrário, porque adiar é atrasar a competitividade europeia.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão EuropeiaEPA/OLIVIER HOSLET
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Proibir ou não proibir o fabrico e venda de automóveis a combustão a partir de 2035? Esta é a magna questão que a Comissão Europeia deverá esclarecer esta quarta-feira,10, a propósito da revisão da sua legislação sobre emissões de CO2 e que vai definir o futuro próximo do setor automóvel.

O executivo comunitário está a sofrer enormes pressões da indústria e de alguns países para adiar as metas e, em sentido contrário, de organizações ambientalistas e empresas da transição energética para não ceder nos compromissos já traçados com vista à descarbonização na luta contra o aquecimento global.

A comissária europeia Ursula Von der Leyen já foi dando alguns sinais de que poderá ser mais flexível para dar tempo à indústria europeia se adaptar à eletrificação e reagir à feroz concorrência asiática. Mas o tema é controverso e ainda ninguém sabe ao certo em que condições poderá ocorrer essa flexibilidade.

Certo é que, para lá dos apelos dramáticos dos fabricantes europeus _que alegam questões de sobrevivência _ também os próprios Estados-membros estão a reclamar uma extensão do prazo de 2035. Pelo menos sete Estados-membros, que representam cerca de metade da população da UE, enviaram cartas a Bruxelas reclamando o fim da proibição da venda de veículos a gasóleo e a gasolina com o argumento de que, sem isso, o setor automóvel sucumbirá. Alemanha, Bulgária, Chéquia, Itália, Hungria, Polónia e Eslováquia disseram ser “imperativo” esse adiamento, sem negar no entanto a necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

Em alternativa propõem uma legislação baseada na neutralidae tecnológica que dê aos governos nacionais a liberdade de escolher a melhor forma de manter a competitividade e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões. Como exemplos alternativos apontam os veículos híbridos eléctricos, os veículos a hidrogénio e os movidos a combustível.

Aqueles países assinalaram ainda a necessidade de mais infraestruturas de carregamento para acelerar a adesão dos consumidores e um investimento em pontos de abastecimento de hidrogénio em toda a UE, apelando à Comissão para melhorar a sua disponibilidade. "A proposta da Comissão deve centrar-se principalmente nas boas práticas, nos incentivos fiscais e nos programas de apoio e refletir uma abordagem tecnologicamente neutra na promoção da transição para veículos com emissões baixas ou nulas", refere uma das cartas assinadas por todos, com exceção da Alemanha.

Falsas soluções mágicas

Mas esta posição está longe de ser pacífica. Em sinal contrário também 200 CEO de empresas europeias comprometidas com a sustentabilidade pediram a Bruxelas para manter o horizonte de 2035. Há quem considere que “quando se sabe que o futuro vai ser elétrico, adiar as metas é uma estratégia de curto prazo e de vistas curtas que terá consequências devastadoras para a competitividade futura da Europa”. É o caso de Lucien Mathieu, diretor da Transport & Environment para o setor automóvel, alegando que na realidade, “a crise do setor automóvel não tem nada a ver com a data de 2035, embora a indústria prefira apontar culpas às entidades regulatórias”. E exemplifica. “Hoje, são vendidos menos três milhões de carros na Europa do que em 2019. Isso deve-se ao facto de os fabricantes priorizarem o lucro em detrimento do volume de vendas”, diz. Com efeito, entre 2018 e 2024, o preço médio dos carros populares subiu 40%, de € 22.000 para € 30.700. E muitos fabricantes obtiveram mesmo lucros recorde nesses anos. São decisões que, segundo a Transport & Environment (maior organização ambientalista do setor), estão a ter agora consequências negativas, pois a maioria dos europeus não está a conseguir comprar um carro novo. Ursula Von der Leyen já tinha abordado há uns meses o problema do preço, manifestando a intenção de apoiar a construção de um veículo elétrico europeu que fosse simultâneamente pequeno e barato.

E na China, as marcas europeias estão a perder vendas e margens de lucro.

De acordo com esta linha de pensamento, a aposta nos biocombustíveis e veículos híbridos plug-in (PHEV) após 2035 está longe de ser uma solução mágica, não representando mais do que um alívio momentâneo.

Por outro lado, a existência de uma meta clara impulsiona e intensifica o investimento na transição energética e segurança para os negócios, sobretudo para quem está a investir muitos milhões em toda a fileira da eletrificação, desde a tecnologia ligada às baterias aos pontos de carregamento, que pode sofrer um arrefecimento.

Por outro lado, a alternativa dos veículos híbridos plug-in são mais caros do que os elétricos. E os combustíveis sintéticos custariam entre € 6 a € 8 por litro, o mesmo acontecendo com os biocombustíveis avançados, que também continuariam caros devido à sua oferta escassa.

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